Escutando qualquer rádio pela manhã surfando pelas filas intermináveis e congestionadas de cidadãos automobilizados, podemos confirmar sempre umas três coisas engraçadas.
1) A omnipresença da publicidade idiota e idiotizante.
Ás vezes parece que o único objectivo desta orgia de ligeirezas acessórias, que são as ideias passadas, é arrepiar caminho a qualquer mediação racional e ponderada. A rádio através das suas frequências é um gigantesco posto emissor que irradia emoções e ideias feitas. Tal é feito através do sensacionalismo de preços baixos, cómico de situação e jogos de poder encobertos.
«Eu é que não sou parvo.» ouve-se por aí, e ficamos a saber que ser parvo é pagar mais por qualquer tipo de objecto inútil. A boa vida passa pela ligeireza do passar do tempo e do killer instinct consumista.
Várias encenações são compostas para o efeito pelos magos do marketing. Os gradientes de glamour giram em torno de um qualquer produto ou serviço.
Velhos, mulheres e crianças são utilizados como chamarizes para vender tudo. «-Oh pai preciso muito de X…» ou «-A sua criança para ser feliz ou bem sucedida daqui a umas décadas, precisa de X ou y…» são ideias marteladas até à exaustão pelos propagandistas que conhecem muito bem onde tocar e magoar para obter o efeito desejado, seja um iogurte vitaminado ou uma outra qualquer parvoíce.
Nas representações radiofónicas e televisivas surge a personagem do provindenciador/protector, ou da mulher, quase sempre como oráculo de sapiência e sabedoria prática, reflectindo para as espectadoras a imagem que elas gostam de ter, de si mesmas. A mulher segundo o Evangelho publicitário está sempre em cima da última promoção, ou sempre a fazer contas e cálculos, acompanhando todos os produtos e serviços que providenciam a imagem de esperteza e o conhecimento de como saber viver.
2) Tagarelice assexuada
Se ativermos a nossa atenção nos pivots televisivos de um qualquer programa generalista, ou especialmente na rádio, verificamos que geralmente são elaboradas parelhas de homem e mulher, perfeitamente sincronizadas com conversas fúteis e infantilizadas de modo a não terem arestas, contradições ou que fujam dos lugares comuns, e acima de tudo, apolíticas. Apolíticas, porque o politicamente correcto, é a ideologia que dispensa todas as outras na guerra das audiências.
Dinâmicas aparentemente acasaladas e convencionais, sem chama que não brejeira, sem químicas, os próprios comentadores políticos vestidos e maquilhados de forma a mostrar as alianças conjugais que asseguram ao espectador que o falante é dos seus, responsável e consciente na fantasia colectiva que representamos uns para os outros, confirmações deste mundo virtual e cínico de onde se retira a espontaneidade e profundidade às emoções e às paixões.
A publicidade e a política usam e abusam do vocábulo ‘paixão’. Ela é instrumental a vender um carro, a vender um sofá, ou a convencer sobre um programa político, de preferência com uma linguagem corporal a condizer.
No anúncios em câmara lenta sobre futebol, ou outras serôdias peças publicitárias em que somos incentivados a seguir os nossos sonhos, desde que não passem por destruir esta ordem reinante de faz de conta e jericácá, neutro, asséptico, irreal.
Muitos programas televisivos com parelhas de sexo diferente projecta uma suposta igualdade tentandp agradar aos dois públicos, projectando uma imagem de igualdade da mulher a expensas do homem, quase sempre mal representado por homens sem arestas, ocos, também eles assexuados pese embora a brejeirice que tenta emular masculinidade, e por isso em televisão, o homem babaca é sempre suporte à modelo feminina.
Os amigos amigáveis falam de uma futilidade sem fim, com vista a entreter, compõem a sinfonia que faz acreditar num mundo monocórdico e doseado.
Por vezes emergem campanhas de publicidade caridosa, que visa unir os participantes na sua dose heroinómana de superioridade moral, dando resposta a um qualquer sentimento de precisar acreditar que se está a fazer algo para mudar o mundo.
O sal dos dias é uma repetição do mesmo através do diverso, sempre a mesma merda com diferentes roupagens, até que pelo menos as gerações se esqueçam que aquela moda se repete já.
Nesta aparência repetida há sempre lugar para uma vida com altos e baixos emocionais, provocados com a rotatividade dos artefactos que nos dão sentido à vida, e com os engodos que a eles se agarram como as férias, a família como produtos ainda, que provam que temos vidas cheias.
Nas redes sociais também se confunde esta convencionalidade pactuante com um adulto saber-estar.
Imagens de pés com vista para a praia, fotos de bebidas exóticas com a finalidade dupla de provocar inveja nos outros e mostrar que se vive a vida à grande, com «paixão»…exortações motivacionais, ou desabafos comezinhos de partir os cornos a um chefe ou colega de trabalho inconveniente ajudam a criar e manter este ambiente de morna putrefacção onde o confortável nós não quer deixar de estar.
As provocações são deflectidas porque não queremos más energias a povoar o nosso arduamente ganho mundo de faz de conta, e o provocador não terá efeito em mim.
A todos os argumentos por mais imbecis que sejam se nega o caminho do debate :« Eu acredito no Pai Natal, tens de respeitar a minha opinião.»
A televisão portuguesa apenas traduz o que lhe dão a Reuters, France Press, CNN ou BBC, num coro generalista que parece projectar a comprovação de uma globalidade que dilui as identidades num abraço fraterno. De vez em quando uma notícia idiota e sem interesse senão como exemplo de grotesco ou estupidez, oriunda dos EUA, o grande profeta, por certo em retribuição dos imensos episódios ocorridos em Portugal que por certo passam nos EUA, pelas televisões, que por lá laboram.
A merda acumula-se de tal forma que parece que todos a tomamos como o cabouco da nossa existência.
Não é possível perante esta cortina de fumo, afirmar que vivemos uma vida examinada. O resultado é que alguns vivem bem na pocilga do imediato, e outros se coçam na inquietude. Amigavelmente.
1) A omnipresença da publicidade idiota e idiotizante.
Ás vezes parece que o único objectivo desta orgia de ligeirezas acessórias, que são as ideias passadas, é arrepiar caminho a qualquer mediação racional e ponderada. A rádio através das suas frequências é um gigantesco posto emissor que irradia emoções e ideias feitas. Tal é feito através do sensacionalismo de preços baixos, cómico de situação e jogos de poder encobertos.
«Eu é que não sou parvo.» ouve-se por aí, e ficamos a saber que ser parvo é pagar mais por qualquer tipo de objecto inútil. A boa vida passa pela ligeireza do passar do tempo e do killer instinct consumista.
Várias encenações são compostas para o efeito pelos magos do marketing. Os gradientes de glamour giram em torno de um qualquer produto ou serviço.
Velhos, mulheres e crianças são utilizados como chamarizes para vender tudo. «-Oh pai preciso muito de X…» ou «-A sua criança para ser feliz ou bem sucedida daqui a umas décadas, precisa de X ou y…» são ideias marteladas até à exaustão pelos propagandistas que conhecem muito bem onde tocar e magoar para obter o efeito desejado, seja um iogurte vitaminado ou uma outra qualquer parvoíce.
Nas representações radiofónicas e televisivas surge a personagem do provindenciador/protector, ou da mulher, quase sempre como oráculo de sapiência e sabedoria prática, reflectindo para as espectadoras a imagem que elas gostam de ter, de si mesmas. A mulher segundo o Evangelho publicitário está sempre em cima da última promoção, ou sempre a fazer contas e cálculos, acompanhando todos os produtos e serviços que providenciam a imagem de esperteza e o conhecimento de como saber viver.
2) Tagarelice assexuada
Se ativermos a nossa atenção nos pivots televisivos de um qualquer programa generalista, ou especialmente na rádio, verificamos que geralmente são elaboradas parelhas de homem e mulher, perfeitamente sincronizadas com conversas fúteis e infantilizadas de modo a não terem arestas, contradições ou que fujam dos lugares comuns, e acima de tudo, apolíticas. Apolíticas, porque o politicamente correcto, é a ideologia que dispensa todas as outras na guerra das audiências.
Dinâmicas aparentemente acasaladas e convencionais, sem chama que não brejeira, sem químicas, os próprios comentadores políticos vestidos e maquilhados de forma a mostrar as alianças conjugais que asseguram ao espectador que o falante é dos seus, responsável e consciente na fantasia colectiva que representamos uns para os outros, confirmações deste mundo virtual e cínico de onde se retira a espontaneidade e profundidade às emoções e às paixões.
A publicidade e a política usam e abusam do vocábulo ‘paixão’. Ela é instrumental a vender um carro, a vender um sofá, ou a convencer sobre um programa político, de preferência com uma linguagem corporal a condizer.
No anúncios em câmara lenta sobre futebol, ou outras serôdias peças publicitárias em que somos incentivados a seguir os nossos sonhos, desde que não passem por destruir esta ordem reinante de faz de conta e jericácá, neutro, asséptico, irreal.
Muitos programas televisivos com parelhas de sexo diferente projecta uma suposta igualdade tentandp agradar aos dois públicos, projectando uma imagem de igualdade da mulher a expensas do homem, quase sempre mal representado por homens sem arestas, ocos, também eles assexuados pese embora a brejeirice que tenta emular masculinidade, e por isso em televisão, o homem babaca é sempre suporte à modelo feminina.
Os amigos amigáveis falam de uma futilidade sem fim, com vista a entreter, compõem a sinfonia que faz acreditar num mundo monocórdico e doseado.
Por vezes emergem campanhas de publicidade caridosa, que visa unir os participantes na sua dose heroinómana de superioridade moral, dando resposta a um qualquer sentimento de precisar acreditar que se está a fazer algo para mudar o mundo.
O sal dos dias é uma repetição do mesmo através do diverso, sempre a mesma merda com diferentes roupagens, até que pelo menos as gerações se esqueçam que aquela moda se repete já.
Nesta aparência repetida há sempre lugar para uma vida com altos e baixos emocionais, provocados com a rotatividade dos artefactos que nos dão sentido à vida, e com os engodos que a eles se agarram como as férias, a família como produtos ainda, que provam que temos vidas cheias.
Nas redes sociais também se confunde esta convencionalidade pactuante com um adulto saber-estar.
Imagens de pés com vista para a praia, fotos de bebidas exóticas com a finalidade dupla de provocar inveja nos outros e mostrar que se vive a vida à grande, com «paixão»…exortações motivacionais, ou desabafos comezinhos de partir os cornos a um chefe ou colega de trabalho inconveniente ajudam a criar e manter este ambiente de morna putrefacção onde o confortável nós não quer deixar de estar.
As provocações são deflectidas porque não queremos más energias a povoar o nosso arduamente ganho mundo de faz de conta, e o provocador não terá efeito em mim.
A todos os argumentos por mais imbecis que sejam se nega o caminho do debate :« Eu acredito no Pai Natal, tens de respeitar a minha opinião.»
A televisão portuguesa apenas traduz o que lhe dão a Reuters, France Press, CNN ou BBC, num coro generalista que parece projectar a comprovação de uma globalidade que dilui as identidades num abraço fraterno. De vez em quando uma notícia idiota e sem interesse senão como exemplo de grotesco ou estupidez, oriunda dos EUA, o grande profeta, por certo em retribuição dos imensos episódios ocorridos em Portugal que por certo passam nos EUA, pelas televisões, que por lá laboram.
A merda acumula-se de tal forma que parece que todos a tomamos como o cabouco da nossa existência.
Não é possível perante esta cortina de fumo, afirmar que vivemos uma vida examinada. O resultado é que alguns vivem bem na pocilga do imediato, e outros se coçam na inquietude. Amigavelmente.