I
O auto-racismo português é tão lendário como o triângulo das Bermudas e tão intrigante como Jack the Ripper, ou o monstro de Loch Ness.
Penso que é triangular, baseado em :
a) Um profundo complexo de inferioridade por parte da população portuguesa.
b) Uma mentalidade derrotada e derrotista.
c) Um vazio de imaginação na forma de renovação da própria comunidade nacional.
Temos falado sobre este complexo noutros textos. Esta inferioridade parece ser relativa à situação de constante atraso de Portugal em relação às outras nações europeias, à qual uma união apressada e sem freio veio trazer fim, aparentemente, numa lógica de ‘se não os podes vencer junta-te a eles’.
Os japoneses e os alemães a seguir à guerra adoptaram sem freio a cultura do vencedor. Vigorou a virtude do mais forte, e o desejo de performance faz com que cada aspirante a hegemonia respeite a força quando a força de outrém supera a sua. Um pouco como os culturistas que só respeitam gente de musculatura desenvolvida. Passo o exemplo.
A mentalidade ‘antiga’ embora preservada q.b., vergou a cabeça para baixo, cabisbaixa sobre uma realidade que a suplantou, que a superou. Nesses tempos, o alemão era o fardo de si próprio, e o japonês queria ser tudo menos o que era. Havia o peso da derrota sobre a jactância que era elevada antes do conflicto. Nas séries, nos trejeitos, nas estruturas à derrota segue-se a mimese, a adopção do modelo vitorioso.
O português não quer viver na sua pele. Não passou por uma guerra, mas sente-se na mesma um derrotado. É a nossa história de pequeno país que nos derrota e esmaga, e as jovens gerações querem tudo menos ser ‘portugueses’. A nossa história feita de barracas, como a vergonhosa derrota de Alcácer Quibir (não pela derrota mas pelo contexto da mesma), feita dos naufrágios causados por cupidez de cortar a madeira verde para fazer as naus, que curiosamente vinham carregadas além de toda a preocupação de estabilidade, e por obra do fado abriam rombos inexplicavelmente levando centenas em excursão forçada até ao fundo oceânico. Os desaires inscritos na nossa memória colectiva, as esperanças atraiçoadas em 8 séculos de História, o peso de uma sociedade classista que se mantém pelas eras, e que é a razão directa do chamado atraso estrutural português, contribuem para a formação de uma auto imagem, na qual os feitos e os desaires concorrem para um placebo de espírito crítico, onde o português guarda exclusivamente para si o direito de falar mal do país e cultura que ama, mas ressabiadamente rejeita por lhe reconhecer o asco da inadequação em relação às modas do seu tempo.
Portugal está sempre atrasado. Não, não está, posso dar n exemplos, mas fico-me com estes, a Psiquiatria portuguesa da primeira metade do século XX estava na vanguarda dos estudos nesse campo, a nível mundial. Egas Moniz, depois Miguel Bombarda, Sobral Cid e Júlio de Matos são as estrelas de uma época de glória para a nossa ciência. Não é um exemplo que mostra o mérito, mas ajuda a explicar que o português espera muito do seu país. Sabemos que somos bons, embora saibamos que somos maus, estrebuchamos na impotência de resolver o impasse. Não é fácil ser um pequeno país num continente de aguerridos matulões. Mas mal ou bem, ainda aqui estamos. Não foi bonito e nem sempre airoso, mas pagando todos os preços mantivémos a identidade vincada que muitos perderam por essa Europa fora. Apesar das traições e contra produções intestinas. Esta estagnação entre correntes contrárias, dá a sensação de movimento sem que se saia do mesmo sítio. Assim passamos nós pelo tempo. E quando olhamos para os outros já nos dizem adeus de longe, do ponto onde escolheram que era o futuro e o progresso. E nós corremos atrás do prejuízo, para quando lá chegarmos, já eles nos acenam de outra posição a partir do qual estamos sempre em atraso.
Temos então a mentalidade derrotada de olhar para fora para quem nos ‘vence’ como se fosse o estrangeiro a vencer-nos e não a nossa mentalidade.
Procuramos no outro o referente para o projecto da nossa mesmidade, e assim como cão perseguindo a cauda, movemo-nos sem sair do mesmo sítio, só para não sentir que estamos parados como sabemos que sempre estivemos.
Esta consciência desespera-nos, parece que não sabemos como resolver o nó górdio, e o desespero leva à aceitação da nossa incapacidade de auto determinação. Sim, porque é auto determinação um povo fazer aquilo que pode e deve fazer de si mesmo, já o dizia o grande Kant.
Este desespero, isto é, esta falta de esperança, aliada ao cansaço civilizacional de andarmos sempre a correr pelas pistas dos outros, leva a que se acentue cada vez mais, a incapacidade de imaginar e projectar um destino comum. Possivelmente no futuro o Norte estará junto com um novo país composto pela Galiza, o Alentejo e Lisboa formam uma nova nação, os Açores serão mais um estado americano e a Madeira fará parte de um grande arquipélago com as Canárias, e Portugal será uma memória que se pretenderá nublar como agora nos Balcãs se ofusca a ideia de uma antiga Jugoslávia.
Penso que neste ritmo, estamos condenados a desaparecer, talvez seja este o ritmo de vida natural das nações.
A falta de imaginação e de reinvenção, o peso do passado, e o falhanço das esperanças fazem com que hoje seja uma ideia agradável, não se ser português, ou o seu equivalente, ser-se um cidadão do mundo.
II
Um das formas que se solicita ao leitor a que preste análise é a da publicidade. A publicidade é a propaganda moderna com o bónus de que é legal, e acima de tudo, considerada inócua.
Mistura explosiva, alimentada com a ideia de que o cidadão actual é maduro o suficiente para saber de publicidade e dos cantos de manipulação que a mesma possa encetar. Atendendo às estatísticas internacionais sobre a capacidade da população escolar de descodificar textos literários, duvido seriamente que a restante população saiba decifrar imagens e outros suportes cujo conteúdo ideofactual está além da imediatez de um bê-a-bá, e implica uma perspectiva crítica acerca da realidade.
Uma das coisas que reparo é que o sexo é usado para vender tudo, desde colchões a barras de cereais. Não apenas sexo explícito mas sucesso com o sexo oposto. Nada de novo, os manuais de marketing ensinam a usar a biologia humana a favor do fabricante.
Os outros significados, que podem ser produtos da minha cabeça ou não, são mais sinistros e eu deixei de acreditar em coincidências. Vejam-se os seguintes exemplos.
O auto-racismo português é tão lendário como o triângulo das Bermudas e tão intrigante como Jack the Ripper, ou o monstro de Loch Ness.
Penso que é triangular, baseado em :
a) Um profundo complexo de inferioridade por parte da população portuguesa.
b) Uma mentalidade derrotada e derrotista.
c) Um vazio de imaginação na forma de renovação da própria comunidade nacional.
Temos falado sobre este complexo noutros textos. Esta inferioridade parece ser relativa à situação de constante atraso de Portugal em relação às outras nações europeias, à qual uma união apressada e sem freio veio trazer fim, aparentemente, numa lógica de ‘se não os podes vencer junta-te a eles’.
Os japoneses e os alemães a seguir à guerra adoptaram sem freio a cultura do vencedor. Vigorou a virtude do mais forte, e o desejo de performance faz com que cada aspirante a hegemonia respeite a força quando a força de outrém supera a sua. Um pouco como os culturistas que só respeitam gente de musculatura desenvolvida. Passo o exemplo.
A mentalidade ‘antiga’ embora preservada q.b., vergou a cabeça para baixo, cabisbaixa sobre uma realidade que a suplantou, que a superou. Nesses tempos, o alemão era o fardo de si próprio, e o japonês queria ser tudo menos o que era. Havia o peso da derrota sobre a jactância que era elevada antes do conflicto. Nas séries, nos trejeitos, nas estruturas à derrota segue-se a mimese, a adopção do modelo vitorioso.
O português não quer viver na sua pele. Não passou por uma guerra, mas sente-se na mesma um derrotado. É a nossa história de pequeno país que nos derrota e esmaga, e as jovens gerações querem tudo menos ser ‘portugueses’. A nossa história feita de barracas, como a vergonhosa derrota de Alcácer Quibir (não pela derrota mas pelo contexto da mesma), feita dos naufrágios causados por cupidez de cortar a madeira verde para fazer as naus, que curiosamente vinham carregadas além de toda a preocupação de estabilidade, e por obra do fado abriam rombos inexplicavelmente levando centenas em excursão forçada até ao fundo oceânico. Os desaires inscritos na nossa memória colectiva, as esperanças atraiçoadas em 8 séculos de História, o peso de uma sociedade classista que se mantém pelas eras, e que é a razão directa do chamado atraso estrutural português, contribuem para a formação de uma auto imagem, na qual os feitos e os desaires concorrem para um placebo de espírito crítico, onde o português guarda exclusivamente para si o direito de falar mal do país e cultura que ama, mas ressabiadamente rejeita por lhe reconhecer o asco da inadequação em relação às modas do seu tempo.
Portugal está sempre atrasado. Não, não está, posso dar n exemplos, mas fico-me com estes, a Psiquiatria portuguesa da primeira metade do século XX estava na vanguarda dos estudos nesse campo, a nível mundial. Egas Moniz, depois Miguel Bombarda, Sobral Cid e Júlio de Matos são as estrelas de uma época de glória para a nossa ciência. Não é um exemplo que mostra o mérito, mas ajuda a explicar que o português espera muito do seu país. Sabemos que somos bons, embora saibamos que somos maus, estrebuchamos na impotência de resolver o impasse. Não é fácil ser um pequeno país num continente de aguerridos matulões. Mas mal ou bem, ainda aqui estamos. Não foi bonito e nem sempre airoso, mas pagando todos os preços mantivémos a identidade vincada que muitos perderam por essa Europa fora. Apesar das traições e contra produções intestinas. Esta estagnação entre correntes contrárias, dá a sensação de movimento sem que se saia do mesmo sítio. Assim passamos nós pelo tempo. E quando olhamos para os outros já nos dizem adeus de longe, do ponto onde escolheram que era o futuro e o progresso. E nós corremos atrás do prejuízo, para quando lá chegarmos, já eles nos acenam de outra posição a partir do qual estamos sempre em atraso.
Temos então a mentalidade derrotada de olhar para fora para quem nos ‘vence’ como se fosse o estrangeiro a vencer-nos e não a nossa mentalidade.
Procuramos no outro o referente para o projecto da nossa mesmidade, e assim como cão perseguindo a cauda, movemo-nos sem sair do mesmo sítio, só para não sentir que estamos parados como sabemos que sempre estivemos.
Esta consciência desespera-nos, parece que não sabemos como resolver o nó górdio, e o desespero leva à aceitação da nossa incapacidade de auto determinação. Sim, porque é auto determinação um povo fazer aquilo que pode e deve fazer de si mesmo, já o dizia o grande Kant.
Este desespero, isto é, esta falta de esperança, aliada ao cansaço civilizacional de andarmos sempre a correr pelas pistas dos outros, leva a que se acentue cada vez mais, a incapacidade de imaginar e projectar um destino comum. Possivelmente no futuro o Norte estará junto com um novo país composto pela Galiza, o Alentejo e Lisboa formam uma nova nação, os Açores serão mais um estado americano e a Madeira fará parte de um grande arquipélago com as Canárias, e Portugal será uma memória que se pretenderá nublar como agora nos Balcãs se ofusca a ideia de uma antiga Jugoslávia.
Penso que neste ritmo, estamos condenados a desaparecer, talvez seja este o ritmo de vida natural das nações.
A falta de imaginação e de reinvenção, o peso do passado, e o falhanço das esperanças fazem com que hoje seja uma ideia agradável, não se ser português, ou o seu equivalente, ser-se um cidadão do mundo.
II
Um das formas que se solicita ao leitor a que preste análise é a da publicidade. A publicidade é a propaganda moderna com o bónus de que é legal, e acima de tudo, considerada inócua.
Mistura explosiva, alimentada com a ideia de que o cidadão actual é maduro o suficiente para saber de publicidade e dos cantos de manipulação que a mesma possa encetar. Atendendo às estatísticas internacionais sobre a capacidade da população escolar de descodificar textos literários, duvido seriamente que a restante população saiba decifrar imagens e outros suportes cujo conteúdo ideofactual está além da imediatez de um bê-a-bá, e implica uma perspectiva crítica acerca da realidade.
Uma das coisas que reparo é que o sexo é usado para vender tudo, desde colchões a barras de cereais. Não apenas sexo explícito mas sucesso com o sexo oposto. Nada de novo, os manuais de marketing ensinam a usar a biologia humana a favor do fabricante.
Os outros significados, que podem ser produtos da minha cabeça ou não, são mais sinistros e eu deixei de acreditar em coincidências. Vejam-se os seguintes exemplos.
Este anúncio da EDP é um dos muitos que povoam o mundo publicitário português, essencialmente com gente de olhos azuis e cabelos louros. Se bem que tenhamos herança celta, romana, visigótica, sueva, e de outras proveniências setentrionais, penso que é consensual dizer que somos um país maioritariamente de morenos de cabelos pretos e olhos castanhos.
Perco-me a tentar perceber, porque é que os loiros e loiras, especialmente as crianças, são mais publicitáveis que os descendentes da matriz hispano romana, ou da Lisboa quinhentista onde um terço da população era negra. Estranho este ‘fascínio’ pelos nórdicos ou pelas características morfológicas nórdicas, em detrimento do mundo mediterrânico, ou do Magreb, àrea geográfica mais semelhante a Portugal que a margem norte do Reno.
Portugal é geográficamente, mais Norte de África, que Sul da Europa. Mas enfim, podemos ter a noção de que grande parte das agências publicitárias são de países do norte e os modelos são de arianas características. Mas o interessante é que mesmo em anúncios feitos por empresas de marketing nacionais, a malta das alvas pilosidades e dos olhinhos azuis, bate ao ponto os rejeitados morenos e morenas de humilde olhinho castanho.
Perco-me a tentar perceber, porque é que os loiros e loiras, especialmente as crianças, são mais publicitáveis que os descendentes da matriz hispano romana, ou da Lisboa quinhentista onde um terço da população era negra. Estranho este ‘fascínio’ pelos nórdicos ou pelas características morfológicas nórdicas, em detrimento do mundo mediterrânico, ou do Magreb, àrea geográfica mais semelhante a Portugal que a margem norte do Reno.
Portugal é geográficamente, mais Norte de África, que Sul da Europa. Mas enfim, podemos ter a noção de que grande parte das agências publicitárias são de países do norte e os modelos são de arianas características. Mas o interessante é que mesmo em anúncios feitos por empresas de marketing nacionais, a malta das alvas pilosidades e dos olhinhos azuis, bate ao ponto os rejeitados morenos e morenas de humilde olhinho castanho.
Deixo aqui um outro exemplo que não deixa de ser paranóico e talvez interessante.
E uma questão, que abordaremos futuramente, é que se esta preferência, tem alguma justificação, ou é a minha apreensão que está inquinada e os números não confirmam o que afirmo. De qualquer modo associo esta preferência rácica, a um complexo de inferioridade, tema que explanarei no futuro.
Exemplo no nipónico boneco de animação de Dragon Ball, moreno com feições europeias, mas nome japonês.
E uma questão, que abordaremos futuramente, é que se esta preferência, tem alguma justificação, ou é a minha apreensão que está inquinada e os números não confirmam o que afirmo. De qualquer modo associo esta preferência rácica, a um complexo de inferioridade, tema que explanarei no futuro.
Exemplo no nipónico boneco de animação de Dragon Ball, moreno com feições europeias, mas nome japonês.
Eis o super guerreiro, uma versão melhorada, superior agora com diferente escolha de tonalidade dos cabelos e da óbvia permanente lembrando o Kenny G, se este usasse viagra no amaciador.