I
O longo interregno de publicação aqui neste espaço, deveu-se a uma decisão minha, quando confrontado por alguém que me era próximo, para eu deixar de discutir política e ideologia.
Tendo em conta a energia que toma conta de mim, e o facto de que consigo bem, terminada a discussão, alienar-me por completo de qualquer ressentimento baseado nela, percebi que se calhar era um mau interlocutor, pois posso levar o outro a um ponto de ruptura, e poucas pessoas se identificam tão pouco com as suas opiniões, que não achem que as mesmas são parte da sua identidade e que portanto um ataque à sua opinião é um ataque à sua identidade.
Não sou nenhum santinho, a minha capacidade de não alimentar ressentimentos com discussões, é porque eu gosto de argumentar e ganhar debates. Tomo geralmente a posição oposta à do interlocutor para poder gerar atrito, e gosto sinceramente do acto de discutir.
Ora há uns 20 anos que anda por aí um movimento que visa tirar-me esse prazer, algo que não posso permitir. E esse movimento é o do politicamente correcto, caracterizado como corpo doutrinal e jargão próprio que visa uniformizar uma mentalidade de colmeia.
A Ordem dos Lavadores de pratos, tem um corpo de funcionários cuja função é representar os lavadores de pratos e informar a sociedade sobre a importância vital desta Ordem na manutenção da qualidade técnica dos lavadores de pratos e da função dos mesmos no corpo social.
Se desaparecerem os lavadores de pratos, ou se se relativizar a importância dos mesmos, lá se vão os subsídios estatais, mecenatos, e eminência funcional dos corpos sociais da Ordem.
O bicho papão deixou de ser uma estratégia de assustar crianças, para ser uma forma de sobrevivência, material e egóica, por parte de quem se dedica a causas sociais, reais, ou supra reais, isto é, realidade com esteróides.
Como o código legal português não tem leis que defendam a segregação racial, há que apelar a um conceito nebuloso que é o do ‘racismo estrutural’.
A melhor definição que ouvi do mesmo, é ordenada simplesmente pelo facto de eu ser branco, não sei o que é sentir na pele (não passo o trocadilho) o racismo estrutural.
Tal como não posso falar do aborto porque não tenho útero, mesmo que na concepção, 50% do código genético seja meu.
Como o código legal português pune discriminação de género, há que apelar a um processo revolucionário em curso (que nunca poderá ter fim) para mudar as mentalidades acerca de um suposto machismo…estrutural.
Apontar isto, provoca desde logo uma admoestação «-Como és capaz de negar que existe racismo e machismo?», não nego.
Não os considero é generalizados, ou seja numa teoria de conjuntos onde o conjunto maior inclui todos os portugueses, um conjunto tem racistas e machistas, e apreciadores de açúcar na sopa. Mas não se pode caracterizar o conjunto dos conjuntos, como definível pelas partes.
Mas é isso que se faz, não chega para o justiceiro social, culpar uns marretas eugénicos que andam para aí. Não, a dopamina que recebe é tanto maior, quão maior for o moinho contra o qual se estampa.
O Estado.
A sociedade.
A cultura.
O país.
O gajo ou gaja que se oponha à minha dose.
Torna-se pois, divertido, ver os defensores da justiça cometerem injustiças, os defensores da tolerância, serem intolerantes com os que não pensam de forma igual, e os justifiquem num microcosmos que se valida em si como se fosse uma família nobre transeuropeia de época moderna, casando entre si, para não perder propriedade.
Os ismos nunca terão fim, a sua finalidade não é acabarem com o motivo da sua luta, mas manterem a luta perpetuamente, de forma a justificarem a dose (dopamina libertada por causa do achar que a sua moral é superior, mais justa e humana que a dos outros), de forma a condicionarem o comportamento dos outros de quem precisam para ser o ‘inimigo’, de forma a mostrarem ao mundo que a eminência social, o ser de boa moral são os valores na moda e que eles, justiceiros sociais, estão na moda.
Sonho por um tempo em que terei um privilégio que dizem que tenho, se calhar tenho mas não me consigo aperceber porque se sempre tive, não sei que tenho, apesar de nem saber qual é.
Um tempo em que por ser homem e mais ou menos branco dependendo da estação do ano, a senhora que me serve a bica me trata com mais deferência, ou o gajo que refila na fila para o passe social, refira todos os males do mundo e todas as discriminações, e olhe para mim apontando o dedo e dizendo que também eu e os meus antepassados foram vítimas de discriminação.
Por acaso tem razão, porque foram todos pobres, mas isso não é chique nos dias de hoje, a não ser que malhemos no ‘sistema’.
O sistema perverso, contra o qual lutam porque sabem no fundo, que o seu nível de conforto material é devido à exploração de outros, mas não querem abandonar os seus privilégios de classe média, portanto sendo melhor filmar as agressões que fazem aos polícias, a propriedade que destroem, com os smartphones que o sistema providencia, onde combinam as vigílias, e lutam contra o racismo, esquecendo os que morrem nas praias que levam ao canal do Suez, pois tentam fazer pirataria em alto mar ou morrer de fome numa costa oriental africana.
Os justiceiros sociais não querem saber das causas. Há uns anos atrás, era a ideologia das causas fracturantes.
Hoje é a ideologia da fractura.
Temos, de nos autoflagelar pelo quer que seja que os antepassados fizeram.
Não se percebe se é superioridade moral ou apenas imbecilidade.
Não existe autodeterminação, e o pecado é hereditário.
Tal como a riqueza da nobreza de outros tempos.
Minha rica esquerda europeia, o que fizeram de ti?