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EMELiantes

5/8/2012

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A Empresa Municipal de Extorsão de Lisboa (EMEL), enquanto instituição encontra paralelo simbólico com o Estádio Municipal de Aveiro ou com o Centro Cultural de Belém, como testemunhos para gerações vindouras de modas de espírito que caracterizaram o Portugal saído da integração europeia e respectivo ‘amadurecimento’ da citada ‘integração’.
A EMEL foi, é mais uma iniciativa a par das eleições na chamada democracia contemporânea que cai sob o epíteto de ‘armadilha para os parvos’. Se ao votar o cidadão legitima o pequeno leque de escolha que lhe é forçado por via oral com a ajuda de leis e mais leis, a EMEL surge comparativamente na altura da sua implantação como a receita para mais mobilidade e melhor ambiente para a cidade de Lisboa, sempre a encoberto de um contexto volátil a que os fazedores de opinião e de políticas públicas dão o nome de ‘progresso’. A população, lentamente convencida que pensa bem e suficiente, não tem instrumentos de reflexão crítica, pois afinal o que conta é betão e asfalto e fazer contas para trabalhar em fábricas, e portanto o ordenamento do território sujeita-se aos grandes empregadores da construção civil. Mas voltemos à EMEL, surge em Lisboa para ‘ordenar’ o trânsito que era caótico e nada amigo do ambiente.  Tudo isso mudou hoje, Lisboa mais parece um relógio suíço de eficiência rodoviária, e temos gamos e veados a par e par com passarinhos nos jardins da cidade. Desculpam-se os responsáveis da tutela com o aumento do fluxo de automóveis, previsto há mais de 30 anos, mas ao qual a maior resposta foi uma aposta nas rodovias e na segmentação do espaço a ser taxado. Para quem não se lembra a EMEL surge com campanhas de charme provinciano, como ainda as actuais, tornando-se naquilo que é hoje uma empresa de tamanho médio que alberga em quarentena quem precisa de fazer uns trocos para o partido. Foi e é imposta ao cidadão através do aparelho estatal, e no sítio web da empresa, encontramos um optimismo eufemístico nos textos que dão a conhecer a missão da empresa, isto se conseguirmos digerir o impacto inicial da campanha publicitária em www.emel.pt que não passa de mais uma fantochada de charme popular e sensacionalista com direito a charanga e ninfetas dançando em redor dos credores que submissamente pagam dando o exemplo de boa cidadania. Pode-se ler: ‘Com a criação da EMEL, tem vindo a ser feito um importante trabalho de organização do estacionamento e mobilidade na cidade.’ A EMEL orgulha-se de ajudar a ordenar o trânsito mais concretamente no relacionado com o estacionamento dos veículos automóveis que circulam em Lisboa. II A generalização deste meio de transporte por detrimento de outros resulta numa observação serena da total incompetência grosseira de todos os governos que ao longo de todas as magistraturas desde a democracia de 1974 têm falhado em implementar uma política lógica para o sector dos transportes , não porque tanto especialista não veja ou elabore uma, mas pura e simplesmente porque o equilíbrio de poderes, opta de forma diversa, e quando se fala em equilíbrio de poderes o que realmente se quer dizer é ‘corrupção’. Não se conseguiu implementar um sistema de estacionamento na periferia urbana, gratuito e seguro, nem estender a área suburbana para fora dos limites concelhios sem ser através da especulação imobiliária, e é por isso que ainda é mais barato trazer o carro para Lisboa que pagar o passe mensal para fazer 30 ou 40 quilómetros em percurso suburbano onde se podem observar os erros urbanísticos em abundância pitoresca e variada.
Estacionar em Lisboa tornou-se efectiva e de forma deliberada, um luxo, branqueado à população como necessário por causa do ambiente e da mobilidade, que curiosamente nada lucram com a divisão geográfica em áreas de maior taxação, ordenadas por cores, de forma a tornar o centro, ou seja, a zona mais agradável para os pedestres circularem, em verdadeira zona gourmet dentro da cidade. O luxo divide e tem de ser pago principescamente, e é assim que a  maior parte dos condutores aceita de forma ruminante mais este pagamento em troco do aluguer de um espaço para depositar o seu veículo. A autarquia gere a mobilidade e a qualidade do ar, não proibindo elementos que as podem limitar, leia-se o estacionamento abusivo e a poluição proveniente dos tubos de escape dos veículos, mas ‘desincentivando’ democraticamente os condutores a pagar pelo privilégio, o que pelo menos revela uma falácia óbvia nesta transacção esquizofrénica entre a população (Câmara Municipal de Lisboa) e a população, o caro condutor. Há qualquer coisa de kafkiano no facto de uma empresa pública alugar o espaço de cidadania aos cidadãos, espaço esse ordenado não por convenções ambientais mas por áreas bem definidas de sujeição à especulação imobiliária, como revelará a comparação entre as zonas mais caras de taxação com as zonas onde se situam os escritórios e serviços mais caros.
Em Lisboa encontram-se hoje escassas áreas de estacionamento gratuito, de razoável dimensão. As que existem devem a sua liberdade a impeditivos de propriedade ou desatenção do afã em colocar parquímetros que funcionam às mil maravilhas enquanto depuradores do ar atmosférico.  O frenesim parquimetrador obriga a colocar a questão: Será a exploração comercial do espaço público a única forma de ordenamento do estacionamento em Lisboa? Como parece que sim, pode-se comparar o modo de pensar em relação ao estacionamento, como aquele em relação à legalização da prostituição, já que não se consegue resolver o problema, vai de o fazer pagar impostos. Torna-se o Estado português um proxeneta, e com o monopólio da metadona, também um ‘dealer’, mas isto é o progresso. III O trágico disto tudo reside no facto de haver uma consciência clara no que deve ser feito, mas falta de vontade política, ou melhor, não interessa a muita gente com poder de decisão, neste sector da vida pública, como noutros. O que nos leva a confirmar, em Portugal, a resolução do problema nunca é solução. É preferível continuar a ter níveis proibitivos de degradação do ambiente e das estruturas, no ar e no ruído, que resolver a situação e perder a renda das multas e das senhas dos parquímetros. Como estamos, pinga dinheiro para a autarquia e para os gestores. Resolvendo, só ganharia o público em geral. Desincentivar a entrada e circulação de ligeiros na capital implicaria um avultado investimento em acessibilidades, edifícios multipisos de estacionamento gratuito, e uma rede de transportes públicos digna desse nome, e não assente no transporte rodoviário, que deve sempre ser o complemento do transporte sobre carris, verdadeiramente vocacionado para o transporte de massas. Dirá o neo liberal hodierno, que não há dinheiro para coisas à borla como o estacionamento para os gestores da EMEL, e também que o resto do país não deve pagar pelas benesses de Lisboa tanto quanto os lisboetas não pagam as scuts noutras regiões, e isto independentemente das inúmeras apresentações de estudos acerca da incomportabilidade ambiental para a vida das pessoas que acabarão a pagar duas e três vezes mais de forma directa e indirecta. O estacionamento em Lisboa é tão caro, que se paga mais numa meia hora na Avenida de Berna, que num dia inteiro no Entroncamento, e só um cidadão desatento pode pensar que é para evitar que as pessoas do Entroncamento venham para Lisboa com o carro. Estes bairrismos portanto, não devem ser alimentados, Lisboa rende, logo o lisboeta é explorado. Existem baldios, mares de lama no Inverno e de pó no Verão, onde a autarquia não teve meios financeiros ou planos para os locais em questão, mas antes os ‘rentabilizou’ colocando parquímetros topo de gama, marcas imponentes da preocupação ambiental da autarquia governada por um não eleito democraticamente, e que portanto não confirma os votantes como ‘parvos’. Onde não pode a EMEL omnipotente colocar parquímetros, a autarquia autorizou a táctica musculada  de colocação de sinais de proibição de paragem e estacionamento, que impossibilitem o estacionamento gratuito, além dos lugares preparados para o efeito, e pagos duplamente pelo cidadão. Tudo parece querer forçar o cidadão a estacionar onde se paga.
Um exemplo que se pode dar é o da via junto ao Estádio Universitário de Lisboa, entre o centro hípico e a Faculdade de Letras. Na berma onde só estacionavam veículos de tracção às 4 rodas, estacionam regularmente agora com o aplanamento, outros veículos. Primeiro a autarquia tentou evitar o estacionamento colocando lancis a meio da estreita via, o que levou a um coro de protestos por causa dos inúmeros acidentes causados. Depois tentou, ainda com dinheiros públicos, inclinar a berma de forma a impossibilitar o estacionamento, mas de novo o aplanamento de alguns mais teimosos levou ao desfecho final, bastou vir a EMEL com sinais de trânsito e uma carrinha cheia de bloqueadores para terminar um estacionamento furtivo, mas que em nada prejudicava a circulação, ou seja, o critério seria mesmo o de forçar o estacionamento legal e taxado do qual os condutores fugiam, pois justamente ninguém quer pagar. O que chateia à EMEL não é o estacionamento esteticamente reprovável sequer, mas a não cobrança da ocupação desse espaço. IV A EMEL é uma empresa que não produz nada, não traz valor acrescentado a nada, apenas se limita a extorquir dinheiro a partir do espaço público. O modelo de negócios desta empresa e de outras semelhantes baseia-se no princípio da extorsão estatal, que se materializa na rabiscagem de linhas brancas delimitadoras do espaço na via pública e em máquinas de emissão de bilhetes coadjuvadas por sinais de trânsito e por fiscais pagos ao frete na sua missão pidesca. É portanto também um monumento ideológico em honra da xico esperteza nacional, bem lustrada em campanhas kitsch delicodoces que visam amaciar a opinião pública e ir garantindo os lucros para alguns, com essa aceitação. Veja o cidadão quem gere essa e outras empresas municipais.  Assim qualquer um pode ser empresário, não basta saber, é preciso amigos influentes e legislação a condizer. Veja o cidadão quem é quem, e de onde vem cada quem, alguns currículos são públicos. Veja quem é cada gestor da EMEL, cada acessor e cada vogal, e percebe-se que a estrutura se repete por todo o país, e que geralmente é um espaço onde se estacionam, de forma remunerada, alguns veículos bípedes dos partidos. Entre outras, a EMEL representa a forma de ver dos nossos ‘estadistas’ para os quais a solução dos problemas se reduz a classificar o cidadão de contribuinte e cliente. Esta moda empresarial e metafísica na qual nós provincianos portugueses somos sempre os últimos a aderir e últimos a largar, circula livremente desde o gestor ao fiscal de rua, que argumenta com a sua missão ética de ajudar no trânsito e dar graças  por ter um emprego, sempre com o semblante de polícia desconfiado que já ouviu todas as desculpas possíveis, e mais uma. O cidadão prevaricador e cantante não passará a seus olhos de um prevaricador de 2ª.É vê-los ciclicamente em rondas necrófagas controlando o tempo e o espaço, alugados de forma a distribuir equitativamente por todos o milagre do estacionamento. V Observam-se moles humanas migrantes, de poiso estacionário em poiso estacionário para zonas em que estacionar não seja a ‘pagantes’, forçando estas massas para longe das zonas de castas coloridas com que a EMEL divide a cidade. É o condutor forçado ou a pagar a uma gasolineira, ou à EMEL ou aos passes intermodais a preços escandalosos, para poder circular para dentro da urbe. Assim, a EMEL não ajuda coisa nenhuma à ordenação da mobilidade, mas lucra com zonas de exclusão, contra punição pecuniária por causa de um serviço que em nada contribui para o bem estar do cliente ou da cidade, e sendo assim, a EMEL é por definição uma empresa de extorsão estatalmente assistida.
Ergo, já que temos um governo que incentiva o crime de extorsão, e é até um governo maioritário nesse crime, resta ao cidadão recorrer por todos os meios e formas  à desobediência civil como forma de luta mais radical de modo a tornar mais simétrico o esforço de resistência. O cidadão que não possa ou queira pagar lugares alugados pode e deve vandalizar discretamente os parquímetros recorrendo aos vários modos de terrorismo químico e mecânico contra pobres e inocentes máquinas, e assim, sem parquímetros funcionais não pode a ‘empresa’ extorquir-lhe legalmente dinheiro. Relembro que não estará a prejudicar ninguém pois se a ‘empresa’ é pública, também é o espaço que ela ‘rentabiliza’, e que o condutor paga. O condutor paga já por algo que é seu, portanto está no direito de estragar o que lhe apetecer, quem sabe o prejuízo seja tão avultado que fique mais barato implementar um plano franco e lógico de ordenamento territorial e dos transportes em Portugal…

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A sacralidade do esforço

5/8/2012

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Com estes episódios da participação olímpica portuguesa no ano da nossa graça de 2012, e da nulidade de conquistas da nossa comitiva, paira uma interrogação em surdina.




Estaria à espera o português médio, que alguma medalha de reconhecimento externo viesse dar alguma consolação ao peso miserável que sente em ser português no início do século XXI?

A geração suburbana domesticada, envernizada e efeminada que nasceu e cresceu à sombra de uma burguesia de escritório adolescente nos anos 80, adulta nos 90 e senil nos 2000, plenamente integrada na Europa e no quer que seja o ‘projecto Europeu’ -(que passa pelas viagens low cost quando as pontes e feriados permitem ir a Londres tirar fotos para o Facebook ou a Paris assistir a um concerto de artistas que tanto mais valem quanto mais alternativos e difíceis de enquadrar forem, claro está para mostrar aos outros que somos modernos, europeus…)-esta geração espera ser enaltecida através da fraca e esquálida, distorcida imagem de Portugal que acarinham desde a EXPO 98, o Portugal dos campeonatos da Europa e do Mundo de futebol, dos jogos olímpicos, ou dos serôdios e idiotas anúncios de turismo papagueados pelos meios oficiais e com voz off em inglês que se mostram lá fora e cá dentro quando os hoteleiros do Algarve começam a ver que os turistas pés descalços arranjaram uns trocos por melhores pousios…para longe do produto turístico da paisagem e do sorriso.



Não discutindo o carácter inquinado, para não dizer corrupto, que caracteriza hodiernamente os Jogos Olímpicos, verdadeiro campo de batalha ritualizada e fogueira de vaidades, torna-se muito interessante perceber a argumentação do português médio, acerca dos apoios dados ao atleta olímpico. Percebendo os argumentos utilizados, percebe-se o que se passa na sua cabeça, como vê o mundo, e isso não é resultado que se menospreze.



O que se ouve nos cafés, é que só devem ser apoiados os atletas que trouxerem medalhas ou os que ‘derem o litro’.

Ouve-se também que não devem ser apoiados porque fazem vidas faustosas de vida fácil à custa do erário público, e que ‘se eu tive de trabalhar desde os 14 anos e não me fez mal nenhum, eles que verguem a mola e se querem fazer desporto o façam nos tempos livres’. Os cafés nacionais são pródigos locais de recolha para quem quer apanhar pérolas argumentativas deste género.

Também se encontram os defensores, os mais incisivos dos quais são os próprios atletas. Que não é fácil ser atleta de alta competição, exige um esforço tremendo, que as compensações não são diferentes, e mais sabe-se lá o que.

E é verdade.

Mas não o é só para os atletas…que dizer dos pintores, bailarinos, músicos, escritores e toda essa corja que aguarda sedenta e com dentes vampíricos, a possibilidade de arrefinfar as dentuças na tenra carne dos impostos cedidos pela população para usufruto e consolidação do bem comum? Corja de marialvas que querem viver no bem bom à conta do mexilhão…



O importante para mim não é saber se devem retirar dinheiros públicos para comparticipar o que quer que seja que acham que enaltece o meu país.

E qualquer atleta português enaltece o seu país.

E por isso merece todo o seu apoio.

Para mim o importante, é pensar na questão de princípio por detrás do vil metal.

Um país que contribui para o seu próprio enaltecimento é como uma mulher que se embeleza, sem fim prático em vista que não o de ficar mais bonita ainda. Demonstra para si mesma afectuosamente o seu amor próprio.



É interessante pensar que um bom calceteiro também enaltece o seu país.

Que se calhar muito calceteiro que nega subsídio ao atleta, o faz em parte porque um espinhozinho lá bem fundo escondido no seu sentimento de dignidade lhe lembra que não lhe dão o devido valor.

Porque não é também o calceteiro apoiado?

Porque não existem olimpíadas da construção civil?

Ou simplesmente porque existem actividades humanas que os humanos valorizam mais?

Se é certo que demoram anos a desenvolver uma atleta como a Telma Monteiro ou o Nuno Delgado, anos para aparecer uma Rosa Mota ou Carlos Lopes, também não deixa de ser verdade que um bom calceteiro também exige anos de actividade.

O Nuno Delgado ver-se-ia aflito a calcetar o mais minúsculo passeio, e o Phelps exclamaria ‘Damn!’ se lhe pedissem para calcetar vinte metros de calçada à portuguesa à meia esquadria com losangos em basalto, tal e qual como qualquer iniciante de calceteiro, e como os primos, os trolhas ou pedreiros.

Poder-se-à dizer que uns vão além dos limites da resistência humana e do corpo e etc., mas os poetas também vão além dos limites da linguagem, e morrem pelas ruas ébrios como pombos atropelados por táxis, e ninguém se rala.

Não é portanto o grau de dificuldade ou de formação do perito, mas a importância que a comunidade dá à actividade.



Os desportos começaram como actividades práticas que se foram cristalizando em simbólicas, por exemplo, o salto à vara parece mesmo mesmo o acto de passar um canal a varapau. O Judo parece-se imenso com uma arte marcial.

A constelação da ginástica desenvolve corpos e rituais onde se harmonizam movimentos e músculos, mas que são inutilizáveis pela maioria da população no seu dia a dia.

Os desportos especializaram-se, adaptaram-se às regras, e tornaram-se não num hino a si próprios, mas às nações de atletas profissionais, que dão corpo a manifestações públicas de enaltecimento num palco mundial da maquilhagem.

Os desportos competitivos tornaram-se simulacros de si mesmos, e os atletas marionetas das sociedades.

Longe vai o tempo em que o atleta era considerado pela abnegação em dedicar-se a uma actividade que não lhe trazia retorno material, só por carolice.

Por paradoxal que pareça, nessa época nesses bons velhos tempos, a prática desinteressada era mais valorizada socialmente, e logo era também um incentivo.



No palco mundial do desporto, os jogos olímpicos são um palco mundial de vaidades nacionais. As corridas às medalhas são então ridículas. O desporto é um meio e não o fim.

Vi um excelente judoca gaulês, com mais de dois metros e 140 kg de peso, ganhar uma medalha de ouro.

Para que raio precisa um homem desta envergadura, de praticar Judo?

Não há aqui qualquer coisa de estranho em relação ao que pretendia Jigoro Kano?



De 4 em 4 anos as nações continuam a financiar os seus atletas, para estarem presentes e ganhar. Como se fossem os jogos, um barómetro do grau de evolução do país ou cultura, ou da vitalidade de um povo.

Se assim for, Portugal, este ano, ou está parado, ou morto. Até agora nem uma medalhinha.

E no entanto há quem continue a achar que o apoio dado ao desporto é um desperdício…como o dado à educação ou o dinheiro gasto nas forças armadas.

Se é para participarmos, ou fazemos isto com gente que nada recebe e só o faz por carolice, ou então tem de ser tudo apoiado a 110%.

Sem meio termos…com meios termos ficaremos de novo a meio de lugar nenhum.

Apoio total significa não ser condicional, significa não exigir. Significa encarar o desporto como algo valioso por si mesmo, e parte de um projecto civilizacional mais amplo.

Significa apoiar mesmo aqueles que mesmo sem vocação ainda assim contribuem para o prestígio de todos.

Nem tudo está mal. Apenas o mais importante. A mentalidade.

Não apenas dos atletas, mas do público que financia este esforço conjunto.



Exigem ao atleta o retorno do dinheiro que é dado ao atleta para fazer de marioneta para enaltecer a vontade de quem lhe paga.

Puerilmente, se o atleta falha o alvo, como é humano, e arredado do dinheirinho.



Isto dá uma péssima imagem do Estado. E por consequência do cidadão.

O desporto não é uma ciência exacta…Se em dez apoiados, um vingar, isto é trouxer medalhinhas, isto não é optimismo, é ficção.

O fraco apoio, condicional do ‘sem medalhinhas não há apoiozinhos’ deita por terra toda e qualquer fidelidade a um Estado que não é possível de respeitar, e que até se ressente.

Este é o Estado merceeiro, que oscila entre o ‘Deve’ e o ‘Haver’.

O Estado merceeiro é acompanhado pelo povo taberneiro, que debate nos cafés os critérios dos gastos dos seus impostozinhos, afincadamente e com galhardia estes assuntos de maior importância como o desporto, embora passe o resto da vida ignorando activamente para onde vai ou o que é feito ao dinheiro que lhe é extorquido diariamente pelo Estado para rotundas pré eleitorais, PPP’s, leasings automobilísticos e imobiliários, e mesmo bancos falidos.

O povo taberneiro quer acabar com a boa vida dos desportistas de alta competição tirando-lhes os subsídios, toma toma, pois os sacanas só querem é boa vida e andar com as costas ao alto, um pouco como os estudantes que só querem é copos e borga e passear os livros e que para vergar a mola tá quieto.

Só assim se compreende a tão resignada forma de pastar do ‘povo’ perante a austeridade amarelecida e virulenta.



No fundo o ‘povo’ projecta nos outros o que de si pensa, e a forma de castigar quem não lhe mitiga os complexos é uma catarse para os seus próprios defeitos, feita através da sonegação dos apoios que para si próprio não acha merecidos.



Desportivamente é assim Portugal, uma mulher feia que se maquilha sem confiança nos cosméticos e envergonhada por se sentir tão feia, mas que ainda assim, por um acaso de sorte ou de orgulho que teima em morrer, alimenta a esperança de ir ao shopping brilhar ao nível das outras.



A todos os atletas portugueses, olímpicos e calceteiros, o meu muito obrigado pelo vosso esforço em nosso nome.
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