A civilização woke I
Dizem alguns dicionários, que ‘woke’ é um termo afro-americano, que descreve a consciência hodierna, de bons costumes e causas sociais, englobando desde os direitos LGBT aos direitos de igualdade entre raças.
Woke será, portanto aquele que é desperto, para as injustiças deste mundo, por contraposição ao que ‘está a sleep’, o que configura de forma primária, a grande diferença nesta outra variação de dualismo tribal, ‘nós vs eles’, a saber, a posse de uma consciência da realidade ou discurso sobre a realidade, mais válida ou superior aos outros, que obviamente, estão a dormir, anestesiados, ou propositadamente anestesiados a este rol de aflições na sociedade ocidental, hipócrita e maléfica, para a qual o único antídoto, é a disseminação wokista.
A crítica, no sentido de exame, das bases ideológicas wokistas, é tripartida, envolve metafísica, epistemologia, e ética, três grandes regiões da Filosofia Ocidental.
Metafísica, pois o sentimento woke, baseia-se numa ideia de progresso, entendido como um movimento de um estado mais elementar de justiça social, para um mais pleno da mesma, cuja urgência vem da crença de que no ‘mundo actual’ não se coaduna com a injustiça e violência das sociedades passadas.
Não permite, pois, qualquer crítica a esta ideia de evolução ou progresso, ou sequer aquiesce em relação ao facto de que esta civilização actual, ainda não no ponto, mas em direcção a um mundo melhor, está construída sobre escombros de sofrimentos passados. Podemos amaldiçoar uma civilização na qual criticamos os frutos mas não o processo de maturação? Podemos, mas estaremos a ser hipócritas, para quem valoriza congruência, claro está.
Nenhum encontro civilizacional, será fraterno e equilibrado, enquanto houver disparidade tecnológica e militar entre ambas as margens. Se no século XIV tivessem chegado navios africanos ou asiáticos, ou americanos (nativos), à Europa, dificilmente não seriam os europeus hoje, a preocuparem-se com a herança colonial e esclavagista, pois pura e simplesmente seriam conquistados e subjugados pelo mais forte.
Obviamente isto não justifica qualquer violência cometida no passado, presente ou futuro, apenas visa enunciar, que podemos tirar o primata da selva, mas não tiramos a selva do primata.
O que nos leva à questão epistemológica. Achar que uma civilização é, no seu todo, algo de mau, e que outra é eminentemente pacífica e livre das tensões sociais atribuídas ao capital, é uma fantasia. Que o digam as tribos de canibais da Papua Nova Guiné, ou os ameríndios, pois onde existir um humano, vai existir violência, competição intra-específica, e no caso de evolução tecnológica, depredação dos recursos da biosfera.
Basta existir competição sexual num grupo humano, leia-se, competição para legar genes à geração seguinte, que outros grupos humanos e plantas e animais irão sofrer por isso.
Pode-se argumentar que os arautos do wokismo querem reformar e não anular, a chamada civilização ocidental, pois sentem-se discriminados dentro dela. O que nos conduz à questão ética.
A civilização ocidental emerge da competição entre estados europeus e violência inimaginável ao longo de milénios. Desde o destino aos perdedores das guerras na Hélade, aos romanos, às etno-migrações nórdicas, toda a Europa é um palco de sangue, vertido essencialmente por europeus. O africano, é uma entrada tardia neste teatro de competição e conquista proto-capitalista.
Até que ponto é que o direito de reconhecimento não é um desejo de eminência? Até que ponto é que chamar a atenção para a opressão do negro sobre a do branco não é um racismo invertido? Não é assumir que todo o branco tem um suposto privilégio sobre todo o preto, um conceito racista? Um branco pobre, tem mais direitos que um preto rico na sociedade ocidental?
A mesma coisa em relação aos trans e gays. Um heterossexual, só por via da sua preferência sexual, é automaticamente homofóbico ou opressor, em virtude dessa preferência?
E a questão da teoria de conjuntos? Quando se critica toda a sociedade ocidental, não se engloba esse mesmo branco pobre e heterossexual, que ou são indiferentes ou alheios a essa peleja social?
Pois a questão wokista reside aqui, no fundamentalismo de que o indiferente ou alheio, são parte do problema, na mesma medida em que o foram os meros observadores dos gaseados de Auschwitz. A célebre expressão de que a indiferença perante o mal é o próprio mal, serve de combustível ao woker.
A sua identificação em termos dualistas, convence-o da rectidão das suas crenças, e o outro é demonizado, de forma tribal, pela não adesão ou indiferença às mesmas. Todos os não wokes, são portanto privilegiados que não se mexem porque estão bem. Que se sentissem na pele, os males do mundo, fariam qualquer coisa para o mudar.
Não interessa que a lei vise acabar com a violência. Não chega, pois supostamente, as instituições e pessoas, são condicionadas desde cedo, só o woke conhece e libertou-se desse condicionamento.
Para libertar a uns da violência, convence a outros da culpa.
Dizem alguns dicionários, que ‘woke’ é um termo afro-americano, que descreve a consciência hodierna, de bons costumes e causas sociais, englobando desde os direitos LGBT aos direitos de igualdade entre raças.
Woke será, portanto aquele que é desperto, para as injustiças deste mundo, por contraposição ao que ‘está a sleep’, o que configura de forma primária, a grande diferença nesta outra variação de dualismo tribal, ‘nós vs eles’, a saber, a posse de uma consciência da realidade ou discurso sobre a realidade, mais válida ou superior aos outros, que obviamente, estão a dormir, anestesiados, ou propositadamente anestesiados a este rol de aflições na sociedade ocidental, hipócrita e maléfica, para a qual o único antídoto, é a disseminação wokista.
A crítica, no sentido de exame, das bases ideológicas wokistas, é tripartida, envolve metafísica, epistemologia, e ética, três grandes regiões da Filosofia Ocidental.
Metafísica, pois o sentimento woke, baseia-se numa ideia de progresso, entendido como um movimento de um estado mais elementar de justiça social, para um mais pleno da mesma, cuja urgência vem da crença de que no ‘mundo actual’ não se coaduna com a injustiça e violência das sociedades passadas.
Não permite, pois, qualquer crítica a esta ideia de evolução ou progresso, ou sequer aquiesce em relação ao facto de que esta civilização actual, ainda não no ponto, mas em direcção a um mundo melhor, está construída sobre escombros de sofrimentos passados. Podemos amaldiçoar uma civilização na qual criticamos os frutos mas não o processo de maturação? Podemos, mas estaremos a ser hipócritas, para quem valoriza congruência, claro está.
Nenhum encontro civilizacional, será fraterno e equilibrado, enquanto houver disparidade tecnológica e militar entre ambas as margens. Se no século XIV tivessem chegado navios africanos ou asiáticos, ou americanos (nativos), à Europa, dificilmente não seriam os europeus hoje, a preocuparem-se com a herança colonial e esclavagista, pois pura e simplesmente seriam conquistados e subjugados pelo mais forte.
Obviamente isto não justifica qualquer violência cometida no passado, presente ou futuro, apenas visa enunciar, que podemos tirar o primata da selva, mas não tiramos a selva do primata.
O que nos leva à questão epistemológica. Achar que uma civilização é, no seu todo, algo de mau, e que outra é eminentemente pacífica e livre das tensões sociais atribuídas ao capital, é uma fantasia. Que o digam as tribos de canibais da Papua Nova Guiné, ou os ameríndios, pois onde existir um humano, vai existir violência, competição intra-específica, e no caso de evolução tecnológica, depredação dos recursos da biosfera.
Basta existir competição sexual num grupo humano, leia-se, competição para legar genes à geração seguinte, que outros grupos humanos e plantas e animais irão sofrer por isso.
Pode-se argumentar que os arautos do wokismo querem reformar e não anular, a chamada civilização ocidental, pois sentem-se discriminados dentro dela. O que nos conduz à questão ética.
A civilização ocidental emerge da competição entre estados europeus e violência inimaginável ao longo de milénios. Desde o destino aos perdedores das guerras na Hélade, aos romanos, às etno-migrações nórdicas, toda a Europa é um palco de sangue, vertido essencialmente por europeus. O africano, é uma entrada tardia neste teatro de competição e conquista proto-capitalista.
Até que ponto é que o direito de reconhecimento não é um desejo de eminência? Até que ponto é que chamar a atenção para a opressão do negro sobre a do branco não é um racismo invertido? Não é assumir que todo o branco tem um suposto privilégio sobre todo o preto, um conceito racista? Um branco pobre, tem mais direitos que um preto rico na sociedade ocidental?
A mesma coisa em relação aos trans e gays. Um heterossexual, só por via da sua preferência sexual, é automaticamente homofóbico ou opressor, em virtude dessa preferência?
E a questão da teoria de conjuntos? Quando se critica toda a sociedade ocidental, não se engloba esse mesmo branco pobre e heterossexual, que ou são indiferentes ou alheios a essa peleja social?
Pois a questão wokista reside aqui, no fundamentalismo de que o indiferente ou alheio, são parte do problema, na mesma medida em que o foram os meros observadores dos gaseados de Auschwitz. A célebre expressão de que a indiferença perante o mal é o próprio mal, serve de combustível ao woker.
A sua identificação em termos dualistas, convence-o da rectidão das suas crenças, e o outro é demonizado, de forma tribal, pela não adesão ou indiferença às mesmas. Todos os não wokes, são portanto privilegiados que não se mexem porque estão bem. Que se sentissem na pele, os males do mundo, fariam qualquer coisa para o mudar.
Não interessa que a lei vise acabar com a violência. Não chega, pois supostamente, as instituições e pessoas, são condicionadas desde cedo, só o woke conhece e libertou-se desse condicionamento.
Para libertar a uns da violência, convence a outros da culpa.