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A máscara e a congruência – Parte 3

9/14/2015

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V

            O Costa do castelo, ou seja o líder socialista António Costa, veio a terreiro defender que o drama dos refugiados é afinal uma oportunidade, desta feita não para os portugueses emigrarem, pois isso seria escandalosamente próximo do seu oponente no mesmo espectro político, mas para encetar a maior campanha de repovoamento a seguir à realizada logo a seguir à fundação da nacionalidade, na Alta Idade Média.

Com refugiados. Sírios. Islamitas.

Curioso como a História parece repetir-se, desta vez só alterando a confissão religiosa.

Uma espécie de Reconquista Cristã, ao contrário.

Nada temos contra a confissão religiosa em si, ou contra o acolhimento de pessoas que escapam a guerras que não provocaram e procuram abrigo noutras paragens.

Mas há que pensar na forma como os nossos políticos olham para o mundo.

É que para o líder socialista, os refugiados viriam para o nosso interior desertificado, sem escolas, esquadras de polícia, bombeiros ou hospitais, para trabalharem nas florestas e na agricultura.

Para o senhor Costa, retirar a possibilidade destes refugiados do Norte de África e do Médio Oriente  de rumar ao El Dorado além Reno, parece um presente solidário.

Oportunista e bom leitor do espírito reinante, como qualquer político aspirante ao poder, o senhor Costa tenta surfar a onda de solidariedade moral, que está a varrer, lado a lado com a reacção à entrada de corpos estranhos, o continente europeu.

Já vimos isto com Maddie, ou com o 'Salvem Timor' e a palhaçada do Lusitânia Expresso,  de vez em quando surgem assim umas campanhas de massas apelando a uma adesão moral a que é de bom tom mostrar que se partilha, transformando as causas verdadeiras em mais uma moda apalhaçada.

A fuga dos refugiados parece ter como alvo os arredores do Ruhr, para o centro da Europa ignorando por completo as periferias, o que não deixa de ser irónico.

A Alemanha vítima do seu próprio sucesso.

Estes refugiados sabem o que querem e o que não querem, são desesperados mas não a qualquer preço.

Esse foi o erro de Costa, motivado por anos de vida em redoma, ou por manifesta infelicidade nos pensamentos e nas palavras.

Deve ter pensado que os desesperados vindos do 'deserto' se contentariam em tornarem-se escravos em país alheio. Esta gente que vem da Síria, viveu num regime cruel, e cuja guerra civil foi despoletada por maus anos agrícolas e conflictos sociais que emergiram por causa da ocupação das terras.

Está-se mesmo a ver esta gente a querer ir fazer o que os portugueses não querem fazer, por causa da desconsideração que se considera ser um ordenado baixo, trabalho repetitivo e sem muita consideração social.

Esta espécie de cinismo, no qual os refugiados são metidos onde ninguém quer viver, e onde o Estado não investe um tostão para fixar populações envelhecidas, não é mera infelicidade de informação. Revela ao invés uma concepção social e antropológica que deveria colocar de sobreaviso os eleitores para o próximo acto eleitoral, se eles não votassem exclusivamente por caras e preconceitos.

A simpatia para estes potenciais refugiados é coerente pela demonstrada ao camarada de partido, Zé Seguro.

Para Costa como para Coelho, o 'C' não é de curto circuito mas de complementaridade.

Para Costa como para Coelho, qualquer emprego é melhor que nenhum emprego, e quase que é ofensa se um sírio recusar trabalhar de Sol a Sol, para os exemplos de gestão que encontra nos patrões portugueses, que pagam bem e que já têm as explorações agrícolas a abarrotar de emigrantes, os únicos afinal que conseguem fazer render os ordenados de miséria, requisitos para não perder competitividade.

Há contudo aqui uma diferença visível entre a direita e a suposta esquerda portuguesas.

Se o senhor Coelho se lembrasse primeiro (como o Futebol Clube do Porto se lembrou das doações de 1 milhão de euros para a causa como forma de passar um pano por cima dos inusitados investimentos no plantel de futebol) já o estado português teria firmado protocolos com empresas de serviços e telecomunicações recrutando em regime de trabalho temporário e a recibos verdes, o que faria esta gente toda revitalizar o mercado de trabalho, fazendo os portugueses nestas condições ter de trabalhar mais e deixarem de ser piegas, pois malta que vem do deserto e da guerra, trabalha por tuta e meia, ou melhor, ajuda a aumentar a competitividade.

Baixar os custos do trabalho?

Vinde irmãos, esta é a nossa prenda em nome dos antepassados fenícios em comum, somos solidários, vinde se trabalhardes para nós, a fazer o que não queremos, num país com desemprego alto apenas porque os autóctones não querem 'vergar a mola' como diria o camarada Jerónimo.

A dupla CC (Costa e Coelho) não antevê qualquer critica de conteúdo às palermices que vai dizendo e fazendo. Por um lado dizem claramente que Portugal é um país pequeno que não tem peso no mundo, e que só à conta de esforço e competição nivelada por baixo com colossos populacionais é que nos safamos. Mas cada um destes líderes sente-se mandatado como Duce de grande potência nos 'recados' que manda à 'Europa' via câmaras das estações televisivas, que abjectamente os procuram para todo o tipo de comentário relevante ou nem por isso.

Não consta até ao momento, que as estações passem o recado ao destinatário, ou que a 'Europa' acordada pelo ímpeto de tais mensagens e do peso de tais líderes reconsidere o natural atavismo do seu proceder. Os discursos são portanto semelhantes aos impropérios que condutor azelha diz a outro que o chama à atenção por uma infracção no trânsito, levando a mulher ao lado.

«-Só não lhe dou porque ele fugiu num carro mais rápido!» - isto é, são discursos para português ver.

Mas o tuga gosta.

Epá o Costa ontem mandou um recado para os gajos que os gajos até amouxaram. O Coelho ameaçou de porrada com um espanador de penas que eles até tremeram.

Este fingir que mandamos alguma coisa agrada ao português comum, que durante alguns instantes não se sente tão irrelevante e miserável.

Nada interessa perceber a ingerência europeia e americana nos conflictos no Sul do Mediterrâneo, desde os bombardeamentos na Líbia ao braço de ferro com a Rússia na Síria, ou o interesse americano, que por muito menos por duas vezes invadiu o Iraque, colocando o Médio Oriente a ferro e fogo.

Nada de criticar uma Europa que agora exige solidariedade quando antes exigiu austeridade, mas só agora que a crise chega ao centro da Europa, pois se ficasse nas orlas, o problema seria à mesma dos PIGS.

Enquanto o problema estava no Sul, o céu na Alemanha estava azul.

Este dito engraçado não é do camarada Jerónimo.

Costa e Coelho não podem criticar uma Europa que recebe refugiados em catadupa, especialmente para o emprego disponível. A federação alemã, vem buscar médicos à porta das universidades portuguesas, e isso ainda é como o outro. Juntar sírios não formados e misturá-los com milhões de turcos que há anos formam a maior comunidade de 'estrangeiros' aos quais não sabem o que fazer, tal como os franceses, como periodicamente podemos ver nas notícias.

É que se souberem jogar à bola, podem ser naturalizados, se não sabem, é difícil.

Mas a própria Europa tem sido solidária por interesse próprio, pois recebe imigrantes desde os anos 60, para baixar o custo do trabalho, para ter gente a fazer o que os autóctones não querem fazer.

Agora tem de lidar com comunidades que não se integram numa certa forma de estar mais ou menos comum de Lisboa aos Urais.

Não porque estas comunidades sejam más ou mal dispostas, pura e simplesmente porque não abandonam as suas tradições e culturas.

A questão dos valores culturais tem repercussão directa sobre o saldo demográfico destas comunidades.

Não se trata de uma questão de racismo ou de negar auxílio aos refugiados.

Trata-se de enunciar rapidamente, que é um assunto que tem de ser debatido.

No exemplo português, há muito que se abandonaram quaisquer tentativas em larga escala de manter uma cultura portuguesa e já nem falo da quantidade de músicas em português que passam na rádio. Portugal não está na moda, especialmente para os portugueses, nem quando o Mourinho ganha mais um título.

Resta erradicar o caldo genético de 8 séculos, matando os velhos nos lares e recebendo toda a emigração possível, desde que se impeça os jovens autóctones de procriar e enxotá-los daqui para fora o quanto antes.

Lembro até certa intervenção do senhor Marcelo Rebelo de Sousa que exortava à importação de malta para trabalhar, pois iriam ser esses a meter o dinheirinho para a nossa (dele) segurança social, ergo, reformazinha.

O senhor António Guterres, teve discurso semelhante aquando das obras de construção da Ponte Vasco da Gama.

Que mal fizeram os portugueses para serem tão mal tratados?

Eu não defendo a entrada de nenhum refugiado em Portugal, enquanto os portugueses forem o povo mais racista da Europa. São racistas, porque odeiam, não suportam, portugueses.

A dupla CC não tem interesse em colocar estas questões na mesa. Só interessa privatizações e contas furadas, sem qualquer plano de futuro que não passe por acenar com chupa-chupas aos emigrantes para voltarem para onde nem os refugiados querem ir.

Mesmo na 'Europa' se observa esse sentimento de estranheza.

Quem está a financiar esta vaga de refugiados?

Como é possível uma diáspora a partir de viagens dispendiosas, a partir de países em que para comprar um Iphone, um ano inteiro de trabalho não chega?

Portugal, palco de uma guerra civil de luva branca, país com 5 milhões de nacionais fora do seu território natural, tem legitimidade para pensar este assunto com a profundidade que merece?

Um em cada três portugueses não está em Portugal.

Não somos também um país de refugiados?

Podemos criticar o monstro burocrático europeu, que com suas conivências e ingerências ajudou a criar o caos à porta de casa, e fez emergir a abominação do Estado Islâmico?

Pelas redes sociais, é tudo uma questão entre a boa moral e aqueles que acham que têm de reeditar as cruzadas contra os mouros.

Ouvi dizer que Tânger é bestial nesta altura do ano.

Pouca gente se insurge contra o aborto europeu, ocupados que estamos a mandar vir smartphones da amazon.uk e a vender queijo dentro de azeite gourmet para a Alemanha.

Nem tudo está mal, o senhor Garcia Pereira, esse radical, já fala de saída do Euro, o que já mostra que a ideia se está a entranhar. Sempre teve faro para onde daria o vento, e com o descalabro grego, parecia que nunca mais iríamos sair desta nau dos loucos.

E não vamos porque a malta sente que esta nau Portugal, não tem futuro.

Primeiro porque estamos habituados aos gadgets e aos problemas da gula que afligem os países desenvolvidos como nós. Macacos nos mordam se daremos algum passo atrás.

Ninguém quer saber porque coincide esta vaga de miséria humana com os apelos à criação de um exército único europeu. Faz todo o sentido, somos todos europeus, apesar de uns serem de primeira e outros de segunda, pois uns são formigas e outros cigarras.

Os mercados exigem que a Europa se revele uma potência mundial, evitando o fim do seu processo centralista ao mesmo tempo que crianças mortas dão à costa e as classes médias se sentem horrorizadas e aliviadas com a sua sensibilidade. As mesmas classes médias que legitimam os cúmplices dos dramas que batem à porta e que daqui a nada desaparecem porque deixam de ser noticiados.

Pela primeira vez no século XXI todos os comboios vão dar à Alemanha, desta vez em sentido oposto ao que no século passado marcou o maior horror na história do velho continente.

Portugal perdeu mais uma vez o comboio da História.

Entretanto resta-nos ir delirando com os políticos que fornecem a ilusão da alternância democrática, e lavar as vistas em periódicos cor de rosa.

Bem isso é uma redundância.

A política é entretenimento.

Que me interessa onde o 33 vai votar.

Que interessa as coligações, que interessa toda a ficção jornalística que visa a mistificação do processo político?

Não vale a pena ter esperança no futuro.

Os profissionais da propaganda e os profissionais da política vão continuar a surfar as ondas da moda de pensamento.

Portugal é a zona de rebentação de uma praia, ora se estatelando na areia, ora ganhando força andando para trás para se voltar a estatelar no areal.

O que vale é que a malta gosta.

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A máscara e a congruência – Parte 2

9/14/2015

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IV

            Também supostamente à esquerda, seja caviar, ou a ovas de carapau, encontramos a celebridade mediática Joana Amaral Dias.

Na altura em que este texto foi escrito tinha acabado de sair aquilo que segundo a visada foi um chamar de atenção à hipocrisia mediática, em forma de foto nua, com o rapaz por trás, e grávida de uma criança.

Num primeiro tempo chamou-lhe homenagem à gravidez e à mulher. Como um motivo só não chega, vai de expor a hipocrisia dos media.

Entretanto já correram rios de tinta sobre o assunto, que disputou brevemente, a atenção ao preso 33.

Quer-se lá saber das próximas eleições, já todos assumimos que nada vai mudar.

Rios de tinta correram, alguns mais perspicazes que este.

Mercê de uma beleza assinalável, devida aos cabelos louros e sorriso fácil quando não defende a feminilidade dos cidadãos, a senhora Joana Dias embarcou na aventura do Bloco de Esquerda desde a sua fundação, e desde a mesma foi deputada precoce, assinalável pelo tom colorido que colocou em bancadas pejadas de fatos de fazenda cinzenta e azul.

Anos mais tarde militaria nas fileiras presidenciais do senhor Mário Soares, esse revolucionário de esquerda que adoptou inúmeras ideias bloquistas.

Parece que também foi a forma encontrada por esta psicóloga para dar uma pedrada no charco, ter a coragem de fazer algo de diferente, marcar a sua qualidade de mulher, denunciar hipocrisias, ao serviço do mais antigo político em exercício, responsável por políticas progressistas de gaveta.

Ah mulher de têmpera, amazona da coerência!

Tal não foram as ondas de choque provocadas pela sua presença na bafienta política portuguesa, que foram movidas campanhas contra si, a mais célebre, aquela que dava conta de ser proprietária de um veículo de marca Mercedes-Benz e de modelo CLK, uma bomba na altura, e com o qual se deslocaria para o Parlamento não abdicando do subsídio para o passe social dado aos deputados.

Cedo esclareceu esta campanha caluniosa movida por forças obscuras ameaçadas pelo seu brilhantismo.

Ao longo dos anos as suas intervenções mais acaloradas, prenderam-se com os direitos femininos, baseados no argumento recorrente de que tinha de haver acesso e liberdade para melhores condições retributivas para as mulheres, a par dos homens, pois mais mulheres acabavam os cursos nas universidades, e com melhores notas.

Nunca se dignou a explicar o porquê dos homens serem burros ou madraços, nem de clarificar as estatísticas onde se baseava, como professora de Psicologia, nunca foi muito de frequentar universidades de Engenharia.

Confesso que nunca entendi esta concepção de igualdade, uma vez que é estabelecida uma meritocracia baseada na realização académica.

O que significa que a desigualdade salarial é tão inevitável como desejada entre profissões, como entre géneros, especialmente se o género feminino tiver mais 'cabeça' para a 'escola'.

Parece portanto que o mérito académico está irrevogavelmente associado à competência em todos os aspectos da vida laboral, e que por isso os burros ou os mamões devem ter um ordenado digno, mas inferior aos que foram alunos de excelência.

O que é sinistro para quem enverga a máscara de ser de esquerda.

O anti aristotelismo da senhora Joana Amaral Dias sempre a levou a combater vigorosamente todos os estereótipos associados à mulher mesmo alienando metade do eleitorado, o eleitorado masculino.

Boa parte deste eleitorado, efeminado por campanhas de marketing publicitário que cada vez mais se baseiam na flagelação do masculino, aceita bem a Joana Amaral Dias que conhecemos, porque é uma cara bonita aliada a uma inteligência combativa, que faz perdoar todas as diferenças ideológicas que se possam interpor. E por isso nem se considera desconsiderado com as intervenções da frontal Joana Dias, quer porque interiorizou esse cilício interior de que tudo o que é masculino não tem beleza, quer porque é de homem flagelar-se no altar da deusa.

Afinal, homem que não gosta de qualquer mulher não é homem, já o profetizava José Rodrigues dos Santos com as suas carinhas marotas esgalhadas no final do Telejornal quando era moda acabar o mesmo, sempre com passagem de modelos.

A convicção profunda, aliada à sede de protagonismo, não permitem qualquer leitura de hipocrisia no comportamento da senhora Joana Amaral Dias.

Ela acredita mesmo na imagem que acha que projecta. É essa a sua máscara.

Tem de acreditar. Construir mundos nos quais o ego sai sempre à melhor luz, é o trabalho fotográfico que o próprio ego tem de fazer em qualquer pessoa, como forma de sobrevivência, como mecanismo filogenético, que levado ao extremo se designa de mitomania, mas nada como Joana Dias para o esclarecer, em virtude da sua formação.

A Joana, acha que posando nua para uma revista cor-de-rosa, provoca um debate sobre os 'direitos da parentalidade, da maternidade' tão atacados nos dias que correm. Não que Joana Dias não tenha razão. Ao longo do tempo tem quase sempre tido, mas isso também se pode dizer de qualquer demagogo.

A demagogia tem sempre razão. O crime do demagogo é usar a verdade coeva em seu benefício, o castigo é perder a credibilidade, 'ah, é demagogo'.

Joana sabe isto, é autora até de um livro sobre o que os políticos têm na cabeça.

Joana não cometeu nenhum crime, de facto, apenas de gosto. Escarrapachou o mau gosto, aliado ao pudor que ainda temos de misturar política com coisas comezinhas. O problema não foi posar descascada. Foi querer seriedade depois de posar descascada. E foi por antes, ter exigido seriedade aos outros. Mas nós, opinião pública, castigamos Joana pela sua adesão às doutrinas de São Tomás?

Não. O camarada Relvas, teve a audácia a que nos acostumou, de voltar a aparecer no pequeno ecrã, desta feita para comentar o indigente debate do seu amigalhaço primeiro-ministro. Menos vergonha teve a estação televisiva que pagou o favor colocando-o no ar.

Não faço aqui uma comparação entre ambos, minha rica Joana, apesar de tudo.

Ambos padecem das fraquezas do ego. Relvas não acredita no que diz - é apenas um meio - e a vox populi sabe-o.

A vox populi tinha a esperança que Joana acreditasse no que dizia. 

O senhor Relvas é um 'empreendedor', e a malta sabe e aceita.

A Joana tinha a pretensão de seriedade e do hastear da bandeira dos fracos e oprimidos.

A malta acredita mais na malandragem da equivalência académica e do turbo-deputado, que na filantropia desinteressada.

Foi isto que a professora universitária não percebeu.

Para os verdadeiramente interessados no bem comum, quiçá os de esquerda, o parecer é tão ou mais importante que o ser.

A utilização da sua imagem, mesmo que além de uma vaidadezinha ou busca de atenção à la miss esquecida pelos holofotes mediáticos, é o que a malta não lhe perdoa.

Uns sabiam que a manipulação da verdade, isto é, a demagogia, era só fumo. Outros acreditavam mesmo em Joana.

Esses são os que mais a criticam agora que deu o passo para as páginas centrais de uma revista sem conteúdo.

Que um jogador de futebol faça isso, que um cantor coloque um disco  à frente dos seus países baixos, ninguém critica.

Que a Joana, ex deputada arauta dos fracos e espoliados, o faça, lança a sombra sobre as suas intenções.

Queixa-se nas redes sociais (onde os séquitos criam ambientes propícios para mais manifestações de egos magoados, ou nos jornais que procuram sempre a nova polémica) que o que fez foi para chamar a atenção para o conteúdo político das propostas do partido onde agora milita e que ajudou a fundar, esquecido pelos debates com impacto mediático forjados pelas estações televisivas que formam os elegíveis e desde sempre cilindram as forças políticas menores.

Como se no tempo que leva de política Joana não soubesse que é assim a 3ª República.

Além de que, não me lembro de a ter visto descascada em idade mais recuada, logo mais a jeito de atitudes acaloradas, quando puxava pelo Bloco de Esquerda.

Como uma desculpa não chega, criticou os media e a opinião pública por causa de não prestarem atenção ao que publica como académica, mas que se aparecer desnuda não se calam com isso.

Que o seu corpo sem roupa, que a derme à luz do calor do estúdio fotográfico, são os instrumentos para denunciar a hipocrisia que ainda grassa na sociedade burguesa portuguesa.

Que a foto estilizada sem Photoshop, que a foto 'just Joana + partenaire'  serve também para denunciar o direito à maternidade, à paternidade no sentido de direitos laborais atacados pela desregulamentação levada a cabo por este executivo governativo, que faz com que as pessoas não tenham filhos, que as mulheres apertem as mamas para ver se sai leite para provarem que estão grávidas, ou que andem sempre com o credo no coração pois uma gestação é quase sempre sinónimo de despedimento, e Joana mais uma vez tem razão.

Mas não podemos deixar de nos perguntar, qual o elemento em comum, além da genialidade desta académica, para três razões díspares de denúncia, coincidirem nas fotos do corpo nu de Joana.

Como é que o corpo nu de Joana denuncia ao mesmo tempo a hipocrisia de uma sociedade medíocre e mediática, de uma sociedade suicida demograficamente e de desregulamentação laboral,  e de uma sociedade que presta pouca atenção aos académicos e ao que produzem, a não ser para escarrapachar os títulos nos folhetos de propaganda política ou nos jornais como forma de garantir seriedade e atestar competências?

Este, pelo menos 3 em 1, parece o que é, uma desculpa.

A nudez da honestidade, ou a honestidade da nudez teria sido verdadeira se Joana tivesse admitido que estava com saudades de ter as atenções para si voltadas. Que um ego insuflado exige alimento constante.

Joana parece portanto não servir a verdade, mas servir-se dela, não o admitindo. É esse o pecado de Joana Amaral Dias.

O amor ao próximo e a uma sociedade mais justa, parecem ser portanto, não as raízes da sua acção política, mas os meios de colmatar outro tipo de fome.

A verdade é revolucionária, e nem sempre a verdade é a nudez. Neste caso a nudez cobre a mentira.

Pondo de lado estas considerações só resta fazer uma exigência à classe média da boa consciência, bem como um lamento.

A representação da República portuguesa deve ser alterada, o modelo das futuras estátuas de peito desnudo, devem ser feitas a partir de Joana Dias como modelo desses mármores do futuro.

Ela pode aparecer assim como a representação da pureza do nosso regime político, na forma aligeirada de vestes que desde sempre revestiu a propaganda republicana.

Temos de lamentar, que o corpo do cidadão anónimo não tenha igualdade de impacto circunstancial, como o corpo de mulher bonita e inteligente. Embora a inteligência não seja visível na nudez.

Além de anónimos, temos de nos contentar, com a total indigência de poder revolucionário.

Se o tivéssemos, podíamos acompanhar Joana na sua cruzada, e Portugal seria um país mais justo só porque passaríamos o tempo a gastar a pasta de papel obtida nos incêndios de Verão, em revistas panfletárias cujo o único conteúdo seriam fotos dos nossos corpos nus.

Quem é Joana Amaral Dias?

É uma política, professora universitária e activista portuguesa. E é bonita. Mas isso é o que menos interessa, tal como estar grávida. Ser bonita é relativo, estar grávida é uma questão pessoal, aparentemente recorrente no género feminino, e felizmente, comum.

Foi convidada para posar nua na revista 'Cristina' por ser professora universitária?

Não creio, não é habitual ver professoras universitárias descascadas nas revistas portuguesas, embora esteja aberto o precedente.

Tivemos uma professora do secundário, em Mirandela a presentear a beleza das suas carnes ao olhar público, mas é sinal de progresso o aumentar do grau académico dos nudistas, acompanhando o espírito dos tempos, antigamente também exportávamos trolhas para a emigração e agora exportamos médicos e engenheiros.

Também não foi por estar grávida que a convidaram, por certo. Existe muita grávida que facilmente faria o mesmo trabalho de pose, se obtivesse convite. Felizmente a gravidez, embora não nos números desejáveis para um país à beira da extinção, é algo de comum.

Infelizmente nem todas as grávidas posam para revistas.

Parece portanto, que o critério foi a notoriedade.

Porque é que uma Maria de Lurdes Pintassilgo, Odete Santos ou Maria Helena Rocha Pereira não posaram nuas em revistas?

Dirá o pedante, que se calhar não foram convidadas, dirá o perspicaz que se calhar foi porque defendiam a rejeição completa dos lugares comuns em relação à mulher, incluindo a reificação do seu corpo. Mesmo que para supostamente 'defender' um direito à maternidade e ao corpo.

Para Joana não. O estilo, ou gosto é diferente.

Tal como se encontra na festa do Avante, uma ou outra banca de fast food imperialista, na tal lógica de que destruímos o sistema com os trocos do sistema, denuncia-se a hipocrisia do sistema com a hipocrisia do sistema.

Oh sistema que reificas as mulheres, toma lá nas trombas as fotos que denunciam a tua reificação.

 

Joana foi convidada para posar por ser bonita?

Não só. A beleza, felizmente é tão relativa como vulgar.

Se todas as mulheres bonitas portuguesas fossem convidadas a posar nuas, Portugal passaria a ser um dos maiores importadores de pasta de papel do mundo.

Joana foi convidada a posar nua porque ninguém estava à espera que o fizesse.

Se a concorrente de um qualquer reality show aparecesse desnuda, tal seria normalíssimo e esperado, exigível até. Nem provocaria muita curiosidade tal a normalidade com que acontece.

Joana foi convidada porque teve um papel político e mediático, que contrasta, ainda que minimamente com o papel desempenhado num reality show. E por isso ninguém estava à espera o que só aumenta o apetite e impacto do acto de posar. Afinal, 'Cristina' é feita para as vendas.

Joana é convidada porque tinha hype.

O mediatismo é algo que é dado, raramente conquistado.

O relevo político é algo que é conquistado e raramente dado.

Foi a síntese perfeita destes dois factores que brindou a nação portuguesa com a longamente aguardada exposição da intimidade corporal de Joana Dias.

A osmose entre mediatismo e papel político é tal hoje, que não há uma distinção clara entre os dois.

Joana sabe-o. E usa isso a seu favor.

Mas nem por isso desejamos o despir de pudores de personagens truculentas como o senhor Pires de Lima ou o senhor Jorge Coelho, ao lado do senhor Ricardo Quaresma na sua luta cívica pela nudez.

Louvada nas redes sociais, Joana aparece como a heroína da vida privada travestida de questão 'fracturante'.

Aquela que mostra a sua faceta humana além da política, dona do seu corpo enquanto visto por outros, exactamente porque não é uma como as outras, foi feita pelo mecanismo mediático, e pôs-se sempre a jeito disso, alinhando sempre em quase todas as solicitações feitas para diferentes formatos mediáticos.

Mas nunca foi a única a fazê-lo. Se não se critica um político por pertencer a uma direcção de clube de futebol, porque se haverá de criticar uma política de aparecer numa revista de acontecimentos?

A separação dos papeis, é contudo, vista assim, com preocupação. Joana ao desnudar-se cumpriu o mais salazarento cliché, que provavelmente nem a Salazar lembraria.

Daqui para a frente é claro que o tempo de antena de Joana não decorre pelo seu labor político concreto, que o tem, com mérito. Decorre pela sua imagem, ah aquela que apareceu nua, a denunciar não sei o quê e que dá, literalmente, o corpo às balas, perdão, às objectivas.

A ironia reside no carácter pioneiro e inconsciente por parte da personalidade política de Joana Dias.

Se antes, o corpo feminino aparecia em tudo o que era folheto comercial, de berbequins a desodorizantes, de bolachas de cereais a rebuçados, depois de Joana, o corpo feminino serve também para vender mediatismo político.

Político? Politiqueiro.

O simples escrutínio da forma e do conteúdo do comportamento da activista em questão só pode reforçar a ideia de utilização do binómio mediatismo/poder político. O peso político dependendo da visibilidade, e a visibilidade dependendo do peso político explicam cabalmente as razões de Joana.

De todo, não querendo comparar, nem sendo comparável, há contudo que lembrar o caso de uma parlamentar italiana de nome Cicciolina. Acusada de tiques de vedetismo primário, e de contribuir para a redução do prestígio da política do seu país, também Cicciolina se fez arauta da liberdade sexual das suas conterrâneas, dando também ela o corpo ao manifesto.

Na História que se repete como farsa, Joana a esta luz, é mais um prego no caixão da ideia que o destino da mulher não é o seu corpo.

Num aparente golpe de rins em relação à reacção provocada por suas carnes brancas expostas na comunicação social, nas redes sociais e em alguns jornais Joana Amaral Dias insiste no argumento da denúncia da hipocrisia como móbil da sua acção. Como soa bem e de desculpa serve, volta a posar nua, e a utilizar a sua filha por nascer como expressão da sua adesão a um ideal, ou uma denúncia.

Como deve ser lida esta suposta irreverência?

Como a instrumentalização do seu corpo, com a instrumentalização da sua prole, com a instrumentalização do seu sexo.

Joana Amaral Dias, talvez surpresa pelo impacto que teve mediaticamente, que sempre buscou (mas não em doses de cavalo que a erotização de um corpo nu em revista permite), operou uma fuga para a frente.

Politizou o seu corpo, se acreditarmos na sua desculpa, politizou o seu sexo, politizou a sua gravidez, ou seja, politizou publicamente a intimidade que diz defender com o corpo nu.

A politização como forma de ter protagonismo. É a própria Joana que o diz quando se queixa de ter pouca atenção mediática.  

Assim se reificam as convicções, se elas não eram já máscaras.

A Joana Amaral Dias nua?

A Joana Amaral Dias grávida?

Esta raríssima combinação de estados confundiu todos os aristotélicos.

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A máscara e a congruência – Parte 1

9/14/2015

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I

            A máscara é algo de muito interessante.

Na origem era um artefacto destinado a ocultar a identidade do portador.

Simultaneamente a máscara permite a adopção de outra identidade, não só ocultando, mas mostrando outro algo.

O ipsum é duplamente camuflado.

A máscara é o meio operador sobre a imagem ou visibilidade da mesma, que emana naturalmente de qualquer ente que deixe rasto.

Subsumindo, a máscara esconde, e revela outra coisa, que não passa de outra forma de esconder.

Forma negativa, ocultando, e forma positiva, mostrando o tal outro algo.

Como a questão da verdade e da mentira são coisas complicadas, especialmente se como os mais puritanos, tomamos por ponto de honra a adequação da coisa em si à coisa para si, ou à coincidência  da aparência (na forma de discurso) à essência, então devemos supor que a projecção de uma imagem a partir de uma ipseidade só pode corresponder a que essa ipseidade não é o que quer projectar, pois se o fosse não tinha necessidade de mascarar.

Exemplificando de forma popularucha e boçal, o bruto projecta-se como sensível, o fraco como forte, o feio como belo, etc.

Se já somos o que somos, não precisamos de mostrar o que somos se aquilo que somos é o que queremos que os outros querem ver.

Isto torna-se giro, pois quem tanto se preocupa com o que os outros veem, dá por si a efabular loops psicadélicos, como por exemplo mostrar aos outros que não se rala com o que eles pensam, revelando assim a contradição daquilo que pretende mostrar, ou seja, rala-se com o que os outros pensam dele ou dela, e quer que pensem o contrário.

A necessidade de tais ancestrais malabarismos, tão velhos como a humanidade, revela que há benefícios a tirar de um rosto mascarado.

Naquilo que se esconde e no que transmutado se revela.

Um desses benefícios é o do feedback loop. Falta-me o termo adequado em português, lamento o estrangeirismo. O mais adequado na nossa língua talvez fosse ciclo vicioso, mas tal deixaria de lado a tónica egocêntrica do fluxo.

Quem projecta uma imagem para outros verem, recebe em troca algo. Aprovação.

Por sua vez a aprovação é a moeda que compra o valor.

Um bom carro e uma mulher boa e bonita ao meu lado, servem perfeitamente para eu mostrar o meu sucesso aos observadores, e através da sua reacção comprovar fora de mim aquilo que preciso de confirmar em mim próprio, não por crença na minha vida interior, mas porque comprovei lá fora, nos outros, o valor que tenho.

Sejam nestes apêndices ou noutros. Sejam artefactos ou não.

A preocupação com a imagem pública extravasa as intenções meramente higiénicas ou societais.

É uma questão do foro psicológico, bem sombria e angustiante.

E generalizada. Quantas vezes não ouvimos outros e outras assumir com a maior das naturalidades que o valor próprio é aferido de forma mediata, através da reacção dos outros?

Nem vale a pena perder tempo a rebater, que a interpretação da reacção dos outros está toldada pela crença interior que já formulámos para nós próprios.

Por exemplo, se um tipo se convenceu que andar com as cuecas espreitando por fora das calças rebaixadas até meio dos glúteos, então todas as reacções que receber, mesmo que do mais frontal repúdio, vão ser interpretadas de forma positiva como o mesmo estando bem, dentro da moda, sujeito plenamente integrado e sofisticado.

II

            Há uma mistura erótica de insegurança e malandragem no acto de mascarar.

E delicioso e dramático observar como espectador ante peça teatral, a espécie sapiens sapiens no seu afã de dissimulação.

Há máscaras ocasionais e máscaras duradouras. Não deixam de ser máscaras.

Há máscaras que se transmutam em crenças duradouras no sujeito mascarado, em perfeita osmose com o rosto do mesmo, que o mesmo olhando-se ao espelho já não se distingue da sua máscara.

Eventualmente todas as máscaras caem em alguma altura. Mas todas caem.

É preciso atenção pois algumas fazem pouco barulho quando se estilhaçam no chão.

Umas são visíveis, outras nem por isso, correspondendo à habilidade individual de cada um em mentir. Se considerarmos que máscara ou maquilhagem são de facto mentiras.

Outras quando caem fazem grande contraste com o rosto ressequido e inexpressivo que as ostentava, outras ainda, revelam contraste quase nenhum.

III

            Mergulhemos em exemplos concretos.

O secretário-geral do Partido Comunista Português, o senhor Jerónimo de Sousa, herda a representação de um partido central na democracia portuguesa, embora ela lhe seja tão ingrata na forma de tratamento. O legado herdado é demais para as suas costas, mesmo que se diga que é um colectivo que ajuda Sísifo.

Todos os anteriores desempenhantes da função, sempre se caracterizaram por um certo pudor no exercício do culto da personalidade, sublinhando que esse mesmo culto não devia ocorrer de forma a evidenciar uma máscara de individualidade sobre um colectivo.

Isto sempre foi usado por detractores e outros panfletistas para identificar o Partido com um conjunto de aspirantes a Estaline que com a bota de Orwell em '1984' espezinhariam de bom grado a individualidade de rosto humano.

Esta aparentemente inócua posição, é a base da credibilidade de um edifício comunista.

O mesmo não tem os seus pilares na aniquilação de individualidades, mas sim no esmagamento de qualquer personalidade acima das restantes.

Numa época em que as pizzas entregues na casa de um ex primeiro-ministro, são mais importantes que os programas eleitorais para as eleições que se avizinham, resta perguntar se a nossa sociedade, de acordo com as posturas de Cunhal, Carvalhas ou outros, não surge como o perfeito contraponto comunista, na medida em que um político investigado por corrupção centra todas as atenções, especialmente em relação aos que estão em exercício.

A análise sobre as formas como poderia o prisioneiro 33 votar, teve mais tempo de antena no total, que o tempo de antena dado aos 'pequenos' partidos, PCP incluído.

Falamos do PCP porque o camarada Jerónimo surge como sinal dos tempos, pois colapsou todo o esforço de postura anterior por parte que quem o antecedeu.

 Pode-se dizer que o PCP adaptou-se e evoluiu. É uma saída airosa. Uma máscara.

Igual à da explicação que ouvi quando me revelaram os motivos de aceitação de pontos de venda da Pizza Hut e McDonald's no recinto da festa do Avante.

'Somos contra sim, e ainda, mas usamos o dinheiro do capitalismo para lutar contra ele.'

Coitada da mulher de César.

O camarada Jerónimo sucumbe, não por ele, mas precisamente por representar esse tal colectivo.

Quem se lembra da demagogia de publicitário que animaram a propaganda o Bloco de Esquerda quando este se tenta evidenciar como força política?

Lembro-me de olhar para os cartazes do mesmo e pensar que a esquerda usava as armas da direita, a propaganda. Mais tarde isso conduziu ao apetite pelas 'questões fracturantes', enfim.

O peso que vergou Jerónimo, decorre do sucesso da propaganda que se perpetua sobre os comunistas, de serem uns malandros retrógados e reaccionários em relação à leveza do progresso linear, das histórias dos velhos mortos com tiros atrás das orelhas repetidas liturgicamente até hoje.

A cada novo debate televisivo o decano marxista-leninista é tratado como menino de bibe num claro preconceito ideológico bem aceite e reproduzido por grande parte dos cidadãos telespectadores da classe média urbana e civilizada.

Análogo tratamento sofreu Carvalho da Silva, lembremo-nos dele.

Durante décadas a imagem de marca composta à frente dos protestos, das greves, como figura menor, acessória na discussão da retrógrada ideia da luta de classes.

De um momento para o outro fez-se doutorado, e posteriormente convidado e comentador televisivo em boa parte dos assuntos para os quais contribuiu o seu labor sociológico.

A esquerda é tão boa assim, conformada e domesticada, apta a que se lhe passe a mão pelo lombo em tão cínico afago.

O tratamento destes líderes, antes da metamorfose da aceitação, baseia-se sempre num chorrilho de interrupções, de considerações pessoais do moderador, polvilhado com alguns sorrisos de desdém e até alguma má educação (a que os moderadores gostam de chamar 'estilo incisivo' da escola americana que trata os políticos por 'tu').

Este proceder por parte de entrevistadores e moderadores é geralmente e incompreensivelmente negado aos líderes de outros partidos na mesma situação de entrevistados, mas que não matam os velhos com um tiro atrás da orelha.

Há a necessidade de urdir uma lei que garanta a estes líderes espoliados do arco governativo, igualdade de tratamento, sob pena de se poderem sentir discriminados.

Imagino que conscientes disto, os deuses olímpicos do Comité Central, os altos estrategas da política do partido de Jerónimo, tenham divisado uma estratégia de marketing, perdão, estratégia de comunicação na qual o seu líder assumiria o papel do avo lá de casa da política portuguesa, tornando o PCP mais vendável, mais consumível pelas massas, especialmente pelas massas de reformados e pensionistas que constituem a fatia de leão do eleitorado.

Só assim se entende que tenha ocorrido a alteração do foco do apelo, dos jovens, no passado, para os portugueses, no presente. Das promessas de construção dos amanhãs futuros, agora só se pede uma hipótese para compor o desarranjo.

Só assim se deve ler, a ruptura com a postura de recato dos anteriores líderes comunistas.

Assim o camarada Jerónimo não é nada avesso a narrativas na primeira pessoa, facilmente abrindo a intimidade a qualquer objectiva televisiva, participando nos pontos de emotividade fácil, os clichés, as historietas de cordel que os jornalistas hoje compõem em vez de narrativas secas e objectivas.

Tudo apelando à emoção, à moralidade, à hipocrisia.

Os jornalistas viraram realizadores porno manipulando e exarcebando os afectos.

Os grandes planos da cara das crianças, da cabeleira branca e saliva nos cantos da boca dos velhos, dos olhares de perfil, onde se deixa Jerónimo cair, aparentemente sem ter consciência de participar na charada.

Sabemos que se orgulha de saber dançar quando revê imagens das suas presenciais candidaturas no passado próximo, ou quando revela que apanhava camarinha à beira do Tejo, em trajes menores ou sem trajes.

Qualquer líder de um partido revolucionário mencionaria as condições de miséria que levavam crianças de 6 ou 7 anos a passear nos lodos assassinos de um estuário, o camarada Jerónimo prefere apenas mostrar que é apenas um dos demais, embora diferente, enaltecendo ao invés, a maturidade que as crianças já tinham naquele tempo.

Os estrategas de comunicação do Comité Central devem ter divisado uma estratégia de marketing assente nas camadas mais idosas da população. O PCP passou a ser o partido dos velhinhos, nada se diferenciando de outros que eram os maluquinhos das feiras.

Os velhinhos gostam, de receber estas atenções. De sentir que contam para alguma coisa.

Só assim se entende o uso e abuso de ditos, ditados, dizeres e adágios populares, em sintomatologia intensifica depois de peça jornalística que associava a popularidade de Jerónimo por causa desta espirituosidade verbal.

Desde então, carrega Jerónimo nos dizeres e ditos populares.

Incapaz de falar aos jovens de hoje, remete-se este partido a falar aos jovens de outrora, já que não consegue cativar a juventude aos festivais de Verão, que ainda passam pela atalaia para comer uma bifana antes do início das aulas, perde assim Portugal o único partido estruturado de esquerda revolucionária.

A acomodação passa por ceder à ambição das sondagens e das percentagens calculadas.

O poder ainda vai ser nosso se assim decidirem e grão a grão enche a galinha o papo.

O partido de máscara revolucionária que tanto se afirma como diferente, perfila-se como um lago de águas paradas, mascarado com a renovação etária das suas hostes no Parlamento e nas Câmaras, mas com mentalidades de idade gerontófila.

Tudo está bem quando continua bem.

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