A recente visita do excelso primeiro-ministro da suposta República portuguesa ao Japão, é uma excelente ocasião para um momento de ligeira reflexão.
Ao cidadão exige-se que cumpra escrupulosamente todas as suas responsabilidades, isto é, no emprego dar a cara pelos erros, perante a família assumir e corrigir as suas falhas, perante o Estado pagar e só depois reclamar, perante os bancos ser um relógio a saldar.
As exigências são tais que por vezes temos legitimidade de colocar a questão, se todas estas exigências não desumanizarão o cidadão renomeado de ‘contribuinte’ criando por sua vez um ser reprimido e ressentido, que na intimidade ou na mesa de voto, não escolhe de acordo com uma consciência política amadurecida, mas de acordo com uma raiva incontida na qual prevê castigar os crápulas que todos os dias lhe lembram das suas obrigações inflaccionadas.
Infelizmente poucos cidadãos se parecem ralar em recolocar velhas questões no centro do debate político, como por exemplo, porque tenho eu de ser responsável pela responsabilidade de outrem? Especialmente se ninguém o é pela minha? Que diferença de naturezas existirá para que uns possam decidir por outros só porque em maior número escolheram, num sentido muito peculiar de ‘escolha’?
Concretamente, porque tenho eu, cidadão anónimo, que não votei em Passos Coelho, ou em nenhum dos governos que governam (?) Portugal desde 1974, sofrer na pele as consequências de miséria, empobrecimento, perda de autonomia nacional e completo abandalhamento do Estado Português, intra e extra-muros?
Dirá o cientista político, que é essa a essência da democracia, a sujeição de qualquer minoria à vontade da maioria.
Mas porque não se pode aplicar esse critério de forma abstracta a todos os níveis da vida política e social. A vontade da maioria é não pagar impostos, ou que os políticos não sejam corruptos. A maioria dos políticos não o parece ser, mas a boa parte que o é chega para encher as vistas.
De forma análoga em que as Finanças encaram cada cidadão que se atrase ou em dificuldades, como em prevaricador de mil ardis. Excepto alguns VIPs.
Porque é que no país do outrora e saudoso utilizador-pagador, não se estendeu o conceito a uma reciprocidade entre eleitos e eleitores? Não só o voto devia ser de conhecimento de todos, como apenas os eleitores que votaram em determinados eleitos deveriam sofrer as consequências desses eleitos. Poder-se-á argumentar que isso daria origem a estados dentro do Estado, mas já é isso que temos, se não no papel, pelo menos na prática, onde a formalização apenas tornaria o sistema mais honesto.
Isto é mas é tudo uma grande treta, uma hipocrisia de todo o tamanho, na qual a maioria não se importa de viver. Até nisso temos de nos conformar.
Não podemos partir nada, evocar desobediência civil, ou partir para a violência contra um Estado tomado por interesses contrários ao da maioria que os legitimou (irónico) que teremos logo a resposta na ponta dos bastões e do gás lacrimogéneo de forma a proteger o bem-estar da maioria. Dupla ironia.
As massas influenciadas por aspirações artísticas preferem exprimir o descontentamento através do voto contra os outros do campo político oposto, ou ir cantar em frente a residências oficiais.
Aos mais exaltados ensinam que as regras do jogo são imutáveis e inquestionáveis, tens de te submeter à maioria, e só através do voto. Tás chateado? Não votes nele nas eleições.
Esse voto simbólico parece pouco ou nada, comparado com os gestos reais como desemprego, precariedade de trabalho, falta de assistência social mesmo e apesar dos meus descontos, e crescente privatização de toda a esfera de vivência social.
Faz lembrar a história de que o tipo que levava com um cajado nas costas por parte de um vizinho violento, antes de morrer na calçada por causa dos traumatismos se ia queixando que já não lhe emprestava a mota por estar a trata-lo mal.
Outra história absurda e ao mesmo tempo patética passou-se na visita do nosso mais novo honoris causa. Confesso que fiquei surpreso com tão imediata ascensão de um tipo que me habituei a ver na JSD, repetindo cassetes de ano para ano, mesmo quando era cabeça de cartaz nas reuniões estudantis que partilhámos.
Doutor de verdade e primeiro-ministro, é normal que a coisa lhe suba à cabeça.
No Japão, quem sabe por causa de um embaraço interior emergente de uma introversão com que não brinda os opositores no Parlamento, desabafou que talvez a sua chegada ao país do Sol Nascente pudesse acelerar a chegada das flores de cerejeira.
Das duas uma, ou o senhor Passos Coelho acha que o seu cargo lhe confere um poder telúrico, que ele próprio manda na Natureza e nas estações, ou então eu quero fumar o mesmo que ele fuma.
Já para não falar do incidente diplomático provocado que motivou protestos das associações de borda d'àgua nipónicas.
Mas após mais uns segundos de visionamento, percebemos mesmo que o homem não sabia o que dizer, pois só tem como meio de comparação para o artefacto tecnológico que lhe é apresentado, o critério preferido dos patos bravos, o carro. O carro barato.
Mais à frente ao provar o chá, lá desabafa que não é candidato à Casa Branca, numa alusão à visita da esposa de Obama, ao mesmo cerimonial do chá uma semana antes.
Ficamos sem perceber se Pedro, confunde a mulher de Obama com a mulher de Clinton, provável freudianamente por causa dos vocábulos ‘Casa Branca’, ou se sabe mais da política americana que aquilo que quer admitir, especialmente no concernente às intenções políticas da mulher de Obama.
A explicação mais natural, parece ser mesmo a de que não sabia o que dizer, na viagem ao Japão a tentar seduzir empresários japoneses para a nação que se pode tornar na mais competitiva do mundo.
Pergunta-se, temos mesmo que nos responsabilizar pelo voto das pessoas que o elegeram?
Ao cidadão exige-se que cumpra escrupulosamente todas as suas responsabilidades, isto é, no emprego dar a cara pelos erros, perante a família assumir e corrigir as suas falhas, perante o Estado pagar e só depois reclamar, perante os bancos ser um relógio a saldar.
As exigências são tais que por vezes temos legitimidade de colocar a questão, se todas estas exigências não desumanizarão o cidadão renomeado de ‘contribuinte’ criando por sua vez um ser reprimido e ressentido, que na intimidade ou na mesa de voto, não escolhe de acordo com uma consciência política amadurecida, mas de acordo com uma raiva incontida na qual prevê castigar os crápulas que todos os dias lhe lembram das suas obrigações inflaccionadas.
Infelizmente poucos cidadãos se parecem ralar em recolocar velhas questões no centro do debate político, como por exemplo, porque tenho eu de ser responsável pela responsabilidade de outrem? Especialmente se ninguém o é pela minha? Que diferença de naturezas existirá para que uns possam decidir por outros só porque em maior número escolheram, num sentido muito peculiar de ‘escolha’?
Concretamente, porque tenho eu, cidadão anónimo, que não votei em Passos Coelho, ou em nenhum dos governos que governam (?) Portugal desde 1974, sofrer na pele as consequências de miséria, empobrecimento, perda de autonomia nacional e completo abandalhamento do Estado Português, intra e extra-muros?
Dirá o cientista político, que é essa a essência da democracia, a sujeição de qualquer minoria à vontade da maioria.
Mas porque não se pode aplicar esse critério de forma abstracta a todos os níveis da vida política e social. A vontade da maioria é não pagar impostos, ou que os políticos não sejam corruptos. A maioria dos políticos não o parece ser, mas a boa parte que o é chega para encher as vistas.
De forma análoga em que as Finanças encaram cada cidadão que se atrase ou em dificuldades, como em prevaricador de mil ardis. Excepto alguns VIPs.
Porque é que no país do outrora e saudoso utilizador-pagador, não se estendeu o conceito a uma reciprocidade entre eleitos e eleitores? Não só o voto devia ser de conhecimento de todos, como apenas os eleitores que votaram em determinados eleitos deveriam sofrer as consequências desses eleitos. Poder-se-á argumentar que isso daria origem a estados dentro do Estado, mas já é isso que temos, se não no papel, pelo menos na prática, onde a formalização apenas tornaria o sistema mais honesto.
Isto é mas é tudo uma grande treta, uma hipocrisia de todo o tamanho, na qual a maioria não se importa de viver. Até nisso temos de nos conformar.
Não podemos partir nada, evocar desobediência civil, ou partir para a violência contra um Estado tomado por interesses contrários ao da maioria que os legitimou (irónico) que teremos logo a resposta na ponta dos bastões e do gás lacrimogéneo de forma a proteger o bem-estar da maioria. Dupla ironia.
As massas influenciadas por aspirações artísticas preferem exprimir o descontentamento através do voto contra os outros do campo político oposto, ou ir cantar em frente a residências oficiais.
Aos mais exaltados ensinam que as regras do jogo são imutáveis e inquestionáveis, tens de te submeter à maioria, e só através do voto. Tás chateado? Não votes nele nas eleições.
Esse voto simbólico parece pouco ou nada, comparado com os gestos reais como desemprego, precariedade de trabalho, falta de assistência social mesmo e apesar dos meus descontos, e crescente privatização de toda a esfera de vivência social.
Faz lembrar a história de que o tipo que levava com um cajado nas costas por parte de um vizinho violento, antes de morrer na calçada por causa dos traumatismos se ia queixando que já não lhe emprestava a mota por estar a trata-lo mal.
Outra história absurda e ao mesmo tempo patética passou-se na visita do nosso mais novo honoris causa. Confesso que fiquei surpreso com tão imediata ascensão de um tipo que me habituei a ver na JSD, repetindo cassetes de ano para ano, mesmo quando era cabeça de cartaz nas reuniões estudantis que partilhámos.
Doutor de verdade e primeiro-ministro, é normal que a coisa lhe suba à cabeça.
No Japão, quem sabe por causa de um embaraço interior emergente de uma introversão com que não brinda os opositores no Parlamento, desabafou que talvez a sua chegada ao país do Sol Nascente pudesse acelerar a chegada das flores de cerejeira.
Das duas uma, ou o senhor Passos Coelho acha que o seu cargo lhe confere um poder telúrico, que ele próprio manda na Natureza e nas estações, ou então eu quero fumar o mesmo que ele fuma.
Já para não falar do incidente diplomático provocado que motivou protestos das associações de borda d'àgua nipónicas.
Mas após mais uns segundos de visionamento, percebemos mesmo que o homem não sabia o que dizer, pois só tem como meio de comparação para o artefacto tecnológico que lhe é apresentado, o critério preferido dos patos bravos, o carro. O carro barato.
Mais à frente ao provar o chá, lá desabafa que não é candidato à Casa Branca, numa alusão à visita da esposa de Obama, ao mesmo cerimonial do chá uma semana antes.
Ficamos sem perceber se Pedro, confunde a mulher de Obama com a mulher de Clinton, provável freudianamente por causa dos vocábulos ‘Casa Branca’, ou se sabe mais da política americana que aquilo que quer admitir, especialmente no concernente às intenções políticas da mulher de Obama.
A explicação mais natural, parece ser mesmo a de que não sabia o que dizer, na viagem ao Japão a tentar seduzir empresários japoneses para a nação que se pode tornar na mais competitiva do mundo.
Pergunta-se, temos mesmo que nos responsabilizar pelo voto das pessoas que o elegeram?