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Exemplos empreendedores

1/8/2014

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I

Consta que o fundamentalismo é uma postura ideológica que assenta em dogmas, ou seja, em ideias feitas não passíveis de discussão, debate, sequer análise.

Curiosamente, este termo nasce em contexto cultural protestante, nos Estados Unidos, no início do século XX.

É um esforço de ortodoxia ou de fidelidade ao seminal, original, um movimento para a ‘pureza’. Pode assumir outros contextos, mais ou menos conscientes, os sujeitos fundamentalistas podem muitas vezes não saber que são fundamentalistas, pois acham que os dogmas que sustentam não são passíveis de debate, quer por uma questão de autoridade, quer por uma questão de percepção, na qual o dogma é tão evidente que só loucos ou mal-intencionados o podem tentar contrapor.

E assim chegamos à questão central do dogmatismo ou do fundamentalismo, a negação do discurso do outro, a negação ou supressão de tudo o que vá contra o fundamental que é assumido.

Avital Ronell, chega a encontrar nessa negação a melhor definição de estupidez.

Para muita gente, o fundamentalismo passa por ser coisa de muçulmanos com dinamite em nome do Islão. E essa fácil e confortável redução impede geralmente os utilizadores de perceber que ‘fundamentalismo’ é um tópico bem mais vasto e complexo, também a eles aplicado.

De acordo com a ideia burguesa (porque apenas sustentada na teoria, ou sem real intervenção no real) de que a democracia é o sistema do diálogo, do consenso e do debate, o fundamentalismo assume tons anti democráticos.

E no entanto o nosso regime ‘democrático’ é fundamentalista em muitas acepções. Desde logo a sua pesada estrutura, ineficiência e atrito, contribuem para a negação do discurso opositor. Experimente o leitor numa qualquer repartição pública seguir os trâmites processuais e estar coberto de razão, que de nada adiantará senão anuir com prazos ou procedimentos que vão contra o seu direito. Ou mesmo quando protesta, geralmente o protesto cai em saco roto, isto é tem o direito de uma manifestação contrária, só para dizer que tem, mas a mesma não tem qualquer efeito prático. Muitos sugerem isto como parte da cedência de liberdade e de intervenção ao corpo público, que o cidadão assina quando nasce e que faz parte do contracto social. Quem protesta contra a lei, tem de seguir determinado caminho ou enquadramento de protesto, cuja entropia processual, ou mesmo cuja corrupção potencial, transformam o cidadão em caixa-de-ressonância de um emaranhado institucional que o esmaga unilateralmente, pois a ineficiência do protesto seja ele qual for, só tem paralelo na eficiência da cobrança estatal para manter o Estado que esmaga o indivíduo, ou seja, o Estado é um corpo alheio ao cidadão, e ao seu interesse.

É óbvio que o Estado tem de manter a negação de alguns discursos para, teoreticamente, manter os interesses do maior número. Qualquer pessoa sabe que numa fila de supermercado quase nunca o cliente tem razão. E todos sabemos que numa sociedade competitiva e mal formada, o chico esperto vive para tomar vantagem das situações.

A grande desculpa para o desrespeito do escrutínio, quanto mais discurso, do cidadão, é exactamente a sujeição do particular ao bem comum. Teoricamente.

No plano do particular, nenhum de nós gosta que nos mijem na parada, isto é, nem toda a gente lida bem com reparos ou criticismo.

Em Portugal, o reparo ou crítica é tomado como ataque pessoal à autoridade do emissor.

Nas redes sociais e nos jornais portugueses, por mais elaborada que seja a crítica se o crítico é um pobre mexilhão que ninguém conhece, os visados não se dão ao trabalho de responder, pois escolhem estrategicamente os oponentes, revelando também assim a negação do discurso do outro sempre que conveniente. Mas quando (veja-se o caso ideológico entre Vasco Pulido Valente e Manuel Loff), os envolvidos se envolvem publicamente, com as suas volumosas imagens (ou auto percepção dessas imagens), então a coisa muda de figura, porque o outro conta, e o conflito pode provocar dano inacessível ao mexilhão.

A esta tão comezinha realidade, juntou-se nos últimos anos, a psicologia motivacional, proveniente dos Estados Unidos da América, e que surge através da conjugação das ciências da mimésis – aquelas que divisam métodos para ter sucesso na vida, geralmente imitar milionários, cujo vulto de referência é Dale Carnegie – e das ciências motivacionais new age, (em grande parte devedoras do espírito dos anos 60) que vendem produtos que intentam revelar formas de viver e fruir a vida que tragam felicidade.

Esta assimilação tardia contribuiu para a criação de uma autêntica legião de fundamentalistas e porque não dizê-lo, de uma espécie autistas abnegados em positivismo nem que tenha que se deixar alguma coisa pelo caminho.

Já o tínhamos dito aqui.




A tolerância ao confronto de ideias e a capacidade de encaixe às críticas está em pior situação que a nossa dívida externa.

Não se cultiva a palavra, a novilíngua impera, o provincianismo tem glamour e é ostensivamente praticado, e a abnegação optimista, a par da aceitação acrítica das consequências de determinados paradigmas, submetem-se a todos aqueles que procuram uma forma fácil e desenrascada de fazer uns cobres.

‘Empreendedor’ é a palavra da primeira década do século XX, tal como JEEP (jovem empresário de elevado potencial) o foi nos idos anos 90.

Há que ter tino para as modas linguísticas (alguém se lembra do ‘serenamente’ de Guterres?), e empreendedor é aquele que está de acordo com o espírito do tempo. Passa-se a ideia de que à dificuldade de um mercado de serviços, a competição pode ser ultrapassada com a resolução do tendão de Aquiles português, a mentalidade. Como se vence originalmente a mentalidade retrógrada portuguesa, de forma original? Através da imitação dos milionários, isto é, através da adopção de técnicas de psicologia motivacional oriundas essencialmente dos Estados Unidos (existem até sistemas franchisados) como se o poderio económico da maior economia do mundo se devesse não ao seu grau de magnitude, mas a uma legião de fanáticos o optimismo e de mangas arregaçadas.

O ex-delfim de Relvas, Miguel ‘Punhetas’ Gonçalves, acredita que sim, que podemos competir com a China por exemplo, só por arregaçar as mangas, ou comer muita broa, bater muito punho. Os críticos, os cães da caravana? São aqueles que são culpados ou de uma deficiente lógica, ou predadores de energias que parece que dão com tábuas nas costas dos outros, isto é, mijam na parada.

O cavalheiro, é formado, em…Psicologia, e é um bom exemplo de empreendorismo nacional, pois renovou a figura do capataz, isto é, criou uma agência que mascara o facto de vender mão-de-obra. Saiu da área de Braga.

II

Portanto, que se resume até agora?

Nas redes sociais abundam as citações motivacionais, os desabafos com maior ou menor verve, os memes, etc.

Abundam os manuais para vidas felizes e como ganhar dinheiro facilmente, em autênticas bibliotecas de banha da cobra que mais que demonstrarem a esperteza saloia dos autores e seguidores, demonstram a redução de uma complexidade metafísica como forma de afunilar o esforço de…eficiência.

Este paradigma, difícil de exprimir, em meia dúzia de linhas, faz com que ao menor sinal de um possível troll ( personagem que se dedica a mijar em parada alheia) os visados o bloqueiem ou limitem a nível de intervenção, sob a desculpa de que o fazem para não cansar os outros com o mau feitio do troll.

Esta forma de estar é recente, pois se fosse norma há cerca de 2400 anos atrás, não teria chegado testemunho até nós do maior troll de todos os tempos, Sócrates. Não teriam chegado também quase todas as obras de cultura que mais não são dispositivos que solicitam ao ser humano reacção sob a forma de dispositivos (áudio visuais ou outros) que por sua vez solicitarão reacções análogas em gerações futuras. Ou seja, a cultura é feita pêlos trolls e não por optimistas auto satisfeitos.

Um dos primeiros exemplos destas banhas da cobra que tivemos o prazer de observar encontra-se aqui.




Este caro personagem, dedica-se a tornar a Filosofia prática, sob o epíteto de que está a levar a Filosofia às massas. Ás crianças, a saber discursar, a saber desmontar o discurso contrário, etc.

"Levar a filosofia às pessoas, levar as pessoas a filosofar." É o mote.

Workshops pagos também.

Por discordarmos desta forma de instrumentalizar a Filosofia, começámos a trollar. Para o interveniente, exposto publicamente, trollar corresponde a traulitar. Revelou-se a insuficiente preparação científica para ensinar o que estava a ensinar (sob o assunto ‘Sócrates, por exemplo, desconhecia a existência de uma versão de Xenofonte) mas não faz mal porque o Tomás é apenas professor do ensino secundário. De Filosofia.

Existem centenas espalhados pelas redes sociais, que vendem formas de felicidade em que basta acreditar ser feliz e seguir os passos pagos da emancipação, seja por runas, cristais, repetição de mantras, reformulação a pé de cabra dos métodos de pensamento, etc.

A originalidade fez surgir uma miríade de géneros, que contudo se baseiam nos mesmos princípios do fundamentalismo, a adesão incondicional a determinado conjunto de dogmas, a rejeição do contraditório (muitas vezes sob a capa do ‘há vários caminhos, segue o que apraz’), e a classificação dos outros geralmente sob a categoria de tresmalhados.

Proliferou (em movimento que faz surgir os ‘punhetas’ nacionais) a exibição de Ted talks, palestras motivacionais, e uma reformulação da New Age tecnológica em contexto ultra capitalista. Surgem os reversos, parte do mesmo, movimentos comunitários de rejeição da economia vigente, geralmente caracterizados por pessoas com pouca preocupação na aparência, mas igualmente motivados na rejeição do discurso oposto.

Tona-se assim a nossa sociedade no oposto daquilo que pretende mostrar que é, a sociedade do diálogo.

III

Gostaria de deixar aqui dois exemplos do que se afirma, deste fundamentalismo optimista (que é uma cristalização conservadora, e que a nosso ver embora bem intencionada pelas participantes, apenas contribui para o estupor que faz lei nos dias de hoje) e que podem ser consultados, nada ironicamente, no órgão de propaganda Expresso – www.expresso.pt

Ana Gil Campos


e


Ana Santiago


O Expresso, propriedade da Impresa, é um órgão de comunicação social privado. O senhor Balsemão escolhe bem entender quem participa no mesmo, desde o divisionista e divisionário Daniel Oliveira, a Rui Ramos e seu protegido, Henrique Raposo.

A escolha dos elementos que têm espaço de atenção, além de um acto político e ideológico, compõe o livro de estilo do ‘jornal’.

Várias vezes Rui Ramos enviesa ideologicamente a sua visão da História de Portugal, especialmente sobre a do Estado Novo, o que para um historiador é polémico. Polémico tenta ser Henrique Raposo, pescado na blogosfera, como alguns secretários de estado do actual governo, por bons serviços e completo arrepio de método científico.

O Expresso sem surpresa deve ser considerado portanto um órgão de propaganda, como os existem também à esquerda.

É neste sentido instrumental que devemos encarar as Anas, Ana Gil Campos, e Ana Santiago, pois elas fazem parte duma constelação destinada a fazer propaganda. Quer disso estejam conscientes ou não. Repito, que as uso como exemplo sem nada contra elas, e apenas escolho uma parcela do que defendem para análise por causa do conteúdo do texto em questão.

Ana Gil Campos, de novo uma bracarense, tem no Expresso um espaço mediático denominado ‘As aventuras de uma empreendedora’ cujo maior empreendimento é escrever como freelancer, maneira pomposa de dizer que lhe pagam para dizer umas coisas num jornal, sendo ela a patroa de si mesma… (?)

Escreve no Exame/Expresso desde 2009 e a sua qualidade leva-a a estender a solicitação literária, que a partir de 2011 se estende à revista Exame, também de Balsemão.

O seu site é cuidado, a escolha de imagens infalível e merecedora de atenção. Á vista desarmada o site é vocacionado para o público feminino, desde logo com a imagem de fundo de uma frágil mulher, a Ana, com meio pé num degrau de umas escadas que parecem simbolizar a progressão no progresso, passo a expressão. Mulher, com as perninhas à mostra, apostando numa simplicidade e parcimónia de meios cuja finalidade é a criação de uma empatia com o público, pois a leitora da Ana Gil Campos, é de certeza uma mulher com sensibilidade e escolaridade, ciosa da sua identidade e respeitadora dos seus próprios devaneios ou fantasias.

Todas as fotos são cuidadas, tratadas, o que se pretende é criar um contexto, as canetas escolhidas, as agendas, o portátil, a decorada chávena de chá, a parcimónia do seu lugar de escrita idealizado para passar a noção de que o conteúdo da cabeça de Ana é o mais importante, e a escrita de minissaia e salto alto é mais capaz de inspirar as complexas ideias expostas.

As fotos cândidas e honestas com olhar directo para a objectiva, ou com o olhar baixo e absorto em qualquer ponto distante visam o mesmo fim empático anteriormente citado, diz ‘Aqui, apenas eu, mulher.’ A que se somam outras tantas imagens só com uma palavra, como por exemplo ‘voz’, como se uma palavra encerrasse todo um universo de significado, que abstractamente vale por si, descontextualizado de uma mensagem concreta.

Em quase todas as fotos a alusão à escrita, que é uma das coisas que ela mais gosta de fazer, é constante. Tem glamour ser-se escritora.

E o que escreve esta escritora?

Que conteúdos valiosos produz esta criativa freelancer, que a levam a avisar a navegação de potenciais copistas:

« O CONTEÚDO DESTE BLOG ESTÁ PROTEGIDO PELA INSPECÇÃO GERAL DAS ACTIVIDADES CULTURAIS. QUALQUER REPRODUÇÃO DOS CONTEÚDOS AQUI PRESENTES REQUER UMA AUTORIZAÇÃO PRÉVIA POR PARTE DA AUTORA.»

Á primeira vista lemos palavras como ‘autoconhecimento’, ‘criar oportunidades’, ‘motivação’, ‘progresso’, ‘humanidade’.

Afinal os desejos desta jovem, para o Natal.

O silogismo é bastante apreensível.

a)      O auto conhecimento é muito importante.

b)      Sem ele, não se cria bem novas oportunidades, nem boa motivação, nem bom progresso, nem boa humanidade.

c)       Actualmente somos usados e tratados como números

d)      Precisamos de beber a humanidade diariamente

e)      Quem nos governa deve ter atenção, porque também são números e usados, tal como ‘nós’

f)       A diferença é o poder, ‘eles’ podem, ainda que limitadamente, de implantar mais humanidade.

g)      Os que nos governam, só implantando mais humanidade, deixarão de ser mais um número ‘dentro do seu conjunto’.

Bastantes conceitos flutuam aqui.

Se tomarmos o autoconhecimento como introspecção, deduz-se que é o diálogo e conhecimento interior que cria as boas oportunidades, motivações e a boa humanidade.

Assim sendo, e de acordo com a ideia da autora, a função dos governantes, isto é, de implantar mais humanidade, é exortar as pessoas a autoconhecerem-se. Só o autoconhecimento me vai motivar a ser mais motivado e a conhecer-me mais e melhor. O Estado já cumpre essa função, sempre que abro uma carta das finanças, descubro que sou um devedor, ou sempre que sou exortado a emigrar descubro que sou indesejado, ou sempre que descubro que há outros que apenas por colarem cartazes têm emprego e eu não,  descubro que sou incompetente. Penso que é este tipo de autoconhecimento a que a Ana se refere. Cumprem assim os governantes essa função de implantar mais humanidade no nosso coração, com o poder que por ´nós’ lhes é investido.

Os governantes, só sendo assim, potenciadores do meu conhecimento de mim próprio, deixam de ser números, e passam a ser outra coisa qualquer, ‘dentro do seu conjunto’, que conjunto é este não sei.

Sei que a autora prossegue, aludindo à sorte que temos de nascer em Portugal, como se a guerra e seca no Darfur, a radioactividade em Fukushima, ou outra qualquer catástrofe fosse motivo de regozijo só porque não me calhou a mim. Sortudos somos.

Inclusive por privarmos com uma pensadora que percebeu que o mundo anda a ser construído ao contrário,  pois é a malta do ‘sistema’ que manda nos destinos do mundo, em vez dos humanos progressivos descritos na antropologia de Ana Campos. Trabalhar em prol da Humanidade, é o que propõe esta hegeliana, pois o conhecimento para ela, é o conhecimento de si, e o conhecimento de si é a humanidade. Logo quem se conhece a si mesmo é humano, quem não se conhece, tem de olhar mais vezes ao espelho…da introspecção.

Da antropologia, em meia dúzia de linhas passa à economia, pois a tarefa do autoconhecimento (para Ana, o h de ‘humanidade’ significa o mesmo se for maiúsculo ou minúsculo), é a criação de riqueza para todos. Ninguém contou a Ana que a riqueza já é criada e gerida, não chega é a ser distribuída, ninguém lhe contou sobre as crises de sobreprodução ou sobre os carteis, e ela continua a bater na tecla da criação de riqueza, sem saber que se queimou café em locomotivas ou que um quilograma de carne custa 600 litros de água.

Deixa uma exortação, às vezes desviamo-nos da humanidade, nós que fazemos parte dela, e somos mais que um número, tudo porque criticamos os outros por uma ignorância que não conseguimos ver (uma ignorância que conseguimos ver é ainda ignorância?) …e o que acontece? Ficamos intransigentes e egoístas. Só porque nos afastamos da ‘humanidade’ preconizada por Ana. Nada tem a ver com a distribuição de riqueza, digo eu.

Mas não nos preocupemos, afastamo-nos da humanidade, mas faz parte de sermos humanos.

Um pouco como se nos tornássemos um cadinho marcianos, isso ainda era sermos humanos.

Mas isto apenas se através da empatia e do esforço de compreensão nos colocarmos no coração do outro, perceber o outro, colocarmo-nos nos seus sapatos. Isto é sermos humanos.

Mas antes, durante ou depois de nos auto conhecermos?

Conseguimos fazer as duas coisas ao mesmo tempo? Conhecermo-nos a nós próprios e colocarmo-nos na retina e no coração do outro? Pobre Rousseau.

Em outro texto, «Progresso, do verdadeiro», ficamos a saber que o trajecto não é fácil, o progresso não vem ter connosco.

Há competição, e uma pequena vitória sobre os outros é sinal de contentamento moderado.

No entanto progredir é um processo autotélico, em que o resultado não é o mais importante, mas sim a progressão. Se a progressão é um movimento, para onde progride o progresso?

Para Ana o progresso progride para progredir, divorciado do resultado, logo, o progresso é progredir. Mas progredir com uma causa maior, porque progredir sem uma causa maior é um retrocesso.

Dirá a Ana que o resultado do progresso é o que cada um entender, mas se só nos realizamos se encontramos a realização naquilo que nos leva ao progresso, mas não naquilo que nos leva ao progresso.

Cito:« O verdadeiro progresso é a concretização daquilo que se vai construindo aos poucos no desejo da evolução, da nossa e dos outros, que, quando acontece, parece um sonho muito maior do que aquele que conseguíamos imaginar. Para que o progresso nos realize, temos de encontrar a realização naquilo que nos pode levar até ele e não no fim em si, senão seremos, certamente, sofredores crónicos que experimentamos na vida raros momentos de felicidade. »


Aqui

Ou seja e exemplificando, se eu tiro realização no acto de comer salsichas, devo tirar realização não da degustação das salsichas, mas na contribuição que a ingestão de salsichas tem para o meu progresso, que não é um progresso definido, como melhorar alguma faceta concreta na minha personalidade, mas é um progresso lento e conquistado, no progresso de progredir.

Se o leitor se sente confuso, não se sinta mal, pois só estará confuso no caminho da confusão.

Poderíamos continuar por todos os textos, ou quase todos, com a certeza de que tornaríamos mais pesado ainda o trabalho de análise de uma prosa sem qualquer preocupação com a explicação do que diz, ou com integridade lógica do conteúdo.

Dois motivos parecem contribuir para isto, a popularidade, e a capacidade.

Popularidade porque estes textos são vendidos por uma escriba freelancer, para serem lidos num órgão de propaganda, e portanto têm de ser assépticos, sem arestas, e curtos, mas deixar a dose de esperança, optimismo e truques fáceis, que sempre se retiram do discurso moralista de alguém que acha que sabe do que está a falar.

Na minha opinião, esta prosa de dondoca, não tem a mínima preocupação com um conteúdo, com problematização de temas, e de assuntos. Visa ao invés, através de uma estética imagética, e aluada, dar voz a todas aquelas e aqueles, que desiludidos com a eficácia da sua acção no rela, se resignam com uma fuga para uma pseudo espiritualidade, que supostamente fará diferença no mundo, pois só no acto de progressão em que todos progredimos para ser bonzinhos, parece haver hipótese de como por artes de magia resolver os problemas da ‘humanidade’.

Consta certo episódio de um soldado na Batalha de Estalinegrado, ter desarmado um ninho de metralhadoras só pela força do pensamento positivo e do seu auto conhecimento.

Ana Santiago, é de calibre diferente.

Apesar de também vir da Universidade do Minho (relações públicas) e dar aulas, no afamado Instituto Superior de Espinho, instituição privada cuja finalidade é sacar propinas da formação para o turismo a quem as quiser pagar.

Em vez de um toque de cetim rumo ao quimérico, coloca de fora as garras de pompom e aponta ao mercado empresarial, das relações públicas.

Faz parte dos coach profissionais, que são aquelas pessoas que ganham a vida a ensinar os outros a viver, ou melhor, que ajudam os outros a descobrir o que de melhor podem revelar de si. Lembra-se do auto conhecimento de Ana Campos?

A Ana Santiago vai mais adiantada, publica livro e tudo, onde ensina a descobrir o verdadeiro eu, pois como coach e motivadora ela sabe onde anda o verdadeiro eu dos outros.

Ajuda a assumir o comando da nossa vida e a realizar os nossos sonhos, a projectar uma imagem como deve de ser, a relacionarmo-nos, gerir a carreira e muito mais.

Deduzo que a Ana Santiago é uma daquelas pessoas abençoadas com dotes visionários acima da média, e com efeito semelhante à cocaína, com ela tudo se resolve.

O espaço que ocupa no Expresso, (VIPP – valorização da Imagem Pessoal e Profissional) é um tesouro analítico.

Ficamo-nos pelo texto acerca dos ladrões de sonhos, aqueles que parece que nos dão com uma tábua nas costas.

Apela ao hipocondríaco medo de uma classe média envernizada, que por ignorância ou decrepitude decorrente do conforto, desconfia da própria sombra e tudo faz para proteger o santuário do seu mundo asséptico.

Ficamos a saber que temos ladrões fora de nós e dentro de nós. Fora de nós é óbvio, basta consultar isto.

Os que estão dentro de nós são as chamadas limiting beliefs de qualquer aprendiz de Programação Neuro Linguística.

Segundo Ana Santiago, há forma de dar a volta à situação! É tudo uma questão de método.

Basta definirmos os nossos sonhos, desde que sejam realistas (indago se sonhos realistas não devem ser designados como ‘objectivos’… se sonho partilhar o leito com Helena de Tróia, isso não passa de um sonho, mas se ele é realizável, por exemplo copular com a próxima miss Portugal, é realista, é apenas um objectivo).

Definimos os sonhos realistas, parece uma contradição dos termos mas só para o olhar incauto, e traçamos um plano para a sua concretização.

Amealhamos as condições que o possibilitem.

Tiramos quem nos possa mijar na parada, dar com uma tábua nas costas, ou roubar os sonhos, do caminho.

E toca de executar o nosso plano, calibrando-o à medida da viagem, até ao objectivo, que segundo Ana Gil Campos, não é o mais importante.

Ou seja, sonhamos, planeamos, limpamos os sabotadores e cumprimos. Fico de facto com uma dúvida, sobre qual é o passo em que quem não cumpre os seus sonhos falha, e tenha de recorrer a Ana Santiago.

Imagino que muita gente não sonha sonhos realistas, ou nem se permita sonhar. Ou procrastine uma qualquer tarefa ou planeamento, aprazível ou não, há quem falhe em traçar planos para obter algo que realmente quer e depois tenha de recorrer a auto ajuda externa.

Muita gente não consegue identificar os ladrões de sonhos, e por isso não atinge o que realmente quer. Há também quem não entre em acção, ou ajuste o plano, e se contente com tremoços quando o porco não facilita as salsichas.

Mas se lermos bem e sem tentativas de humor, o que é proposto, há algo que não seja óbvio? E que seja mais elaborado que os apelos à coragem e determinação?

Ana Santiago é mais um ‘apóstolo’ da legião de optimistas abnegados. A simplicidade infantil do que propõe adapta-se bem ao target de leitores do Expresso.

Espera-se ver nestes motivadores, algo de verdadeiro, isto é obstáculos e respectivas superações no processo que falha, e todos falhamos o que nos propomos. Não depende só de nós. Mas estes vendedores de banha da cobra, apenas variam o embrulho, bem espremido, opino que nada ou pouco se aproveita. Batem na mesma tecla da abnegação, bater punho, etc.

E têm tempo de antena. Como este texto já vai longo e ninguém o vai ler também por isso, despeço-me com a parte de poema que Ana santiago não citou da ‘Pedra Filosofal’ :

« como bola colorida

entre as mãos de uma criança.»

É isso que estas crianças fazem, brincam com bolas coloridas, a que acharam graça.


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A gaiola enferrujada

1/5/2014

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Parece que a espécie de Presidente da República que Portugal tem, em 2013, como representante máximo da nação, chefe das forças armadas, garante dos bons funcionamentos institucionais, senhor Aníbal Cavaco Silva, presidente de 30% dos portugueses, tem uma longa lista de afirmações sobre a diáspora portuguesa, das quais salientamos:

2006:

-«Quero dirigir uma mensagem particular aos portugueses que vivem e trabalham no estrangeiro (…)um aumento da competitividade da economia, num combate contra as desigualdades e promoção da qualidade de vida e inclusão social»



2011:

-"São frequentes as queixas dos nossos compatriotas, motivados para investirem em Portugal, de que os seus esforços esbarram com regras incompreensíveis, tempos de espera inaceitáveis, e tratamentos inadequados para quem pretende apostar em criar emprego e prosperidade no seu país (…) a sociedade portuguesa como um todo que terá de interiorizar a oportunidade decorrente do potencial empreendedor e de criação de riqueza da diáspora lusitana".

-"Todos não seremos demais para mobilizar esse enorme capital social que a diáspora portuguesa representa. Como já afirmei antes, mobilizar os seus recursos terá, inevitavelmente, de se tornar uma prioridade nacional"

-"Portugal precisa de trabalho, trabalho, muito trabalho".



2013

- «Portugal tem de ser capaz de aproveitar, de tirar partido, das potencialidades desta nova diáspora, como fazem outros países. Estudámos outros casos, como a Irlanda. Este Conselho (da Diáspora Portuguesa) surgiu como resposta a um repto que lancei, no sentido de mais vozes portugueses se juntarem às vozes de políticos e diplomatas para projetar Portugal no estrangeiro pela positiva e contribuir para corrigir alguma desinformação que existe sobre o nosso país e assim ajudar a melhorar credibilidade do país e difundir as suas potencialidades»

Manifesta o desejo de que os portugueses «além da ligação afetiva, tenham agora uma ligação mais empenhada em casos mais concretos para ajudar ao desenvolvimento do país».

- «Temos aqui um grupo de excelência de portugueses que exercem a sua atividade no estrangeiro, em diversas áreas, na economia, nas empresas, na cultura, na arte na cidadania, que ganharam uma projeção através do seu mérito, da sua experiência, e são altamente considerados. Demonstra bem a evolução que teve a nossa diáspora nas últimas décadas, no reforço da qualificação»

- «Espero que não estranhem que no atual contexto do nosso país eu apele a todos que contribuam para o desígnio maior de Portugal neste momento que é o relançamento da economia e o combate ao desemprego, ao mesmo tempo que tentamos tão rapidamente quanto possível reduzir os desequilíbrios das nossas contas públicas» além de acumularem a função de serem "embaixadores do Portugal real" que a malvada imprensa estrangeira representa o país de forma maledicente, afinal cabe ao escorraçado repor a justa imagem, ou nas palavras do presidente -"Corrijam, ponham os pontos nos ‘ís'"



Podíamos continuar com inúmeras outras ocasiões em que o nosso funcionário máximo, se referiu à ‘diáspora’.

Fiquemos por estas. Nelas podemos observar muitos ensinamentos.

Antes de mais, a nível linguístico. A manipulação da linguagem, ou melhor, como se diz hoje em dia, a optimização da comunicação e da imagem, transformou um verdadeiro êxodo, do torrão pátrio, da miséria, da pobreza, da desconsideração, que mereceria a qualquer político titular de responsabilidade na tutela, nos últimos 40 anos, a isolar-se num mosteiro e a não mostrar mais o seu rosto aos compatriotas, pois se um pedreiro falha a função quando o muro cai, se um engenheiro traça mal o traçado do IP5 e deve ser despedido, se um padeiro faz mau pão, se um qualquer profissional faz mal a sua profissão e não percebe ou não quer perceber tal, que se pode dizer de uma classe política que faz um tão bom trabalho que força à saída de centenas de milhar de cidadãos para o exterior?

Qual é o limite para o reconhecimento da incompetência, e da necessidade de um saneamento doloroso do regime republicano?

Não merece neste caso mais respeito, e não florear a realidade como sugere Cavaco Silva, e ao invés de chamar o perfume aventureiro de ‘diáspora’ chamar o êxodo em massa da mais formada geração portuguesa da História, de ‘Fuga’, ‘abandono’, via de desespero e abandono de navio que naufraga?

Este subterfúgio das palavras doces para enganar que ainda se fia em palavras, acolha a quem aprouver. Eu lamento, e sinto-me tão miserável, exasperado como os meus compatriotas que são forçados a sair para sobreviver e respirar, eu que não votei em nenhum partido dos que se podem considerar responsáveis, e que me encontro neste momento também a ponderar ter uma vida e filhos, sem ver que isso seja possível em Portugal.

Enquanto uns se banqueteiam e distribuem sermões por recepções e embaixadas, eu como sardinhas em lata, numa espiral de empobrecimento e miséria que eventualmente me levará a sair do meu país, que me custeou a formação, mas que mercê do seu apego à estrutura social senhorial, está a aniquilar o mais antigo país europeu.

Nas palavras do nosso presidente, uma ideia de fundo é patente. Dinheirinho. Já desde antes da crise imobiliária (2008), que Aníbal exorta às remessas de divisa dos expatriados. Liquidez, liquidez, dinheirinho nos bancos, para colocar a economia a bombar, mas parece que estes neo-escorraçados não caem na esparrela, vão e nada mandam, já não é o tuga que trabalha com a colher de pedreiro e a talocha para mandar patacos para a terrinha. Lamento apenas uma única coisa, o desalento que leva grande parte a amaldiçoar o país, o país não tem culpa nenhuma. Pessoalmente penso que como nação nos deslumbrámos com o ouro de Bruxelas e o eterno provincianismo, que culminou na manutenção e ascensão de novos actores nas mesmas estruturas de posse da propriedade e do sistema republicano. Para mim, o cancro é incurável, sem levar à morte do paciente, isto é da República Portuguesa nos moldes actuais.

Além do dinheirinho, Cavaco teme a imagem que Portugal tem lá fora, e não precisa de um pingo de vergonha para pedir aos escorraçados, para passarem custe o que custar, uma ideia de que temos feito grandes esforços, e que estamos a lutar, com talochas e colheres de pedreiro na mão, para inverter aquilo que planeámos a partir de 1986. A exortação parece-me tão ridícula como alguém num palco em teatro cheio, virado para os actores pedindo para fazerem pouco barulho para não acordar o público, que em sessão esgotada ainda decide se o presidente de costas voltadas desempenha um papel cómico ou trágico.

Muitos comentadores recebem e destilam propaganda, 24 horas por dia para justificar a esfíngica verborreia de alguém de quem sempre se vendeu a imagem de seriedade e sabedoria económica, afinal o Cavaquistão de fundos comunitários foi uma grande experiência de governação.

Pergunto-me se alguém algum dia comporá uma ópera ou um filme sobre esta absurda realidade.

Resta-me pegar no apelo de Aníbal Cavaco Silva, o segundo político com responsabilidades há mais tempo no poder, que os resultados do seu trabalho, trabalho, trabalho, estão aí.

II

Estive algum tempo para conseguir ver o afamado filme ‘ A Gaiola Dourada’ de Ruben Alves, filho de emigrantes portugueses.

O filme, agora que esmoreceu a atenção mediática, não foi uma surpresa, mas foi muito agradável. O Ruben conseguiu coloca-lo em levitação entre a comédia spaguetti, e o fado ladainho do esforçado emigrante que apenas serviria para a menor aceitação do filme.

Ficou-se por uma comédia de costumes que não chega a ser uma crítica de costumes, que só está acessível a uma obra de arte.

Digo isto sem negação do talento do realizador, mas baseado na minha convicção de que este é um assunto demasiado sério, o filme é um ultraje. Na minha opinião.

No filme os portugueses ‘principais’  são apresentados porteiros e mestres-de-obras, governantas e taxistas, muito trabalhadeiros e humildes. O contexto de fundo é a azáfama da vida burguesa, tolita como só pode ser a representação urbana da vida, pincelada com cores de plena integração do emigrante.

Os protagonistas, são serviçais, abnegados, e submissos em terra alheia, embora cordatos e respeitadores.

A aspiração à ascensão social revela-se no projecto de Lurdes, e dos dois bacalhaus, e no momento chave do filme, a revelação, na qual o casal se apercebe que todos conspiram para que fiquem porque precisam deles, numa rede de conveniências pessoais. Nesse momento Maria confessa o desgosto que tem com a sua instrumentalização, e com a indiferença dos indivíduos à sua entidade desde que ela continue a providenciar os apreciados serviços como sempre o fez. O português a queixar-se de ser usado.

O grito de Ipiranga luso não é um desejo de liberdade, mas o desabafo de um ressentimento longamente carregado, ilustrado pelo desejo de Maria em ir dizer à senhora Reichert todas as verdades que não disse ao longo dos anos, em que se esforçou por ser boa, enquadrada, útil, num jogo saloio de bola baixa para ter o meu ao fim do mês, e nem um obrigado me dão por isso.

Que português aparece retratado?

O português do país pobre, que vai ao hotel de luxo e leva a marmita de casa e a mini porque não aprecia a alta cozinha francesa, infeliz com o luxo e o requinte, mais em casa na humildade e comedimento. O português inseguro e bajulador, que se por um lado se apraz com o nascimento do neto em solo pátrio, por outro não se inibe de imitar a cozinha francesa para os convidados franceses Caillaux, com quem convive há 32 anos, para gáudio de uma filha complexada com a nacionalidade que partilha, e o filho com vergonha da profissão dos pais.

É o português que confunde Picasso com Peugeot, que diz ao filho para deixar os estudos e viver da bola. É o português que no trabalho censura e olha de soslaio José, se este se dá melhor com o patrão, ou seja é um português castrador e invejoso, especialmente se José veste ‘fato à patrão’, zombador da integração do compatriota, como se a mesma correspondesse à rejeição da origem comum.

É um tuga preocupado com o que dizem dele, com a imagem alheia, que só pensa no trabalho e que nem para si são bons, e até José quando o filho lhe diz que não quer fazer a mesma profissão que o pai, lhe responde que ainda bem, apesar de quer José quer Maria se sentirem com remorsos de maus serviços propositadamente prestados por vingança, não particularmente por brio, mas por não querer desiludir, isto é dar cabo da imagem, os outros, os ‘patrões’.

A pitada mais genial culmina com o Porsche Cayenne com atrelado atrás, por uma estrada rumo a Portugal, viatura que custa cerca de metade do que rende anualmente a herança de José, numa clara alusão à capacidade de gestão portuguesa. Porsche que será lavado na bica da propriedade vinícola dos donos, a quem a riqueza sobe à cabeça para comprar um carro de rico mas não para mandar os outros lavar o carro, agora que podem pagar.

Ruben retrata o portuguesinho, e não o português, pois não o conhece. E portanto considero o seu filme, como a maior prova daquilo que pretende expor ou denunciar, o complexo. Este filme é redutor e complexado, pejado de estereótipos, como o pastel de bacalhau, o fado para turistas, o tremoço engolido com casca, e a emotividade gestual que talvez encontre eco em Itália ou em alguma aldeia portuguesa apenas habitada por surdos-mudos.

Os franceses não são melhor representados, o patrão é um porreiraço que chantageia José com o despedimento dos outros portugueses, no intuito de ganhar uma obra, os franceses neste filme parecem uns atadinhos, incapazes de clarividência, desenrasco ou de resolverem os seus problemas, adoram vinho do Porto e meter os compatriotas no seu lugar.

O filme foi um sucesso. Projectou a imagem dos portugueses como Cavaco a pretende. Como Salazar a pretendia também, trabalhadeiros, honrados, humildes.

Nada se fala das agruras, da expulsão, dos sacrifícios, das noites de choro, dos regressos estivais revanchistas com altas viaturas e vivendas construídas com telha preta, nem da persistência do francês em terras nacionais e da língua de Camões em terras de Flaubert, apenas para diferenciar o falante.

É um bom filme. É um filme complexado, bom para nos deixar satisfeitos com nós próprios.

Os portuguesinhos burguesinhos podem continuar a achar bonacheirona esta diáspora, e a ignorar os 5 milhões de portugueses forçados a abandonar a sua terra. Os franceses podem continuar a alimentar os seus preconceitos, num ambiente parolo ditado pelas leis da economia e da má escolha política.

A intenção do filme é homenagear os portugueses. A de Cavaco será de resolver a coisa pelo melhor. Com tanta intenção boa, somos mesmo uns azarados.

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    Debitar de ruminações sobre cultura popular, meios de expressão e comunicação, e outras coisas deliciosamente burguesas. (Se não se tornar muito incómodo, não me ponham em tribunal)

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