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Brave New UK is OK

6/25/2016

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I
a)


Dia glorioso.24 de Junho de 2016.Dia glorioso.
Por todos os motivos e mais um.
Um conjunto de povos, até mais ver, decidiu não continuar no monstro neofascista e neoliberal que se assume burocraticamente como «União» Europeia.


Esta ocorrência adquire mais carga simbólica se tivermos em conta que o Reino Unido se 'queixa' das desvantagens de estar metido nesta caldeirada apesar de sempre ter gozado de uma situação de excepção, sempre habilmente negociada (ou no pior dos casos comprada pelos outros países do Eurogrupo) em relação particularmente à política monetária.


Apesar de nunca ter aderido ao euro.
Apesar de ter sido sempre um entrave à federalização da Europa à moda do Iº Reich, a
Grã-Bretanha sempre cumpriu os seus deveres e exerceu os seus direitos assumidos, suscitando
interpretações que iam desde as acusações de estar fora mas dando dicas para dentro, até às acusações do estando dentro querendo secretamente dar o fora.
A máquina política e diplomática britânica nunca deixou de mostrar compromisso com o projecto europeu, desde que ele não fosse contra os seus interesses enquanto nação.


b)


Os endoutrinados burocratas e politólogos sempre se esforçaram por identificar esta postura com uma decisão dúbia, de esperteza saloia até por parte dos britânicos a quem o tempo veio dar razão em razão à sua cautela.
Tendo perto de si dois colossos do velho continente, o sem vergonha designado eixo franco-alemão, cabe aos representantes ingleses, por mais incompetentes que sejam, manter um denominador mínimo de autonomia e independência em relação às potências continentais.


Isto só é censurável, para quem depende do orçamento da Comissão Europeia e para portugueses que tentam assumir o seu alter ego europeu uma vez que não conseguem viver com a má imagem que têm de si mesmos.
A cautela e digamos até alguma desconfiança é salutar e desejável. Sem que por isso se deva acusar de não se estar com o projecto europeu.
Que diga-se e repita-se, o que foi referendado positivamente em 1975, (tendo na altura a Escócia votado contra) não é o mesmo que foi referendado em 2016.


Não nos podemos esquecer que o tratado de Maastricht matou a Europa dos 'Jogos sem Fronteiras' e do 'Festival da Eurovisão', os mais simpáticos instrumentos de charme que a radiodifusão já conheceu.


c)


Os media continuam a sua vergonhosa campanha de desinformação, remetendo para comentadores avulsos e cómodos as crónicas sobre assuntos de ideologia. A Europa a que aderimos, não é a Europa que temos agora, e nem uma única vez foram sujeitos a escrutínio público quaisquer temas relativos aos tratados, que são uma espécie de concílios de Trento, mal explicados à população, que no nosso país recebe as notícias como se de factos incontestáveis, pois estar no projecto europeu significa abdicar de toda e qualquer identidade nacional que não passe como estereótipo bonacheirão.
Upss não se pode falar em 'nacional' que é algo anacrónico e vai contra os paradigmas pop de sucesso, bem como contra as mundividências das massas da classe média de mundos utópicos com céus cor de rosa e nuvens de algodão. Quem fala em nacionalismo só pode ser um porco fascista, pois foram os estados que promoveram as guerras, ou o Estado-Nação é uma coisa ultrapassada por causa da globalização, como se fosse ecologicamente sustentável a médio prazo a orgia de desperdício que essa mesma globalização produz.
Mas não faz mal.


A própria coordenadora do Bloco de Esquerda confessou às câmaras antes do seu congresso que essa coisa dos países como eram nunca mais iria voltar que não tinha condições para isso ou estava ultrapasado, se bem me lembro.


É sempre bom constatar a desenvoltura conceptual e a omnisciência dos nossos políticos, que sabem tanta coisa da vida e do mundo que nos podem ensinar a todos, neste caso acerca da marcha do progresso, que apresenta (como o discurso da senhora Martins o prova) semelhanças com todos os impérios passados que se consideravam eternos.


A senhora Martins por outro lado, sempre rápida a reconhecer o direito à autodeterminação dos povos, nomeadamente no 'vespeiro' do Adriático, ou pela causa curda, reconhece perante as câmaras, por certo para aplacar os facilmente impressionáveis, que na Europa (onde as identidades nacionais são demasiado fortes – e isso corresponde a uma força cultural e não a um defeito) isso dos países está ultrapassado.


Menorizamos os motivos dos povos das Ilhas Britânicas chamando-os de racistas, como se cerca de 17 milhões de votantes fossem movidos por ódio ao kebab ou ao vindaloo.


Chega-se a ler que quem votou a favor do Brexit foram os ignorantes e hooligans.
Acho que deve-se colocar primeiro a seguinte questão, será que nos damos conta de que a «União Europeia» ou o «Projecto Europeu» se transformaram em dogma religioso?


d)


Que democracia europeia é esta que prevendo (há uns anos atrás repetia-se pelas redacções dos Telejornais de que não havia plano de saída para os países, porque não se acreditava que alguém quisesse sair, ontem descobriu-se que afinal tinha ficado escrito preto no branco, no Tratado de Lisboa) a saída de um Estado Membro, o castiga com impropérios ao jeito da pior disputa conjugal?


Os britânicos não foram nisso e em coro, na oposição interna e nos países 'amigos' chamam incompetente a Cameron por ter chamado o povo a dar voz. Os mesmos que criticavam a asfixia da austeridade agora vêm a público dizer que o Reino unido veio estragar a coisa que estava agora tão boa.


Curiosamente os mais comedidos nas críticas são os países periféricos, maltratados pela austeridade. Com excepção à malta da escola de Chicago que enxameia as faculdades de Economia em Portugal.


e)


O que o Reino Unido provou democraticamente (provavelmente saindo o tiro pela culatra a quem pretendia calar a critica interna com uma legitimação popular, que foi em sentido inverso) neste referendo, é que existe limite para comodismo e para a submissão que qualquer povo está disposto a suportar SE mantiver o mínimo de dignidade e margem de manobra para exercer a sua liberdade.


As Ilhas Britânicas a dar o exemplo no exercício da liberdade desde a Magna Carta.
Brave Great Britain.


II


f)


Admito que exultei com este resultado.
Já tinha passado a fase do desespero.
Passei a do cinismo.
Estagnei na da apatia.
Não tinha esperança de ver no meu tempo de vida, a potencialidade de a médio prazo, poderem vir a ocorrer alterações no meu país, pelo qual jurei bandeira e que tenho observado lenta e gradualmente transmutar-se em protectorado. Com uma eficiência que deve muito a Bismark.


Já me tinha acostumado à ideia do florescimento do Estado Totalitário e Burocrático em que vivemos, onde a reificação do cidadão se designa de 'gestão eficiente', e onde o dogma religioso (a ideia de examinar a utilidade de uma união europeia é algo de tão evidente que nem merece exame por parte da maioria dos interlocutores que não se imagina noutra situação) é palavra do (S)enhor.


g)


Que fazer desta segunda natureza das gerações mais jovens que nunca conheceram o país antes da adesão, ou das elites que à conta do Erasmus transmitem nas Universidades que o futuro do país está no Turismo e em não sair da UE que é o nosso abono de família, a nossa São jorge da Mina do século XXI, o nosso Brasil que nos entretém mais umas décadas enquanto adiamos de novo o nosso destino como nação?


Que fazer a motivadores pagos pela Comissão Europeia que circulam por anfiteatros universitários pregando ao dinamismo, pá estão num mercado de 500 milhões arrisquem, coloquem uma mochila às costas e tornem-se empreendedores da vossa própria a vida, ocultando-se o facto de que aqui, na jangada de pedra, é onde existem menos licenciados, e mais licenciados no desemprego, em toda a Europa.


h)


Várias falanges sociais tremem com a sombra de um referendo.
Só quem tem algo a perder, naturalmente.
Quem vive na merda e na miséria sabe menos o que é a Europa, que aqueles que de acordo com a comunicação social, andaram a pesquisar no 'Google' no que tinham votado no referendo, tentando mais uma vez passar um atestado de imbecilidade ao eleitor britânico.


Os ingleses, galeses, escoceses não rejeitaram Portugal ou a Roménia. Rejeitaram a Europa do directório.
Rejeitaram a Europa em que a Alemanha arrasa com os têxteis europeus para poder vender maquinaria pesada à República Popular da China.
Rejeitaram a Europa que perdoa sem sanções durante décadas o desrespeito por deficits acordados, à França e Alemanha, para no momento seguinte castigar PIGS, por não cumprirem com o deve/haver. Ou seja, um sistema burocrático e político que é fraco com os fortes e forte com os fracos.
Rejeitaram a Europa que permite que durante anos não se procedam a aumentos salariais na zona do Ruhr (aliás em toda a Alemanha), erradicando quase por completo toda a indústria em redor, incapaz de competir. Depois de dar cabo da concorrência há que fidelizar. E é por isso que a outrora brilhante indústria automóvel inglesa, com centenas de milhar de engenheiros produzindo excelentes produtos, está de rastos ou nas mãos de estrangeiros enquanto que o Estado alemão ainda tem percentagem de acções nas maiores empresas, alguém se lembra da golden share?


Como dizia o Miguel Sousa Tavares, num comentário que foi esquecido pela maioria das pessoas «(...)era o que faltava alguém chamar à atenção quem mais joga dinheiro na União Europeia».


i)


A Europa a 27, que após o referendo, reuniu a 6, os 'fundadores' como se os restantes 21 fossem verbo de encher.
Brave Great Britain.


Chamam-lhe 'democracia representativa', alguns.
Mesmo que não os tenhamos eleito para nos representar.
Muitos dos indivíduos da minha geração, e até anteriores, gosta do Portugal do Ronaldo-o-melhor-do-mundo-é-português. Rejeitando com algum rubor e vergonha o português dos 3 b's : bigode, barriga, e barril, que era imagem de marca nos anos 80.
É por esta hipótese de análise de psicologia social, que podemos começar a fazer um exame político ao cadáver adiado da CEE pós Maastricht.
A questão do comodismo também vem dar um contributo ao tema.
O pessoal do turismo e dos gadgets que destesta o tecido produtivo no torrão pátrio gabando-o noutras coordenadas geográficas, é aquele que mais sofre com o espectro de não poder comprar nas lojas online que estão sediadas no UK ou que fazem passar pelo UK a expedição dos seus produtos.


j)


Já ninguém quer falar da ingerência desse polvo de índole mafiosa que é a Comissão Europeia, gente sinistra com ingénuas ligações à Goldman Sachs ou ao Lehman Brothers que transita do FMI para a Comissão e da Comissão para o FMI.
Ninguém quer falar das vergonhosas campanhas patrocinadas pela Comissão onde quer que exista um referendo que tenha consequências para o poder ou prestígio desta comissão, na Grécia, Escócia, Irlanda, etc. num claro exemplo do que é ingerência na política interna de um país.
Queixas de agressividade e cinismo inéditos em campanhas eleitorais ocorrem sempre que o dedo da Comissão Europeia vai provar a temperatura da sopa, usando os métodos mais eficazes de apelo ininterrupto à emoção, simplismo e lugares comuns, em manobras que muitos analistas, politólogos da praça apenas identificam em regimes totalitaristas (nem todos, a Arábia Saudita é amiga por exemplo). Disto, os media nacionais, não passam, talvez porque é mais fácil comprar notícias à Reuters, France Press ou BBC do que ensinar aos estagiários a utilizar o Google Translator para verter as notícias para português. Alguns até as fabricam, tudo em nome da democracia representativa.


As tácticas de manipulação de opinião, quando provenientes da Rússia por exemplo, são de escola estalinista. Quando provenientes da Comissão Europeia, são legítimos e profundos apelos à razão.


k)


O indivíduo português particularmente é avesso e acrítico a alguma análise ao que consista ser-se 'europeísta'. É-se e pronto, «não há palavras.» - seja qual for o conteúdo denotado.


Se sair mais uma directiva da Comissão Europeia afirmando que só europeísta quem saltar para dentro de um poço, no dia seguinte esgotam-se as toucas de silicone na Sportzone e Decathlon.
Ser europeísta é ser sofisticado, responsável, moderno, ecologicamente consciente, humanista, comprometido com a paz, como se fosse a União Europeia a responsável por 60 anos de paz nos quais todos os países possuem os exércitos próprios.


Passa-se a ideia de que o comércio cria as interdependências necessárias que dissuadem do conflicto pois os oponentes perderiam algo de igual forma.
Mas a paz só foi mantida jorrando dinheiro, ou melhor deslocalizando-o.
Apenas enquanto há um equilíbrio em que todos ganham, ou onde uns poucos ganham mas controlam completamente os outros.
Os britânicos gostam de dançar, mas apenas o foxtrot e não esta valsa.




Passa-se a ideia de que uma postura crítica ao projecto europeu, (aquele do milho grátis, não este do redil construído) é feita por extremistas.
Existe a esquerda e a direita moderada e responsável. Os criticos são sempre os extremistas de esquerda ou de direita. Um partido neonazi europeísta é baptizado de 'democrata-cristão' só por pertencer ao mesmo credo.


Por mais fascista, idiota ou pérfida que seja a lei europeia sugerida (não precisa de ser imposta, e mesmo imposta no caso português, se a multa for inferior ao lucro que se retira da infracção, não é para ter em conta, veja-se o caso do IA) desde que seja europeia diz-se 'Ámen'.


E assim temos 80% do nosso corpo de leis oriundo de Bruxelas.
Ou seja, a soberania nacional está descentrada do próprio país e o próprio teor de definição da União Europeia é o mercado. O chamado Estado Social europeu está originalmente pensado no Estado-Nação e não na «União» que o utiliza como bandeira de propaganda para aplacar o facto de que a Comunidade Económica Europeia, não deixou de o ser. Isto é apenas uma guilda de feirantes.


Continuo a pensar que o estado da coisa não se deve apenas a uma identificação moral entre «Europa» e progresso civilizacional na cabeça dos portugueses.
Há também uma correspondência a um profundo complexo de inferioridade no nosso modo de pensar, ora tudo o que é externo, tudo o que é estrangeiro é bom, ao mesmo tempo que nos telejornais e conversas de café nos regozijamos porque temos o melhor pasteleiro de Londres, uma das melhores investigadoras no laboratório Y ou um sapateiro numa marca conceituada de chinelos, tudo como exemplos de como o português pode estar entre os melhores, como se isso fosse motivo de espanto.


l)


Em suma, e de acordo com as redes sociais, poucas são as expressões de regozijo por:


a1) realização de um sufrágio universal em que o povo é chamado a decidir o seu destino colectivo, especialmente em assuntos europeus – algo que temo que nunca seja concretizável no nosso país, e isto independentemente de o mesmo ter sido planeado para sacudir o peso crescente do senhor Farage, por parte do senhor Cameron, tendo o tiro saído pela culatra de acordo com as sondagens sensacionalistas que sempre precedem estas votações, decerto sem o intuito de influenciar o resultado final;


a2) rejeição deste 'modelo' europeu por um país que não recebe lições de democracia de ninguém, que não aderiu ao euro para estar no pelotão da frente (vide Guterres) e assim evitando um instrumento de controlo centralizador e de desigualdade entre economias, país que tinha direitos de excepção nos 27;


a3) supostamente, ser respeitada quer a vontade de um povo de sair de uma espécie de federação, bem como ser respeitado o direito de a espécie de federação «deixar» sair um dos seus membros – dando um exemplo ao mundo de como nem sempre os divórcios acabam à paulada.


Ao invés, pelo que é possível perceber nas reacções, é que os malandros dos britânicos estão a ser estúpidos e racistas, e a dar cabo do bem bom para toda a gente e são desde já os responsáveis pela IV Guerra Mundial.
Porque:


b1) vão dar cabo da Europa, essa maravilha que permitiu 60 anos de paz, paga, de fundos de convergência que culminaram em dívida, como se fosse literal essa associação, ou se o clima de apartheid entre membros a Norte e a Sul do Reno não fosse uma espécie de Guerra Fria;


b2) deitaram por terra os ideais europeístas dos fundadores como se cada postador de Facebook fosse um profundo conhecedor de Jean Monnet ou de monsieur Schuman, e como se essa mesma herança não estivesse já morta e enterrada, a fazer tijolo para um estado totalitário;


b3) as motivações britânicas são exclusivamente xenófobas, repetindo de forma insultuosa o mote que os meios de comunicação apoiantes do Brestay, como se a avaliação de metade de um país que sempre soube acolher bem outras nacionalidades e crenças, (leia-se Voltaire), dependesse exclusivamente de motivos mesquinhos e egoístas, desvalorizando por completo a opção de cerca de 17 milhões de pessoas e chegando mesmo ao ponto de utilizar uns supostos dados de motor de busca para ridicularizar a opção dos britânicos querendo passar a ideia de que não sabiam no que estavam a votar ou de que mudaram de ideia no caminho para as urnas – a que se pode responder com outra pergunta, a saber, se foram esses motivos mesquinhos que conduziram para a saída, não foram também mesquinhos os motivos (económicos) para a entrada?


b4) os mesmos que agora criticam, coincidem com aqueles que há uns poucos anos atrás, tinham o credo na boca a cada passo por causa do terror da imagem que dávamos de nós próprios enquano portugueses, nada de incompetentes e estróinas – nada disso- adoramos pensar que somos os «bons alunos».
«Nós não somos a Grécia!» repetia-se o ano passado, e ai de quem ousasse fazer ou dizer algo que nos fizesse parecer mal. Deputados nacionais houve, que foram ridicularizados e criticados por sugerirem calma em relação à questão europeia, ai os mercados, ai a comunidade internacional.
E tudo isto para mascarar o miserável facto que preferimos criticar os ingleses que vão piorar a vida dos 400 000 que moram no UK, em vez de criticar as condições que os forçaram a ir para lá, preferimos martelar contas ou meter criancinhas como ingredientes de hamburguer que passar uma má imagem de nós próprios, temos terror do que os outros pensam de nós.
Não queremos que saibam o que somos na realidade, um país de complexados incompetentes, incapazes de qualquer evolução ou reformulação social, que fecha escolas e deixa os velhos morrer nos hospitais, para salvar o sistema financeiro.


Como podem os outros ter má imagem de nós, os sabujos, se só no Reino Unido vivem 400 000 portugueses (mais 200 000 e suplantavam os retornados das ex colónias), é que os britânicos devem pensar que só foram para lá por causas das praias e do Sol, ou porque adoram a Tower Bridge e peixe com batata frita. Não, não existe miséria em Portugal. Eles saem de lá em vagas migratórias, porque são empreendedores.
Assim percebem eles a nossa miséria, já que nós não o fazemos.
Que bem que se está na Europa.


Brave New Britain
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A surpresa

10/6/2015

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A surpresa




Embora não fosse credível nenhuma novidade ou surpresa no acto eleitoral de 4 de Outubro de 2015, havia ainda uma nada deslumbrada esperança de que face à violência do anterior mandato da coligação de direita, seria óbvia uma rejeição em massa dos mesmos protagonistas.




Um castigo, a um dos mais inaptos e lesivos executivos de governo da República Portuguesa.

Esta afirmação não se prende com uma mera discordância ideológica, emerge a partir do facto indesmentível de que no nosso período de vida assistimos à maior diáspora da mais formada geração que Portugal deu à luz.




Estamos perante o exílio, quase sempre em definitivo, de nossos compatriotas, empurrados para fora, com sofrimento impossível de quantificar em gráficos do I.N.E., bem como o aumento de suicídios e outros indicadores de problemas sociais.




Tenho a forte convicção de que nada, sem ser a guerra civil, é mais indicador da falência e corrupção de governos e regimes que o êxodo em massa de cidadãos para fora do seu país, por a vida se tornar aí insustentável.




Tenho-o repetido até à exaustão, mas parece que nos meios de comunicação social o assunto é secundário, perdidos que estamos na auto flagelação por sermos morenos, madraços e mediterrânicos.

Este êxodo derrota completamente qualquer justificação para a existência de um Estado.

Se entendermos o Estado como uma ferramenta de organização e exponenciação da vida comum, de forma a o cidadão proteger o seu direito e dever a uma vida melhor, a negação deste direito e dever é por consequência a negação do Estado.




Por miúdos, se o Estado visa proporcionar uma vida melhor, a emigração recente é a negação do Estado.




De que serve a existência, paga e custeada pelo cidadão, de um conjunto de instituições subsumidas sob o nome 'Estado' que visam regular e facilitar a vida e coisa pública, se a vida e a coisa pública são impossibilitadas e privatizadas (alienadas da comunidade) por essa mesma Instituição de instituições?




Podemos embarcar no cisma da coligação de direita, repetindo que é tudo consequência de mandatos anteriores, a culpa é dos outros, os anteriores, a troika, dos mercados, dos ratings, de Bruxelas, do despesismo, etc.

Podemos repetir até à exaustão os mantras de que estamos a melhorar, a crescer, a evoluir, numa clara negação da realidade lançando-lhe confiança, panaceia para a economia.




Mas existem pelo menos 3 ideias que de um certo ponto de vista lançam por terra este condicionamento neuro-linguístico, e que simultaneamente permitem erguer critérios de avaliação sobre a competência e irresponsabilidade dos eleitos e dos eleitores, podendo expor a conclusão de que isto é tudo gente do passado, um anacronismo opcional agora, mas obrigatório extirpar num futuro próprio.



















São elas:




1) Portugal foi, é e sempre será um país pequeno e periférico. Particularmente porque não controla a sua localização geográfica nem a sua situação económica. Esta última, cremos, por motivos que implicam o reordenamento da estrutura social, e que têm apoios constantes e vigorosos de uma mentalidade reaccionária. De uma forma ou de outra a estrutura classista tem conseguido perpetuar-se ao longo dos séculos, e a 'integração' na União Europeia não corresponde a um projecto português (aliás nunca referendado ou sujeito a outro tipo de sufrágio) mas a um projecto feito por outros, ao qual Portugal aderiu inebriado pelo acesso a fundos comunitários.

Isto tem sido repetido até à exaustão pelas sucessivas oposições, andámos a viver acima das nossas possibilidades, mas apenas porque as possibilidades não eram nossas.




2)O ritmo de exploração do capitalismo actual é vertiginoso e incomportável para o planeta.

Continuamos a aposta numa economia de massas, composta por excedentes e lucros, que falha rotundamente numa gestão racional dos recursos, tudo branqueado pela repetição do dogma de auto regulação dos mercados. Quem não percebe a imoralidade de consumir uma banana que atravessou um Oceano e um Hemisfério para chegar às suas mãos, não pode ter o mesmo direito de voto que pessoas mais esclarecidas.




3)Continuamos a apostar na desigualdade social, não a resolvendo, apenas a mascarando. Solidificamos uma sociedade amaciada pela hipocrisia, a que damos o nome de 'meritocracia'.

Sobrevalorizamos o egoísmo e a ambição e apagamos essa má consciência com impostos.




Concorde-se ou não com estas 3 ideias, há uma que é evidente quer a nível de trabalhos científicos quer na presença da voz popular.

É a de que o planeta onde vivemos é um sistema fechado.




Só por si este dado devia determinar uma economia gerida por recursos e não ao sabor dos 'mercados'. Não pode ser a biosfera sujeita a este tipo de pressão, só por causa dos bens de prestígio e de economias cujo ópio é o desperdício e o escalonamento em segmentos relativos ao estatuto social dos consumidores. Parece que foi isso que aconteceu na Ilha da Páscoa, e não parece ter sido produtivo.




Sustentando nós uma economia autofágica e autotélica, baseada no consumo e na obsolescência programada, temos de olhar para esta gente dos partidos, advogados e economistas, e perguntar se são eles, além da corrupção abafada, que servem para gerir a cada vez menor coisa pública.




Grande parte das pessoas na minha rede de conhecimentos e relações, esboçou, com pasmo e indignação fácil, uma reacção em relação aos resultados eleitorais do passado Domingo.




Não percebo o porquê do espanto.

Quem votou na coligação de direita, foram os mesmos, foram todos aqueles que acreditam que a malta de direita tem dinheiro e está habituado a geri-lo. Foram todos aqueles que repetem frases feitas de que o socialismo consiste em gastar bem o dinheiro dos outros e outros lugares comuns, que pela estupidez têm força para calar qualquer tentativa de resposta.




Quem votou PAF faz pouca fé nas ideias anteriormente indicadas.

Os eleitores são geralmente pertencentes à burguesia urbana com forte crença na possibilidade de regulação do capitalismo moderno, igual crença na infinidade de recursos naturais e humanos, e por fim, acreditam piamente na desigualdade, de facto, entre humanos, seja desigualdade genética, seja social, seja de ânimo ou auto motivacional. Apenas os mais corajosos o veêm e admitem.




Os outros mascaram com a falácia da meritocracia.




Esta meritocracia é bipolar, no sentido em que por um lado parece óbvio que os 'melhores' (critério nebuloso) fazem evoluir a sociedade, mas por outro lado o meritocrata assumido assume-se como uma minoria, uma excepção contra a regra.

Os outros são a seus olhos, todos uns calões, oportunistas, ou conformados, enquanto apenas ele e quem ele respeita (respeito que pode vir pela posse de bens de prestígio que o meritocrata almeja) – o meritocrata está sempre no lado oposto ao dos incapazes e preguiçosos, dos piegas.




O meritocrata que tem alguma coisinha arrancada ao mercado de trabalho, tira valor para si através da decuplicação do seu sacrifício.

O meritocrata é bom gestor, bem remunerado porque trabalhou muito, se esforçou muito. Uma mulher da limpeza ou pedreiro, não se esforçaram tanto, portanto têm isso reflectido no salário. Até porque não estudaram, andaram por aí a vegetar. Se alguém estuda é porque o que aprendeu nada vale para o mercado do trabalho, ou porque existem licenciados a mais.

A meritocracia é sempre uma desculpa com costas largas para justificar a desigualdade.




É mais fácil encontrar uma manada de unicórnios nas Berlengas, que um cidadão trabalhador português que assuma que assuma a sua incompetência com igual denodo com que assume que os outros é que são sempre os responsáveis pelo estado a que 'isto' chegou, revestidos de defeitos contrapostos às suas próprias virtudes.




Mais difícil será encontrar um gestor, ou administrador de empresa que desfaça por terra a sua crença de valor próprio, afirmando que o trabalho que faz pode ser feito por outro, pode ser feito por um tipo da linha de montagem se lhe for dada formação e informação para isso. Onde está portanto a base da desigualdade laboral? Nas habilitações? Nas opções da vida pessoal de cada um?




Na mobilização a troco da própria individualidade ou na capacidade de reunir e passar informações sobre colegas de trabalho aos capatazes, com o objectivo de melhorar o expediente?




As profissões são remuneradas tendo em conta a sua escassez? Porque recebe mais um médico que um alfaiate ou que um artesão que constrói guitarras ou canecas das Caldas?




A classe média portuguesa legitimou mais do mesmo, pelo menos metade da classe média. A outra metade vingou-se comodamente através da abstenção, elaborando cenários segundo os quais os políticos iriam fazer uma profunda auto culpabilização e reflectir gravemente sobre o fenómeno.




A classe média que continua a legitimar a mesma incompetência de sempre, é a que pode e quer continuar a mandar vir gadgets da Amazon, a visitar Nova Iorque em escapadinhas nas pontes que elabora logo no início do ano, para tirar fotos e meter nas redes sociais dignificando assim a sua própria existência.




É a classe média que optando, e sendo contra, pode colocar os filhinhos no ensino privado, como se fosse um mal necessário e protector, que acha que por poder pagar mais tem direito a um um serviço de saúde um pouco melhor. São os sinais do tempo e temos de nos adaptar.




Os pobres, miseráveis, esses têm telemóveis e não poupam e não temos de pagar por eles, de dividir o fruto do nosso trabalho tão arduamente ganho nos serviços ou no import-export.




Raios, temos direito ao nosso cimbalino diário com pastel de nata no refeitório da empresa, que nos subcontrata para fazermos o que ela não quer fazer, e nós subcontratamos outros para fazer o que nós não queremos fazer, afinal, somos inovadores e competitivos.

O que sustenta os partidos do arco governativo são estas legiões urbanas e suburbanas, são os reformados que defendem aguerridamente as suas pensões, e que escolhe de acordo com o grau de boçalidade o seu candidato.




O que sustenta a coligação PAF são aqueles que ainda têm alguma coisa, e que não querem perder aquilo que acham que têm. Pudera, foram traçados cenários caóticos pelos comentadores e paineleiros dos canais generalistas isentos.




O crime não é defenderem o que é 'seu'.

Não.

A sua falha é não conseguirem perceber que de acordo com a plausibilidade das 3 ideias acima citadas, aquilo que é 'seu' não é passível de defesa, pois não depende de si.

As pensões não dependem deles, tal como a sua riqueza material não depende de si. Basta a China querer o monopólio dos Call Centers, para boa parte destes eleitores se ver na posição daqueles desempregados a que hoje chamam de parasitas e madraços.




Como exemplo, de nada adianta defender o direito de os portugueses comerem bananas, se as greves dos camionistas franceses ou espanhóis implicarem uma ruptura de stocks em Portugal. Não depende de nós. E nada ou quase nada é feito para corrigir esta dependência, não é uma questão do dia.




Ao contrário de muita gente, e pese embora as minhas esperanças, sinto algum alívio nos resultados destas eleições.

Por perceber que para haver tanta gente a querer manter este executivo, e haver ainda mais a achar que o melhor protesto é o silêncio, é porque ainda há muita riqueza ou cegueira no nosso país.

Se for riqueza, prova-se a competência do executivo.

Se não for, é porque há muita banana em Portugal.


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A máscara e a congruência – Parte 3

9/14/2015

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V

            O Costa do castelo, ou seja o líder socialista António Costa, veio a terreiro defender que o drama dos refugiados é afinal uma oportunidade, desta feita não para os portugueses emigrarem, pois isso seria escandalosamente próximo do seu oponente no mesmo espectro político, mas para encetar a maior campanha de repovoamento a seguir à realizada logo a seguir à fundação da nacionalidade, na Alta Idade Média.

Com refugiados. Sírios. Islamitas.

Curioso como a História parece repetir-se, desta vez só alterando a confissão religiosa.

Uma espécie de Reconquista Cristã, ao contrário.

Nada temos contra a confissão religiosa em si, ou contra o acolhimento de pessoas que escapam a guerras que não provocaram e procuram abrigo noutras paragens.

Mas há que pensar na forma como os nossos políticos olham para o mundo.

É que para o líder socialista, os refugiados viriam para o nosso interior desertificado, sem escolas, esquadras de polícia, bombeiros ou hospitais, para trabalharem nas florestas e na agricultura.

Para o senhor Costa, retirar a possibilidade destes refugiados do Norte de África e do Médio Oriente  de rumar ao El Dorado além Reno, parece um presente solidário.

Oportunista e bom leitor do espírito reinante, como qualquer político aspirante ao poder, o senhor Costa tenta surfar a onda de solidariedade moral, que está a varrer, lado a lado com a reacção à entrada de corpos estranhos, o continente europeu.

Já vimos isto com Maddie, ou com o 'Salvem Timor' e a palhaçada do Lusitânia Expresso,  de vez em quando surgem assim umas campanhas de massas apelando a uma adesão moral a que é de bom tom mostrar que se partilha, transformando as causas verdadeiras em mais uma moda apalhaçada.

A fuga dos refugiados parece ter como alvo os arredores do Ruhr, para o centro da Europa ignorando por completo as periferias, o que não deixa de ser irónico.

A Alemanha vítima do seu próprio sucesso.

Estes refugiados sabem o que querem e o que não querem, são desesperados mas não a qualquer preço.

Esse foi o erro de Costa, motivado por anos de vida em redoma, ou por manifesta infelicidade nos pensamentos e nas palavras.

Deve ter pensado que os desesperados vindos do 'deserto' se contentariam em tornarem-se escravos em país alheio. Esta gente que vem da Síria, viveu num regime cruel, e cuja guerra civil foi despoletada por maus anos agrícolas e conflictos sociais que emergiram por causa da ocupação das terras.

Está-se mesmo a ver esta gente a querer ir fazer o que os portugueses não querem fazer, por causa da desconsideração que se considera ser um ordenado baixo, trabalho repetitivo e sem muita consideração social.

Esta espécie de cinismo, no qual os refugiados são metidos onde ninguém quer viver, e onde o Estado não investe um tostão para fixar populações envelhecidas, não é mera infelicidade de informação. Revela ao invés uma concepção social e antropológica que deveria colocar de sobreaviso os eleitores para o próximo acto eleitoral, se eles não votassem exclusivamente por caras e preconceitos.

A simpatia para estes potenciais refugiados é coerente pela demonstrada ao camarada de partido, Zé Seguro.

Para Costa como para Coelho, o 'C' não é de curto circuito mas de complementaridade.

Para Costa como para Coelho, qualquer emprego é melhor que nenhum emprego, e quase que é ofensa se um sírio recusar trabalhar de Sol a Sol, para os exemplos de gestão que encontra nos patrões portugueses, que pagam bem e que já têm as explorações agrícolas a abarrotar de emigrantes, os únicos afinal que conseguem fazer render os ordenados de miséria, requisitos para não perder competitividade.

Há contudo aqui uma diferença visível entre a direita e a suposta esquerda portuguesas.

Se o senhor Coelho se lembrasse primeiro (como o Futebol Clube do Porto se lembrou das doações de 1 milhão de euros para a causa como forma de passar um pano por cima dos inusitados investimentos no plantel de futebol) já o estado português teria firmado protocolos com empresas de serviços e telecomunicações recrutando em regime de trabalho temporário e a recibos verdes, o que faria esta gente toda revitalizar o mercado de trabalho, fazendo os portugueses nestas condições ter de trabalhar mais e deixarem de ser piegas, pois malta que vem do deserto e da guerra, trabalha por tuta e meia, ou melhor, ajuda a aumentar a competitividade.

Baixar os custos do trabalho?

Vinde irmãos, esta é a nossa prenda em nome dos antepassados fenícios em comum, somos solidários, vinde se trabalhardes para nós, a fazer o que não queremos, num país com desemprego alto apenas porque os autóctones não querem 'vergar a mola' como diria o camarada Jerónimo.

A dupla CC (Costa e Coelho) não antevê qualquer critica de conteúdo às palermices que vai dizendo e fazendo. Por um lado dizem claramente que Portugal é um país pequeno que não tem peso no mundo, e que só à conta de esforço e competição nivelada por baixo com colossos populacionais é que nos safamos. Mas cada um destes líderes sente-se mandatado como Duce de grande potência nos 'recados' que manda à 'Europa' via câmaras das estações televisivas, que abjectamente os procuram para todo o tipo de comentário relevante ou nem por isso.

Não consta até ao momento, que as estações passem o recado ao destinatário, ou que a 'Europa' acordada pelo ímpeto de tais mensagens e do peso de tais líderes reconsidere o natural atavismo do seu proceder. Os discursos são portanto semelhantes aos impropérios que condutor azelha diz a outro que o chama à atenção por uma infracção no trânsito, levando a mulher ao lado.

«-Só não lhe dou porque ele fugiu num carro mais rápido!» - isto é, são discursos para português ver.

Mas o tuga gosta.

Epá o Costa ontem mandou um recado para os gajos que os gajos até amouxaram. O Coelho ameaçou de porrada com um espanador de penas que eles até tremeram.

Este fingir que mandamos alguma coisa agrada ao português comum, que durante alguns instantes não se sente tão irrelevante e miserável.

Nada interessa perceber a ingerência europeia e americana nos conflictos no Sul do Mediterrâneo, desde os bombardeamentos na Líbia ao braço de ferro com a Rússia na Síria, ou o interesse americano, que por muito menos por duas vezes invadiu o Iraque, colocando o Médio Oriente a ferro e fogo.

Nada de criticar uma Europa que agora exige solidariedade quando antes exigiu austeridade, mas só agora que a crise chega ao centro da Europa, pois se ficasse nas orlas, o problema seria à mesma dos PIGS.

Enquanto o problema estava no Sul, o céu na Alemanha estava azul.

Este dito engraçado não é do camarada Jerónimo.

Costa e Coelho não podem criticar uma Europa que recebe refugiados em catadupa, especialmente para o emprego disponível. A federação alemã, vem buscar médicos à porta das universidades portuguesas, e isso ainda é como o outro. Juntar sírios não formados e misturá-los com milhões de turcos que há anos formam a maior comunidade de 'estrangeiros' aos quais não sabem o que fazer, tal como os franceses, como periodicamente podemos ver nas notícias.

É que se souberem jogar à bola, podem ser naturalizados, se não sabem, é difícil.

Mas a própria Europa tem sido solidária por interesse próprio, pois recebe imigrantes desde os anos 60, para baixar o custo do trabalho, para ter gente a fazer o que os autóctones não querem fazer.

Agora tem de lidar com comunidades que não se integram numa certa forma de estar mais ou menos comum de Lisboa aos Urais.

Não porque estas comunidades sejam más ou mal dispostas, pura e simplesmente porque não abandonam as suas tradições e culturas.

A questão dos valores culturais tem repercussão directa sobre o saldo demográfico destas comunidades.

Não se trata de uma questão de racismo ou de negar auxílio aos refugiados.

Trata-se de enunciar rapidamente, que é um assunto que tem de ser debatido.

No exemplo português, há muito que se abandonaram quaisquer tentativas em larga escala de manter uma cultura portuguesa e já nem falo da quantidade de músicas em português que passam na rádio. Portugal não está na moda, especialmente para os portugueses, nem quando o Mourinho ganha mais um título.

Resta erradicar o caldo genético de 8 séculos, matando os velhos nos lares e recebendo toda a emigração possível, desde que se impeça os jovens autóctones de procriar e enxotá-los daqui para fora o quanto antes.

Lembro até certa intervenção do senhor Marcelo Rebelo de Sousa que exortava à importação de malta para trabalhar, pois iriam ser esses a meter o dinheirinho para a nossa (dele) segurança social, ergo, reformazinha.

O senhor António Guterres, teve discurso semelhante aquando das obras de construção da Ponte Vasco da Gama.

Que mal fizeram os portugueses para serem tão mal tratados?

Eu não defendo a entrada de nenhum refugiado em Portugal, enquanto os portugueses forem o povo mais racista da Europa. São racistas, porque odeiam, não suportam, portugueses.

A dupla CC não tem interesse em colocar estas questões na mesa. Só interessa privatizações e contas furadas, sem qualquer plano de futuro que não passe por acenar com chupa-chupas aos emigrantes para voltarem para onde nem os refugiados querem ir.

Mesmo na 'Europa' se observa esse sentimento de estranheza.

Quem está a financiar esta vaga de refugiados?

Como é possível uma diáspora a partir de viagens dispendiosas, a partir de países em que para comprar um Iphone, um ano inteiro de trabalho não chega?

Portugal, palco de uma guerra civil de luva branca, país com 5 milhões de nacionais fora do seu território natural, tem legitimidade para pensar este assunto com a profundidade que merece?

Um em cada três portugueses não está em Portugal.

Não somos também um país de refugiados?

Podemos criticar o monstro burocrático europeu, que com suas conivências e ingerências ajudou a criar o caos à porta de casa, e fez emergir a abominação do Estado Islâmico?

Pelas redes sociais, é tudo uma questão entre a boa moral e aqueles que acham que têm de reeditar as cruzadas contra os mouros.

Ouvi dizer que Tânger é bestial nesta altura do ano.

Pouca gente se insurge contra o aborto europeu, ocupados que estamos a mandar vir smartphones da amazon.uk e a vender queijo dentro de azeite gourmet para a Alemanha.

Nem tudo está mal, o senhor Garcia Pereira, esse radical, já fala de saída do Euro, o que já mostra que a ideia se está a entranhar. Sempre teve faro para onde daria o vento, e com o descalabro grego, parecia que nunca mais iríamos sair desta nau dos loucos.

E não vamos porque a malta sente que esta nau Portugal, não tem futuro.

Primeiro porque estamos habituados aos gadgets e aos problemas da gula que afligem os países desenvolvidos como nós. Macacos nos mordam se daremos algum passo atrás.

Ninguém quer saber porque coincide esta vaga de miséria humana com os apelos à criação de um exército único europeu. Faz todo o sentido, somos todos europeus, apesar de uns serem de primeira e outros de segunda, pois uns são formigas e outros cigarras.

Os mercados exigem que a Europa se revele uma potência mundial, evitando o fim do seu processo centralista ao mesmo tempo que crianças mortas dão à costa e as classes médias se sentem horrorizadas e aliviadas com a sua sensibilidade. As mesmas classes médias que legitimam os cúmplices dos dramas que batem à porta e que daqui a nada desaparecem porque deixam de ser noticiados.

Pela primeira vez no século XXI todos os comboios vão dar à Alemanha, desta vez em sentido oposto ao que no século passado marcou o maior horror na história do velho continente.

Portugal perdeu mais uma vez o comboio da História.

Entretanto resta-nos ir delirando com os políticos que fornecem a ilusão da alternância democrática, e lavar as vistas em periódicos cor de rosa.

Bem isso é uma redundância.

A política é entretenimento.

Que me interessa onde o 33 vai votar.

Que interessa as coligações, que interessa toda a ficção jornalística que visa a mistificação do processo político?

Não vale a pena ter esperança no futuro.

Os profissionais da propaganda e os profissionais da política vão continuar a surfar as ondas da moda de pensamento.

Portugal é a zona de rebentação de uma praia, ora se estatelando na areia, ora ganhando força andando para trás para se voltar a estatelar no areal.

O que vale é que a malta gosta.

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A máscara e a congruência – Parte 2

9/14/2015

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IV

            Também supostamente à esquerda, seja caviar, ou a ovas de carapau, encontramos a celebridade mediática Joana Amaral Dias.

Na altura em que este texto foi escrito tinha acabado de sair aquilo que segundo a visada foi um chamar de atenção à hipocrisia mediática, em forma de foto nua, com o rapaz por trás, e grávida de uma criança.

Num primeiro tempo chamou-lhe homenagem à gravidez e à mulher. Como um motivo só não chega, vai de expor a hipocrisia dos media.

Entretanto já correram rios de tinta sobre o assunto, que disputou brevemente, a atenção ao preso 33.

Quer-se lá saber das próximas eleições, já todos assumimos que nada vai mudar.

Rios de tinta correram, alguns mais perspicazes que este.

Mercê de uma beleza assinalável, devida aos cabelos louros e sorriso fácil quando não defende a feminilidade dos cidadãos, a senhora Joana Dias embarcou na aventura do Bloco de Esquerda desde a sua fundação, e desde a mesma foi deputada precoce, assinalável pelo tom colorido que colocou em bancadas pejadas de fatos de fazenda cinzenta e azul.

Anos mais tarde militaria nas fileiras presidenciais do senhor Mário Soares, esse revolucionário de esquerda que adoptou inúmeras ideias bloquistas.

Parece que também foi a forma encontrada por esta psicóloga para dar uma pedrada no charco, ter a coragem de fazer algo de diferente, marcar a sua qualidade de mulher, denunciar hipocrisias, ao serviço do mais antigo político em exercício, responsável por políticas progressistas de gaveta.

Ah mulher de têmpera, amazona da coerência!

Tal não foram as ondas de choque provocadas pela sua presença na bafienta política portuguesa, que foram movidas campanhas contra si, a mais célebre, aquela que dava conta de ser proprietária de um veículo de marca Mercedes-Benz e de modelo CLK, uma bomba na altura, e com o qual se deslocaria para o Parlamento não abdicando do subsídio para o passe social dado aos deputados.

Cedo esclareceu esta campanha caluniosa movida por forças obscuras ameaçadas pelo seu brilhantismo.

Ao longo dos anos as suas intervenções mais acaloradas, prenderam-se com os direitos femininos, baseados no argumento recorrente de que tinha de haver acesso e liberdade para melhores condições retributivas para as mulheres, a par dos homens, pois mais mulheres acabavam os cursos nas universidades, e com melhores notas.

Nunca se dignou a explicar o porquê dos homens serem burros ou madraços, nem de clarificar as estatísticas onde se baseava, como professora de Psicologia, nunca foi muito de frequentar universidades de Engenharia.

Confesso que nunca entendi esta concepção de igualdade, uma vez que é estabelecida uma meritocracia baseada na realização académica.

O que significa que a desigualdade salarial é tão inevitável como desejada entre profissões, como entre géneros, especialmente se o género feminino tiver mais 'cabeça' para a 'escola'.

Parece portanto que o mérito académico está irrevogavelmente associado à competência em todos os aspectos da vida laboral, e que por isso os burros ou os mamões devem ter um ordenado digno, mas inferior aos que foram alunos de excelência.

O que é sinistro para quem enverga a máscara de ser de esquerda.

O anti aristotelismo da senhora Joana Amaral Dias sempre a levou a combater vigorosamente todos os estereótipos associados à mulher mesmo alienando metade do eleitorado, o eleitorado masculino.

Boa parte deste eleitorado, efeminado por campanhas de marketing publicitário que cada vez mais se baseiam na flagelação do masculino, aceita bem a Joana Amaral Dias que conhecemos, porque é uma cara bonita aliada a uma inteligência combativa, que faz perdoar todas as diferenças ideológicas que se possam interpor. E por isso nem se considera desconsiderado com as intervenções da frontal Joana Dias, quer porque interiorizou esse cilício interior de que tudo o que é masculino não tem beleza, quer porque é de homem flagelar-se no altar da deusa.

Afinal, homem que não gosta de qualquer mulher não é homem, já o profetizava José Rodrigues dos Santos com as suas carinhas marotas esgalhadas no final do Telejornal quando era moda acabar o mesmo, sempre com passagem de modelos.

A convicção profunda, aliada à sede de protagonismo, não permitem qualquer leitura de hipocrisia no comportamento da senhora Joana Amaral Dias.

Ela acredita mesmo na imagem que acha que projecta. É essa a sua máscara.

Tem de acreditar. Construir mundos nos quais o ego sai sempre à melhor luz, é o trabalho fotográfico que o próprio ego tem de fazer em qualquer pessoa, como forma de sobrevivência, como mecanismo filogenético, que levado ao extremo se designa de mitomania, mas nada como Joana Dias para o esclarecer, em virtude da sua formação.

A Joana, acha que posando nua para uma revista cor-de-rosa, provoca um debate sobre os 'direitos da parentalidade, da maternidade' tão atacados nos dias que correm. Não que Joana Dias não tenha razão. Ao longo do tempo tem quase sempre tido, mas isso também se pode dizer de qualquer demagogo.

A demagogia tem sempre razão. O crime do demagogo é usar a verdade coeva em seu benefício, o castigo é perder a credibilidade, 'ah, é demagogo'.

Joana sabe isto, é autora até de um livro sobre o que os políticos têm na cabeça.

Joana não cometeu nenhum crime, de facto, apenas de gosto. Escarrapachou o mau gosto, aliado ao pudor que ainda temos de misturar política com coisas comezinhas. O problema não foi posar descascada. Foi querer seriedade depois de posar descascada. E foi por antes, ter exigido seriedade aos outros. Mas nós, opinião pública, castigamos Joana pela sua adesão às doutrinas de São Tomás?

Não. O camarada Relvas, teve a audácia a que nos acostumou, de voltar a aparecer no pequeno ecrã, desta feita para comentar o indigente debate do seu amigalhaço primeiro-ministro. Menos vergonha teve a estação televisiva que pagou o favor colocando-o no ar.

Não faço aqui uma comparação entre ambos, minha rica Joana, apesar de tudo.

Ambos padecem das fraquezas do ego. Relvas não acredita no que diz - é apenas um meio - e a vox populi sabe-o.

A vox populi tinha a esperança que Joana acreditasse no que dizia. 

O senhor Relvas é um 'empreendedor', e a malta sabe e aceita.

A Joana tinha a pretensão de seriedade e do hastear da bandeira dos fracos e oprimidos.

A malta acredita mais na malandragem da equivalência académica e do turbo-deputado, que na filantropia desinteressada.

Foi isto que a professora universitária não percebeu.

Para os verdadeiramente interessados no bem comum, quiçá os de esquerda, o parecer é tão ou mais importante que o ser.

A utilização da sua imagem, mesmo que além de uma vaidadezinha ou busca de atenção à la miss esquecida pelos holofotes mediáticos, é o que a malta não lhe perdoa.

Uns sabiam que a manipulação da verdade, isto é, a demagogia, era só fumo. Outros acreditavam mesmo em Joana.

Esses são os que mais a criticam agora que deu o passo para as páginas centrais de uma revista sem conteúdo.

Que um jogador de futebol faça isso, que um cantor coloque um disco  à frente dos seus países baixos, ninguém critica.

Que a Joana, ex deputada arauta dos fracos e espoliados, o faça, lança a sombra sobre as suas intenções.

Queixa-se nas redes sociais (onde os séquitos criam ambientes propícios para mais manifestações de egos magoados, ou nos jornais que procuram sempre a nova polémica) que o que fez foi para chamar a atenção para o conteúdo político das propostas do partido onde agora milita e que ajudou a fundar, esquecido pelos debates com impacto mediático forjados pelas estações televisivas que formam os elegíveis e desde sempre cilindram as forças políticas menores.

Como se no tempo que leva de política Joana não soubesse que é assim a 3ª República.

Além de que, não me lembro de a ter visto descascada em idade mais recuada, logo mais a jeito de atitudes acaloradas, quando puxava pelo Bloco de Esquerda.

Como uma desculpa não chega, criticou os media e a opinião pública por causa de não prestarem atenção ao que publica como académica, mas que se aparecer desnuda não se calam com isso.

Que o seu corpo sem roupa, que a derme à luz do calor do estúdio fotográfico, são os instrumentos para denunciar a hipocrisia que ainda grassa na sociedade burguesa portuguesa.

Que a foto estilizada sem Photoshop, que a foto 'just Joana + partenaire'  serve também para denunciar o direito à maternidade, à paternidade no sentido de direitos laborais atacados pela desregulamentação levada a cabo por este executivo governativo, que faz com que as pessoas não tenham filhos, que as mulheres apertem as mamas para ver se sai leite para provarem que estão grávidas, ou que andem sempre com o credo no coração pois uma gestação é quase sempre sinónimo de despedimento, e Joana mais uma vez tem razão.

Mas não podemos deixar de nos perguntar, qual o elemento em comum, além da genialidade desta académica, para três razões díspares de denúncia, coincidirem nas fotos do corpo nu de Joana.

Como é que o corpo nu de Joana denuncia ao mesmo tempo a hipocrisia de uma sociedade medíocre e mediática, de uma sociedade suicida demograficamente e de desregulamentação laboral,  e de uma sociedade que presta pouca atenção aos académicos e ao que produzem, a não ser para escarrapachar os títulos nos folhetos de propaganda política ou nos jornais como forma de garantir seriedade e atestar competências?

Este, pelo menos 3 em 1, parece o que é, uma desculpa.

A nudez da honestidade, ou a honestidade da nudez teria sido verdadeira se Joana tivesse admitido que estava com saudades de ter as atenções para si voltadas. Que um ego insuflado exige alimento constante.

Joana parece portanto não servir a verdade, mas servir-se dela, não o admitindo. É esse o pecado de Joana Amaral Dias.

O amor ao próximo e a uma sociedade mais justa, parecem ser portanto, não as raízes da sua acção política, mas os meios de colmatar outro tipo de fome.

A verdade é revolucionária, e nem sempre a verdade é a nudez. Neste caso a nudez cobre a mentira.

Pondo de lado estas considerações só resta fazer uma exigência à classe média da boa consciência, bem como um lamento.

A representação da República portuguesa deve ser alterada, o modelo das futuras estátuas de peito desnudo, devem ser feitas a partir de Joana Dias como modelo desses mármores do futuro.

Ela pode aparecer assim como a representação da pureza do nosso regime político, na forma aligeirada de vestes que desde sempre revestiu a propaganda republicana.

Temos de lamentar, que o corpo do cidadão anónimo não tenha igualdade de impacto circunstancial, como o corpo de mulher bonita e inteligente. Embora a inteligência não seja visível na nudez.

Além de anónimos, temos de nos contentar, com a total indigência de poder revolucionário.

Se o tivéssemos, podíamos acompanhar Joana na sua cruzada, e Portugal seria um país mais justo só porque passaríamos o tempo a gastar a pasta de papel obtida nos incêndios de Verão, em revistas panfletárias cujo o único conteúdo seriam fotos dos nossos corpos nus.

Quem é Joana Amaral Dias?

É uma política, professora universitária e activista portuguesa. E é bonita. Mas isso é o que menos interessa, tal como estar grávida. Ser bonita é relativo, estar grávida é uma questão pessoal, aparentemente recorrente no género feminino, e felizmente, comum.

Foi convidada para posar nua na revista 'Cristina' por ser professora universitária?

Não creio, não é habitual ver professoras universitárias descascadas nas revistas portuguesas, embora esteja aberto o precedente.

Tivemos uma professora do secundário, em Mirandela a presentear a beleza das suas carnes ao olhar público, mas é sinal de progresso o aumentar do grau académico dos nudistas, acompanhando o espírito dos tempos, antigamente também exportávamos trolhas para a emigração e agora exportamos médicos e engenheiros.

Também não foi por estar grávida que a convidaram, por certo. Existe muita grávida que facilmente faria o mesmo trabalho de pose, se obtivesse convite. Felizmente a gravidez, embora não nos números desejáveis para um país à beira da extinção, é algo de comum.

Infelizmente nem todas as grávidas posam para revistas.

Parece portanto, que o critério foi a notoriedade.

Porque é que uma Maria de Lurdes Pintassilgo, Odete Santos ou Maria Helena Rocha Pereira não posaram nuas em revistas?

Dirá o pedante, que se calhar não foram convidadas, dirá o perspicaz que se calhar foi porque defendiam a rejeição completa dos lugares comuns em relação à mulher, incluindo a reificação do seu corpo. Mesmo que para supostamente 'defender' um direito à maternidade e ao corpo.

Para Joana não. O estilo, ou gosto é diferente.

Tal como se encontra na festa do Avante, uma ou outra banca de fast food imperialista, na tal lógica de que destruímos o sistema com os trocos do sistema, denuncia-se a hipocrisia do sistema com a hipocrisia do sistema.

Oh sistema que reificas as mulheres, toma lá nas trombas as fotos que denunciam a tua reificação.

 

Joana foi convidada para posar por ser bonita?

Não só. A beleza, felizmente é tão relativa como vulgar.

Se todas as mulheres bonitas portuguesas fossem convidadas a posar nuas, Portugal passaria a ser um dos maiores importadores de pasta de papel do mundo.

Joana foi convidada a posar nua porque ninguém estava à espera que o fizesse.

Se a concorrente de um qualquer reality show aparecesse desnuda, tal seria normalíssimo e esperado, exigível até. Nem provocaria muita curiosidade tal a normalidade com que acontece.

Joana foi convidada porque teve um papel político e mediático, que contrasta, ainda que minimamente com o papel desempenhado num reality show. E por isso ninguém estava à espera o que só aumenta o apetite e impacto do acto de posar. Afinal, 'Cristina' é feita para as vendas.

Joana é convidada porque tinha hype.

O mediatismo é algo que é dado, raramente conquistado.

O relevo político é algo que é conquistado e raramente dado.

Foi a síntese perfeita destes dois factores que brindou a nação portuguesa com a longamente aguardada exposição da intimidade corporal de Joana Dias.

A osmose entre mediatismo e papel político é tal hoje, que não há uma distinção clara entre os dois.

Joana sabe-o. E usa isso a seu favor.

Mas nem por isso desejamos o despir de pudores de personagens truculentas como o senhor Pires de Lima ou o senhor Jorge Coelho, ao lado do senhor Ricardo Quaresma na sua luta cívica pela nudez.

Louvada nas redes sociais, Joana aparece como a heroína da vida privada travestida de questão 'fracturante'.

Aquela que mostra a sua faceta humana além da política, dona do seu corpo enquanto visto por outros, exactamente porque não é uma como as outras, foi feita pelo mecanismo mediático, e pôs-se sempre a jeito disso, alinhando sempre em quase todas as solicitações feitas para diferentes formatos mediáticos.

Mas nunca foi a única a fazê-lo. Se não se critica um político por pertencer a uma direcção de clube de futebol, porque se haverá de criticar uma política de aparecer numa revista de acontecimentos?

A separação dos papeis, é contudo, vista assim, com preocupação. Joana ao desnudar-se cumpriu o mais salazarento cliché, que provavelmente nem a Salazar lembraria.

Daqui para a frente é claro que o tempo de antena de Joana não decorre pelo seu labor político concreto, que o tem, com mérito. Decorre pela sua imagem, ah aquela que apareceu nua, a denunciar não sei o quê e que dá, literalmente, o corpo às balas, perdão, às objectivas.

A ironia reside no carácter pioneiro e inconsciente por parte da personalidade política de Joana Dias.

Se antes, o corpo feminino aparecia em tudo o que era folheto comercial, de berbequins a desodorizantes, de bolachas de cereais a rebuçados, depois de Joana, o corpo feminino serve também para vender mediatismo político.

Político? Politiqueiro.

O simples escrutínio da forma e do conteúdo do comportamento da activista em questão só pode reforçar a ideia de utilização do binómio mediatismo/poder político. O peso político dependendo da visibilidade, e a visibilidade dependendo do peso político explicam cabalmente as razões de Joana.

De todo, não querendo comparar, nem sendo comparável, há contudo que lembrar o caso de uma parlamentar italiana de nome Cicciolina. Acusada de tiques de vedetismo primário, e de contribuir para a redução do prestígio da política do seu país, também Cicciolina se fez arauta da liberdade sexual das suas conterrâneas, dando também ela o corpo ao manifesto.

Na História que se repete como farsa, Joana a esta luz, é mais um prego no caixão da ideia que o destino da mulher não é o seu corpo.

Num aparente golpe de rins em relação à reacção provocada por suas carnes brancas expostas na comunicação social, nas redes sociais e em alguns jornais Joana Amaral Dias insiste no argumento da denúncia da hipocrisia como móbil da sua acção. Como soa bem e de desculpa serve, volta a posar nua, e a utilizar a sua filha por nascer como expressão da sua adesão a um ideal, ou uma denúncia.

Como deve ser lida esta suposta irreverência?

Como a instrumentalização do seu corpo, com a instrumentalização da sua prole, com a instrumentalização do seu sexo.

Joana Amaral Dias, talvez surpresa pelo impacto que teve mediaticamente, que sempre buscou (mas não em doses de cavalo que a erotização de um corpo nu em revista permite), operou uma fuga para a frente.

Politizou o seu corpo, se acreditarmos na sua desculpa, politizou o seu sexo, politizou a sua gravidez, ou seja, politizou publicamente a intimidade que diz defender com o corpo nu.

A politização como forma de ter protagonismo. É a própria Joana que o diz quando se queixa de ter pouca atenção mediática.  

Assim se reificam as convicções, se elas não eram já máscaras.

A Joana Amaral Dias nua?

A Joana Amaral Dias grávida?

Esta raríssima combinação de estados confundiu todos os aristotélicos.

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A máscara e a congruência – Parte 1

9/14/2015

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I

            A máscara é algo de muito interessante.

Na origem era um artefacto destinado a ocultar a identidade do portador.

Simultaneamente a máscara permite a adopção de outra identidade, não só ocultando, mas mostrando outro algo.

O ipsum é duplamente camuflado.

A máscara é o meio operador sobre a imagem ou visibilidade da mesma, que emana naturalmente de qualquer ente que deixe rasto.

Subsumindo, a máscara esconde, e revela outra coisa, que não passa de outra forma de esconder.

Forma negativa, ocultando, e forma positiva, mostrando o tal outro algo.

Como a questão da verdade e da mentira são coisas complicadas, especialmente se como os mais puritanos, tomamos por ponto de honra a adequação da coisa em si à coisa para si, ou à coincidência  da aparência (na forma de discurso) à essência, então devemos supor que a projecção de uma imagem a partir de uma ipseidade só pode corresponder a que essa ipseidade não é o que quer projectar, pois se o fosse não tinha necessidade de mascarar.

Exemplificando de forma popularucha e boçal, o bruto projecta-se como sensível, o fraco como forte, o feio como belo, etc.

Se já somos o que somos, não precisamos de mostrar o que somos se aquilo que somos é o que queremos que os outros querem ver.

Isto torna-se giro, pois quem tanto se preocupa com o que os outros veem, dá por si a efabular loops psicadélicos, como por exemplo mostrar aos outros que não se rala com o que eles pensam, revelando assim a contradição daquilo que pretende mostrar, ou seja, rala-se com o que os outros pensam dele ou dela, e quer que pensem o contrário.

A necessidade de tais ancestrais malabarismos, tão velhos como a humanidade, revela que há benefícios a tirar de um rosto mascarado.

Naquilo que se esconde e no que transmutado se revela.

Um desses benefícios é o do feedback loop. Falta-me o termo adequado em português, lamento o estrangeirismo. O mais adequado na nossa língua talvez fosse ciclo vicioso, mas tal deixaria de lado a tónica egocêntrica do fluxo.

Quem projecta uma imagem para outros verem, recebe em troca algo. Aprovação.

Por sua vez a aprovação é a moeda que compra o valor.

Um bom carro e uma mulher boa e bonita ao meu lado, servem perfeitamente para eu mostrar o meu sucesso aos observadores, e através da sua reacção comprovar fora de mim aquilo que preciso de confirmar em mim próprio, não por crença na minha vida interior, mas porque comprovei lá fora, nos outros, o valor que tenho.

Sejam nestes apêndices ou noutros. Sejam artefactos ou não.

A preocupação com a imagem pública extravasa as intenções meramente higiénicas ou societais.

É uma questão do foro psicológico, bem sombria e angustiante.

E generalizada. Quantas vezes não ouvimos outros e outras assumir com a maior das naturalidades que o valor próprio é aferido de forma mediata, através da reacção dos outros?

Nem vale a pena perder tempo a rebater, que a interpretação da reacção dos outros está toldada pela crença interior que já formulámos para nós próprios.

Por exemplo, se um tipo se convenceu que andar com as cuecas espreitando por fora das calças rebaixadas até meio dos glúteos, então todas as reacções que receber, mesmo que do mais frontal repúdio, vão ser interpretadas de forma positiva como o mesmo estando bem, dentro da moda, sujeito plenamente integrado e sofisticado.

II

            Há uma mistura erótica de insegurança e malandragem no acto de mascarar.

E delicioso e dramático observar como espectador ante peça teatral, a espécie sapiens sapiens no seu afã de dissimulação.

Há máscaras ocasionais e máscaras duradouras. Não deixam de ser máscaras.

Há máscaras que se transmutam em crenças duradouras no sujeito mascarado, em perfeita osmose com o rosto do mesmo, que o mesmo olhando-se ao espelho já não se distingue da sua máscara.

Eventualmente todas as máscaras caem em alguma altura. Mas todas caem.

É preciso atenção pois algumas fazem pouco barulho quando se estilhaçam no chão.

Umas são visíveis, outras nem por isso, correspondendo à habilidade individual de cada um em mentir. Se considerarmos que máscara ou maquilhagem são de facto mentiras.

Outras quando caem fazem grande contraste com o rosto ressequido e inexpressivo que as ostentava, outras ainda, revelam contraste quase nenhum.

III

            Mergulhemos em exemplos concretos.

O secretário-geral do Partido Comunista Português, o senhor Jerónimo de Sousa, herda a representação de um partido central na democracia portuguesa, embora ela lhe seja tão ingrata na forma de tratamento. O legado herdado é demais para as suas costas, mesmo que se diga que é um colectivo que ajuda Sísifo.

Todos os anteriores desempenhantes da função, sempre se caracterizaram por um certo pudor no exercício do culto da personalidade, sublinhando que esse mesmo culto não devia ocorrer de forma a evidenciar uma máscara de individualidade sobre um colectivo.

Isto sempre foi usado por detractores e outros panfletistas para identificar o Partido com um conjunto de aspirantes a Estaline que com a bota de Orwell em '1984' espezinhariam de bom grado a individualidade de rosto humano.

Esta aparentemente inócua posição, é a base da credibilidade de um edifício comunista.

O mesmo não tem os seus pilares na aniquilação de individualidades, mas sim no esmagamento de qualquer personalidade acima das restantes.

Numa época em que as pizzas entregues na casa de um ex primeiro-ministro, são mais importantes que os programas eleitorais para as eleições que se avizinham, resta perguntar se a nossa sociedade, de acordo com as posturas de Cunhal, Carvalhas ou outros, não surge como o perfeito contraponto comunista, na medida em que um político investigado por corrupção centra todas as atenções, especialmente em relação aos que estão em exercício.

A análise sobre as formas como poderia o prisioneiro 33 votar, teve mais tempo de antena no total, que o tempo de antena dado aos 'pequenos' partidos, PCP incluído.

Falamos do PCP porque o camarada Jerónimo surge como sinal dos tempos, pois colapsou todo o esforço de postura anterior por parte que quem o antecedeu.

 Pode-se dizer que o PCP adaptou-se e evoluiu. É uma saída airosa. Uma máscara.

Igual à da explicação que ouvi quando me revelaram os motivos de aceitação de pontos de venda da Pizza Hut e McDonald's no recinto da festa do Avante.

'Somos contra sim, e ainda, mas usamos o dinheiro do capitalismo para lutar contra ele.'

Coitada da mulher de César.

O camarada Jerónimo sucumbe, não por ele, mas precisamente por representar esse tal colectivo.

Quem se lembra da demagogia de publicitário que animaram a propaganda o Bloco de Esquerda quando este se tenta evidenciar como força política?

Lembro-me de olhar para os cartazes do mesmo e pensar que a esquerda usava as armas da direita, a propaganda. Mais tarde isso conduziu ao apetite pelas 'questões fracturantes', enfim.

O peso que vergou Jerónimo, decorre do sucesso da propaganda que se perpetua sobre os comunistas, de serem uns malandros retrógados e reaccionários em relação à leveza do progresso linear, das histórias dos velhos mortos com tiros atrás das orelhas repetidas liturgicamente até hoje.

A cada novo debate televisivo o decano marxista-leninista é tratado como menino de bibe num claro preconceito ideológico bem aceite e reproduzido por grande parte dos cidadãos telespectadores da classe média urbana e civilizada.

Análogo tratamento sofreu Carvalho da Silva, lembremo-nos dele.

Durante décadas a imagem de marca composta à frente dos protestos, das greves, como figura menor, acessória na discussão da retrógrada ideia da luta de classes.

De um momento para o outro fez-se doutorado, e posteriormente convidado e comentador televisivo em boa parte dos assuntos para os quais contribuiu o seu labor sociológico.

A esquerda é tão boa assim, conformada e domesticada, apta a que se lhe passe a mão pelo lombo em tão cínico afago.

O tratamento destes líderes, antes da metamorfose da aceitação, baseia-se sempre num chorrilho de interrupções, de considerações pessoais do moderador, polvilhado com alguns sorrisos de desdém e até alguma má educação (a que os moderadores gostam de chamar 'estilo incisivo' da escola americana que trata os políticos por 'tu').

Este proceder por parte de entrevistadores e moderadores é geralmente e incompreensivelmente negado aos líderes de outros partidos na mesma situação de entrevistados, mas que não matam os velhos com um tiro atrás da orelha.

Há a necessidade de urdir uma lei que garanta a estes líderes espoliados do arco governativo, igualdade de tratamento, sob pena de se poderem sentir discriminados.

Imagino que conscientes disto, os deuses olímpicos do Comité Central, os altos estrategas da política do partido de Jerónimo, tenham divisado uma estratégia de marketing, perdão, estratégia de comunicação na qual o seu líder assumiria o papel do avo lá de casa da política portuguesa, tornando o PCP mais vendável, mais consumível pelas massas, especialmente pelas massas de reformados e pensionistas que constituem a fatia de leão do eleitorado.

Só assim se entende que tenha ocorrido a alteração do foco do apelo, dos jovens, no passado, para os portugueses, no presente. Das promessas de construção dos amanhãs futuros, agora só se pede uma hipótese para compor o desarranjo.

Só assim se deve ler, a ruptura com a postura de recato dos anteriores líderes comunistas.

Assim o camarada Jerónimo não é nada avesso a narrativas na primeira pessoa, facilmente abrindo a intimidade a qualquer objectiva televisiva, participando nos pontos de emotividade fácil, os clichés, as historietas de cordel que os jornalistas hoje compõem em vez de narrativas secas e objectivas.

Tudo apelando à emoção, à moralidade, à hipocrisia.

Os jornalistas viraram realizadores porno manipulando e exarcebando os afectos.

Os grandes planos da cara das crianças, da cabeleira branca e saliva nos cantos da boca dos velhos, dos olhares de perfil, onde se deixa Jerónimo cair, aparentemente sem ter consciência de participar na charada.

Sabemos que se orgulha de saber dançar quando revê imagens das suas presenciais candidaturas no passado próximo, ou quando revela que apanhava camarinha à beira do Tejo, em trajes menores ou sem trajes.

Qualquer líder de um partido revolucionário mencionaria as condições de miséria que levavam crianças de 6 ou 7 anos a passear nos lodos assassinos de um estuário, o camarada Jerónimo prefere apenas mostrar que é apenas um dos demais, embora diferente, enaltecendo ao invés, a maturidade que as crianças já tinham naquele tempo.

Os estrategas de comunicação do Comité Central devem ter divisado uma estratégia de marketing assente nas camadas mais idosas da população. O PCP passou a ser o partido dos velhinhos, nada se diferenciando de outros que eram os maluquinhos das feiras.

Os velhinhos gostam, de receber estas atenções. De sentir que contam para alguma coisa.

Só assim se entende o uso e abuso de ditos, ditados, dizeres e adágios populares, em sintomatologia intensifica depois de peça jornalística que associava a popularidade de Jerónimo por causa desta espirituosidade verbal.

Desde então, carrega Jerónimo nos dizeres e ditos populares.

Incapaz de falar aos jovens de hoje, remete-se este partido a falar aos jovens de outrora, já que não consegue cativar a juventude aos festivais de Verão, que ainda passam pela atalaia para comer uma bifana antes do início das aulas, perde assim Portugal o único partido estruturado de esquerda revolucionária.

A acomodação passa por ceder à ambição das sondagens e das percentagens calculadas.

O poder ainda vai ser nosso se assim decidirem e grão a grão enche a galinha o papo.

O partido de máscara revolucionária que tanto se afirma como diferente, perfila-se como um lago de águas paradas, mascarado com a renovação etária das suas hostes no Parlamento e nas Câmaras, mas com mentalidades de idade gerontófila.

Tudo está bem quando continua bem.

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Cerejeira e Coelho

3/28/2015

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A recente visita do excelso primeiro-ministro da suposta República portuguesa ao Japão, é uma excelente ocasião para um momento de ligeira reflexão.

Ao cidadão exige-se que cumpra escrupulosamente todas as suas responsabilidades, isto é, no emprego dar a cara pelos erros, perante a família assumir e corrigir as suas falhas, perante o Estado pagar e só depois reclamar, perante os bancos ser um relógio a saldar.

As exigências são tais que por vezes temos legitimidade de colocar a questão, se todas estas exigências não desumanizarão o cidadão renomeado de ‘contribuinte’ criando por sua vez um ser reprimido e ressentido, que na intimidade ou na mesa de voto, não escolhe de acordo com uma consciência política amadurecida, mas de acordo com uma raiva incontida na qual prevê castigar os crápulas que todos os dias lhe lembram das suas obrigações inflaccionadas.

Infelizmente poucos cidadãos se parecem ralar em recolocar velhas questões no centro do debate político, como por exemplo, porque tenho eu de ser responsável pela responsabilidade de outrem? Especialmente se ninguém o é pela minha? Que diferença de naturezas existirá para que uns possam decidir por outros só porque em maior número escolheram, num sentido muito peculiar de ‘escolha’?

Concretamente, porque tenho eu, cidadão anónimo, que não votei em Passos Coelho, ou em nenhum dos governos que governam (?) Portugal desde 1974, sofrer na pele as consequências de miséria, empobrecimento, perda de autonomia nacional e completo abandalhamento do Estado Português, intra e extra-muros?

Dirá o cientista político, que é essa a essência da democracia, a sujeição de qualquer minoria à vontade da maioria.

Mas porque não se pode aplicar esse critério de forma abstracta a todos os níveis da vida política e social. A vontade da maioria é não pagar impostos, ou que os políticos não sejam corruptos. A maioria dos políticos não o parece ser, mas a boa parte que o é chega para encher as vistas.

De forma análoga em que as Finanças encaram cada cidadão que se atrase ou em dificuldades, como em prevaricador de mil ardis. Excepto alguns VIPs.

Porque é que no país do outrora e saudoso utilizador-pagador, não se estendeu o conceito a uma reciprocidade entre eleitos e eleitores? Não só o voto devia ser de conhecimento de todos, como apenas os eleitores que votaram em determinados eleitos deveriam sofrer as consequências desses eleitos. Poder-se-á argumentar que isso daria origem a estados dentro do Estado, mas já é isso que temos, se não no papel, pelo menos na prática, onde a formalização apenas tornaria o sistema mais honesto.

Isto é mas é tudo uma grande treta, uma hipocrisia de todo o tamanho, na qual a maioria não se importa de viver. Até nisso temos de nos conformar.

Não podemos partir nada, evocar desobediência civil, ou partir para a violência contra um Estado tomado por interesses contrários ao da maioria que os legitimou (irónico) que teremos logo a resposta na ponta dos bastões e do gás lacrimogéneo de forma a proteger o bem-estar da maioria. Dupla ironia.

As massas influenciadas por aspirações artísticas preferem exprimir o descontentamento através do voto contra os outros do campo político oposto, ou ir cantar em frente a residências oficiais.

Aos mais exaltados ensinam que as regras do jogo são imutáveis e inquestionáveis, tens de te submeter à maioria, e só através do voto. Tás chateado? Não votes nele nas eleições.

Esse voto simbólico parece pouco ou nada, comparado com os gestos reais como desemprego, precariedade de trabalho, falta de assistência social mesmo e apesar dos meus descontos, e crescente privatização de toda a esfera de vivência social.

Faz lembrar a história de que o tipo que levava com um cajado nas costas por parte de um vizinho violento, antes de morrer na calçada por causa dos traumatismos se ia queixando que já não lhe emprestava a mota por estar a trata-lo mal.

Outra história absurda e ao mesmo tempo patética passou-se na visita do nosso mais novo honoris causa. Confesso que fiquei surpreso com tão imediata ascensão de um tipo que me habituei a ver na JSD, repetindo cassetes de ano para ano, mesmo quando era cabeça de cartaz nas reuniões estudantis que partilhámos.

Doutor de verdade e primeiro-ministro, é normal que a coisa lhe suba à cabeça.

No Japão, quem sabe por causa de um embaraço interior emergente de uma introversão com que não brinda os opositores no Parlamento, desabafou que talvez a sua chegada ao país do Sol Nascente pudesse acelerar a chegada das flores de cerejeira.

Das duas uma, ou o senhor Passos Coelho acha que o seu cargo lhe confere um poder telúrico, que ele próprio manda na Natureza e nas estações, ou então eu quero fumar o mesmo que ele fuma.

Já para não falar do incidente diplomático provocado que motivou protestos das associações de borda d'àgua nipónicas.

Mas após mais uns segundos de visionamento, percebemos mesmo que o homem não sabia o que dizer, pois só tem como meio de comparação para o artefacto tecnológico que lhe é apresentado, o critério preferido dos patos bravos, o carro. O carro barato.

Mais à frente ao provar o chá, lá desabafa que não é candidato à Casa Branca, numa alusão à visita da esposa de Obama, ao mesmo cerimonial do chá uma semana antes.

Ficamos sem perceber se Pedro, confunde a mulher de Obama com a mulher de Clinton, provável freudianamente por causa dos vocábulos ‘Casa Branca’, ou se sabe mais da política americana que aquilo que quer admitir, especialmente no concernente às intenções políticas da mulher de Obama.

A explicação mais natural, parece ser mesmo a de que não sabia o que dizer, na viagem ao Japão a tentar seduzir empresários japoneses para a nação que se pode tornar na mais competitiva do mundo.

Pergunta-se, temos mesmo que nos responsabilizar pelo voto das pessoas que o elegeram?

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Com Para São

2/20/2015

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Com:

 

Não sendo comparáveis, quer os contextos, quer as situações que originaram esses contextos, não deixa de ser curioso comparar dois comportamentos distintos entre o primeiro ministro português e o homólogo gaulês, Sr. Valls.

Desde logo e pelo conteúdo, sobre o possível abandono de cidadãos franceses de etnia/religião judaica (por causa de vandalização de cemitérios), o Sr. Valls manifesta-se contra, enunciando a nacionalidade francesa dos visados, tanto quanto assume que é responsabilidade do Estado garantir a segurança, neste e noutros exemplos.





Independentemente de pensarmos no interesse calculista que só uma má fé pode enunciar, como perda de capital cultural, técnico e financeiro com uma possível sangria, podemos ver claramente uma identificação entre a falência da República se não cria as condições básicas para a vida dos cidadãos.

 

Para o nosso Pedro Passos Coelho, doravante PPC, a miséria (neste caso não expressa em violência anti religiosa mas na mais óbvia indigência material) é uma oportunidade de emigrar, ir lá para fora onde são desenvolvidos, sair do país e de uma imaginária zona de conforto que o torrão pátrio parece fornecer a cerca de 300000 emigrados forçados, que expulsos desde o eclodir da crise constituem a maior vaga de emigração portuguesa, num país conhecido como sendo de emigrantes. PPC não só não se penitencia com a sua parte de responsabilidade, como se congratula com aquilo que parece assustar Valls, a falência de um projecto político comunitário e republicano, por causa de colocar em causa um Estado, declarando-o incapaz. A capacidade do Estado coelhista limita-se à economia e às finanças.,


 

Para PPC e seus acólitos, como Portas, emigração ou imigração são factores de consideração se gerarem dividendos, se os emigrantes enviarem remessas de dinheiro, ou se os imigrantes pagarem a bom preço vistos dourados, na maior prostituição da pátria, que podemos apontar na política dos últimos 40 anos.

 

Como Portas diz, fazendo uso e abuso de lugares comuns e populismo que não merecem reacção por causa da dormência causada pela sua repetição, a esquerda não presta para gerir dinheiro. Pois decorrendo desta análise, a direita não presta para gerir pessoas. Restaria esperar que cada emigrante fosse um maço de notas concreto e não divisa potencial pois nesse caso o nosso governo de direita porventura faria tudo para captar divisa, ao invés de a exortar a sair.

 

Toda esta megalomania, para não dizer incompetência, ou cagança mitómana aparece comprimida no discurso da ministra das finanças portuguesa quando afagada pelo Sr. Schaube solta o alivio orgulhoso de forma verbal repetindo que não somos a Grécia, ao invés somos um exemplo.

Este alinhar com o lado dos fortes, dos vencedores, dos senhores que dão o dinheirinho, e que nos ajudaram a concretizar o milagre do bom aluno, figura de estilo com raízes cavaquistas, é enternecedora.

Um país que expulsa 300 000 dos seus habitantes e que bate recordes naqueles que renunciam à sua nacionalidade, é um exemplo de quê?

 

O Sr. Valls preocupa-se com a saída do capital humano, PPC com a manutenção de uma imagem de respeitabilidade que lhe garanta crédito. França preocupa-se em continuar a ser um farol de esperança republicana, um exemplo para qualquer país em esforço democrático, em Portugal o único compromisso é o dos consecutivos pactos de regime, a que PPC chama de estabilidade política. De suma importância para a privatização da IIIa Republica e para os mercados.

Para:

O Sr. PPC nem se engasga com fatias de bolo rei. Prefere strudel embora não goste que lho digam.

Seus acólitos e apoiantes, que o colocaram no poder, glorificam-lhe a acção sob a presunção de que o cargo que exerce é muito exigente e que qualquer que seja a imbecilidade que o líder profira ou sustente, ela reflecte ou uma profunda e fatal sabedoria do líder, ou o mais perfeito conhecimento da realidade 'real'.

Mas é assim o espírito crítico da maior parte dos portugueses, preferem saber à boa maneira de uma novela, se o juiz da operação Marquês é mesmo filho de um carteiro, ou se o juiz do Processo Casa Pia fazia mesmo musculação. E ai de quem ataque o líder, o líder é sempre vítima de uma cabala.

É preferido repetir até à exaustão que o ministro grego das finanças é um borracho, que concretamente explicar o que propõe e no que se diferencia dos outros. Isso é acessório.

Para a maior parte dos eleitores que não partilha laços de sangue com os expatriados (e quando partilha a culpa afinal foi do governo anterior) o que é realmente dito por PPC é isto:

a)ao sugerir sair de Portugal, ou branqueando o estigma do desemprego, o que o nosso Primeiro faz é de facto incentivar ao empreendorismo (essa nova religião) e a uma rejeição cabal do choradinho tuga, traço de carácter que lembra a ataraxia com umas lágrimas à mistura;

b)expressão de maturidade e responsabilidade face à horrorosa situação que encontrou própria de um grande estadista que tenta insuflar confiança e extirpar o fatalismo e pessimismo, por mais que a realidade o contradiga, não fosse o facto de que é ele e os que pensam como ele que garantem a mais fidedigna versão dessa realidade;

c)é um esforço tecnofórmico de internacionalização de Portugal que o expatriado tem o dever de concretizar, levando daqui o servilismo e a mentalidade trabalhadeira que impressionam tanto lá fora os patrões como aqueles que afagam o pelo dos nosso respeitáveis representantes.

E ai daquele que é expulso que não se sinta honrado em ser a última e cabal exportação portuguesa.

 

 

É muito difícil acreditar que o outrora profissional da juventude partidária social democrática queira ver fora do país a mais formada geração que Portugal pariu, num claro esvaziamento de inteligência que de certeza lhe seria hostil em quase todos os pontos de vista.

 

O verdadeiro pacto de regime e drama nacional é este, é mais fácil expulsar a magotes, vastas franjas da população portuguesa, que alterar o que seja no sistema social classista e medieval das nossas castas. Completamente indiferente se em democracia ou ditadura, se exportando mão de obra barata ou pessoas com formação superior.

 

É bem mais provável, que o nosso Primeiro ainda ande perdido entre teorias macroeconómicas aprendidas tardiamente , e as poses que ensaia como o líder que ambiciona ser, em jeito análogo à adolescente que ensaia 'selfies'  frente ao espelho de forma a captar os melhores ângulos que lhe reforcem a auto imagem aprazível através das redes sociais.

 

A importância desta gente que tutela a coisa pública não reflecte a sua responsabilidade. De certa forma são inimputáveis. Por causa de quem neles vota, por causa do completo autismo, causado ou pela esperteza ou pelo provincianismo nato.

Esta esperteza e provincianismo são as palas nos olhos ou lentes através das quais interpretam a 'realidade' e são convictos defensores e defensoras destes viés, que lhes provam que os outros é que são enviesados.

O Sr. Silva, raramente se enganava e nunca cometia erros, criou escola nas juventudes partidárias, ou nas falanges uniformizadas do pensamento académico, nas classes sociais, ou nas profissões, de forma que é geral que quase ninguém se consiga colocar no lugar do outro.

 

 

 

A certeza própria cheia de si mesma, não precisa de mais nada. A populaça encara isto como a convicção, que aliada às promessas de cântico de sereia criam uma relação de má fé entre os políticos tornados raposas, e a população que sendo corvo com queijo no bico, lá se põe a trautear deixando cair o mesmo para o braço da raposa, que é percebida não como é mas como pitbull que zelará pelos interesses da populaça.

O pacto de regime é no fundo, uma relação calculista de má fé, onde cada elemento tenta tirar o melhor partido da situação, sem qualquer noção do que está a fazer.

Apenas sabemos que estamos bem e que é preciso continuar assim custe o que custar.

 

As nossas juventudes partidárias estão habituadas a negociar, não para chegar a terreno comum, mas apenas como forma de domar resistências que nem sequer merecem interiorização.

Os acólitos confundem isto como firmeza.

 Só assim se pode enquadrar o rol de desconsiderações relativo aos representantes gregos, e à Grécia como país, num triste cenário de miséria dado pelos tipos e tipas que são eleitos consecutivamente com um engrossar do partido da abstenção.

Não faz sentido que uma nação se queira livrar do ardil europeu, se esse ardil era deixá-la financeiramente dependente, então que pague primeiro antes de querer liberdade.

 

Portugal na figura dos seus eleitos, mostrou uma célebre política local, de freguesia versus câmara, na qual o asco existente para com a cor partidária antagónica faz depender o trabalho desempenhado. O ódio ideológico e programático resultante desta capacidade de compreensão é compensado por uma coluna vertebral espongiforme dançando ao sabor da brisa, martelando uma justificação estatística.

É muito fácil analisar números e dizer que se tem uma noção das dificuldades passadas pelos compatriotas.

 

São:

Num gabinete climatizado ou numa cantina de assembleia da República não serão regateados esforços de compreensão e de empatia crescente. Quer se trate de um tenro brigadeiro, quando se leem as estatísticas do desemprego, ou de um café com cheirinho de whisky velho quando se vê traduzido através de números a quantidade de gente que emigrou, ou que fica sem casa sem dinheiro para pagar ao banco.

 E a fúria privatizadora lava branco este falhanço da nossa democracia, pois não são imputadas culpas ao projecto político, mas sim, ao Estado enquanto construção teórica comunitária. Apresenta-se o Estado como um luxo que não deve lavar o rabinho a meninos, como algo que faz falta mas apenas residualmente, numa leitura muito longe da ideia de que eu abdico de parte dos meus rendimentos para ajudar outros e não apenas para pagar serviços.

 

Num bólide com estofos de cabedal pago por ordenados mínimos, pode o ministro e o secretário de estado dissertar sobre a sua capacidade empática de perceber a miséria que outros concidadãos passam, ora fugindo dos fiscais da água e da luz a quem não conseguem pagar, ora ranhosos e maltrapilhos esperando em urgências de hospital por algum qualquer serviço de saúde.

 

A miséria aparece assim como castigo às naturezas menores, mas o Estado tem como depósito de moralidade dos bons cidadãos, (aqueles que de boas famílias fazem isto andar para a frente), a obrigação de tornar menos óbvia esta indigência, mas só até certo ponto, pois não queremos cá lavar o rabinho a meninos, até porque não há dinheiro para isso, afinal os privados gerem cada vez melhor a coisa.

 

O argumento mais repetido nos corredores do parlamento é que os da oposição não conhecem a realidade, e com toda a razão pois não conhece ou reconhece a realidade quem não se questiona sobre ela.

Convicção que não se crítica a si mesma é dogma.

E os dogmas estão sempre do lado errado da História.

 

Portugal empobreceu como PPC desejava mas ainda não ao nível dos trabalhadores asiáticos da sweat shop que são quase monopolistas do mercado que a direita ambiciona.

O mercado esse Deus Ex Machina desta trupe.

 

O Sr. Coelho quer o que toda a gente quer, desafogo e prosperidade, num mundo alternativo e imaginário onde se enriquece empobrecendo e onde se melhora o ensino antagonizando os professores e manipulando a opinião pública a favor da proletarização dessa profissão, um pouco como foi feito aos polícias a canhão de àgua, ou a outras profissões no passado. Só ainda não se conseguiu fazer aos médicos, que pelo seu corporativismo bem o merecem, porque tendo 3 milhões de reformados é difícil manipular a opinião pública de que o tipo ou a tipa que lhes trata da saúde não merece ganhar bem.

 

Vamos ganhar esta luta pela mão de obra barata, a populações exponencialmente maiores que a nossa, apostando na qualidade das exportações de produtos avançados tecnologicamente, como figos cortiça e vinho.

Lentamente vamos aprendendo a viver cada vez menos com pouco, contribuindo para a alterância das zonas de miséria do mundo de acordo com os ciclos do capital.

 

O senhor primeiro ministro parece pois, querer indicar que se és português e queres ter uma vida condigna e ganhar um pouco mais, pira-te daqui para fora. Representa Portugal lá fora, porta-te bem e fala dos nossos vinhos, voa na TAP, e deposita o graveto nos nossos bancos.

Se ficas cá, ganhas o que te pagarem, dás o litro, e estrebuchas pouco, e de 4 em 4 anos legitimas a merda de regime que te devia orgulhar pela estabilidade e responsabilidade.

 

A memória do nosso povo é inversamente proporcional à sua paciência ovina, qualquer História de Portugal o revela.

 

Com governantes e governados assim, é preferível uma pátria à francesa, desde que não nos comparemos aos gregos.

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No olho da tempestade

10/10/2014

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O ano civil, que liturgicamente se inicia após o período de retemperadora exposição ao Sol na época balnear, parece que começou mal.

É sempre curioso observar o afã e a preocupação com que cada governo trata este assunto, independentemente do grau de competência.

Diz a boa consciência que talvez a preocupação com os alunos, supostamente o nosso futuro, seja o motivo desta preocupação. Mas, após análise mais atenta, temos de ceder a uma sombria constelação de dúvidas.

Desde a aglutinação em turmas sobrelotadas, passando pela incompreensível renovação e onerosidade dos manuais escolares, até à inadequação de planos curriculares e horários, podemos formular que se a preocupação dos governantes fosse os alunos ou as suas famílias, tem uma forma muito estranha de o demonstrar. O arranque do ano lectivo nada tem que ver com os alunos, mas sim com os pais, ou pelo menos determinado poder dos pais, além do económico.

Nesta democracia portuguesa quarentona, e em estranho contraponto com a ditadura que substituiu, fecham-se mais escolas que as naturalmente condenadas pela recessão demográfica.

Não é portanto qualquer coerência em manter uma consciência ingénua.

A preocupação todos os anos repetida no início do ano escolar tem apenas que ver com calculismo eleitoralista aplicado à opinião dos encarregados de educação, esses votantes burgueses, esses os verdadeiros preocupados, a par com os professores, com a educação e bem-estar dos alunos. A Educação Nacional torna-se assim em mais um objecto ao serviço das disputas políticas partidárias.

É para os pais que se desempenha a farsa eleitoralista, e retórica que faz emergir expressões como «Paixão pela educação» ou «exigência de rigor» e outras frases feitas que têm ajudado a criar as ideias feitas postas ao serviço da rotação partidária nesta «república».

Aos tutelares interessa capturar e manter o posto, e demonstrar perante os seus pares, s sua capacidade de efectuar e revolucionar deixando marca…Ou também lucrar com o empreendorismo obtido em anos de serviço público do qual a jusante se lucrará posteriormente por serviços feitos, colocando até o Estado a subsidiar escolas privadas.

Ao legislador interessa agradar a quem lhe paga, e o provincianismo acrítico torna-se escola de pensamento, sem qualquer estratégia nacional de longo prazo para a Educação, afinal único garante de saúde republicana. Vivemos de Setembro em Setembro, enquanto der dinheiro.

Quem são estes cúmplices domesticados e coniventes? O caro leitor deve ser um deles.

Estes cúmplices são a minoria de eleitores que de sufrágio em sufrágio ajuda a legitimar as «governações responsáveis» ou as «democracias maduras» daqueles que há 40 anos orbitam nos lugares de decisão.

Portugal é um país de castas, e a casta mais baixa é quase analfabeta, vê o ‘Secret Story’, usa penteado Tomahawk, e diz ‘Prontos’ quando perde a aposta no pittbull que na ilegalidade vê morrer numa qualquer luta de cães.

  A classe média é a classe quase inteiramente dedicada aos serviços, com ordenados baixos num contexto europeu, mas bem apetecível na realidade nacional, que pretende ter através de gadgets a riqueza material que a consagre cosmopolita como outras sociedades em que os ordenados mínimos superam 3 vezes o valor do nosso.

Estes salários de miséria, egrégios, permitem ainda assim alguma distinção social através dos já citados bens de prestígio, que não fariam sentido se não existisse a tal casta inferior a quem os mesmos estão inacessíveis ou limitados. É uma burguesia de verniz e bom-tom, que não deseja nenhum progresso social que não cosmético, inócuo e assexuado.

O progresso social desta gente gira em torno do seu umbigo, ou das suas curtas vistas em relação ao mundo, não deixam de ser analfabetos, mesmo que sejam detentores de títulos académicos, supostamente especializados numa área mas opinadores convictos e sapientes de todas. O conforto material sobrepõe-se a todos os outros, e a sua responsabilidade cívica reside nos documentos-indulgências que comprovam o pagamento de impostos bem como o voto sazonal para se manter a aparência de democracia, refém de quem com papas e bolos engana estes tolos.

É para esta gente que começam os anos lectivos. Os filhos são apenas a moeda de troca.

A degradação do ensino público e a sensibilidade que só uma carteira despreocupada permite leva a uma debandada para o ensino privado, para «dar melhores condições aos seus filhos» num mundo futuro de serviços e salários baixos, e que se lixem os outros nesta mundividência competitiva.

Deixá-los, eles podem pagar por estes favos de segurança e exclusividade. Para proteger os seus, ou se alienam mais da política, com a desilusão ou mesmo impotência, ou continuam a defender e a legitimar os que forçam a obliteração de um ensino gratuito e nacional, bem como as maiores esperanças de perpetuar o seu conforto material.

Votam e apoiam, sem preparação para tal senão a dos cursos que sobre alhos permitem opinar bugalhos, aqueles oráculos bípedes como o génio que surgiu com a ideia do turismo gerontófilo, isto é de construir hotéis de luxo com cuidados paliativos e de apoio aos reformados endinheirados da EU, enquanto os nossos continuam a morrer miseráveis e sós um pouco por todos os lares.

Ou aqueles gurus que dão palestras a incentivar a recepção e apoio aos alunos estrangeiros, afinal que também trarão dinheiro para dentro, quando se borrifam por completo nas milhares de desistências por impossibilidade de estudar que vão fazer implodir o sistema de ensino superior.

Largam uns patacos de apoio, através dos incorruptíveis bancos, para meia dúzia de afortunados escolhidos a dedo, mas os estrangeiros é que interessam.

Vivemos num país em desagregação, e nada do que possamos fazer ou dizer vai mudar isso.

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E depois do adeus II

3/9/2014

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Sob o exercício infantil da imaginação, imaginemos que assumimos brevemente a nossa posição de ultra-periferia. Portugal é a Bragança da Europa.






1)      Imagina que mandamos às malvas o tratado fascista assinado em Maastricht., onde se consagra uma Europa pela força do número demográfico, e onde se enterram os Estados-Nação sob o argumento de ‘cimentar a união/integração’.

Isto é na realidade um eufemismo, na melhor das expressões, para a velha Europa das grandes potências, a arrepio dos pequenos países, dos periféricos países face ao ‘olho’ ou ‘banana’ da Europa setentrional, herdeiro da Liga Hanseática.

As grandes nações, como as pequenas, são comandadas pelas grandes burguesias, grandes companhias, e por isso o mercado comum mais não foi e é que uma tentativa de hegemonia mundial da Europa ultrapassada em 1918, cujo pretexto foi evitar a guerra, que desde sempre foi originada pelas mesmas forças económicas que agora se defende como dogma capaz de evitar novos conflitos.

2)      Imagina que esta ideia de integração europeia não é mais que uma armadilha ou expressão delico-doce para uma diluição subserviente das independências nacionais ante uma finança e indústria transformadora transnacional que decide quando quer os paradigmas da interpretação do mundo por parte das massas. A cultura pop, burguesa, é a mais genial construção que visa fazer com que as pessoas se contentem com a sua mediocridade, abandonando as velhas utopias progressistas do passado em detrimento de um carpe diem hedonista e sem memória ou reflexão.

Imagina que os fundos de coesão, estranhamente não suficientemente policiados, são outro eufemismo para o mecanismo de habituação de um estado nação à sua servidão, amansado através de um conforto espúrio e imbecilizante, versão retorcida da história dos porcos selvagens domesticados através da rotina da doação de milho, à medida em que se vão construindo uma após uma, as cercas da sua clausura. Estamos fechados e já não vivemos sem oo milho que nos dão à boca, já mastigado.

3)      Imagina português que se fazem estradas com libertação descomunal de verbas europeias, para várias autoestradas cumprindo os mesmos trajectos,  de forma a garantir o escoamento de produtos de outras paragens, e como forma de acautelar um futuro onde a sucursal governativa dos ex estados nação, pode retirar dividendos e verbas para a sua auto-manutenção, criando o vicío e depois taxando o vício, a arrepio da desmantelação dos caminhos de ferro como transporte preferencial para as massas populacionais…

4)      Imagina português, que te deram dinheiro para desmantelares as tuas indústrias, disseram-te que éramos todos um, que não fazia sentido a redundância produtiva, e o bom aluno europeu a tudo anuiu, sem mínimo vislumbre de inconformação. Come um pouco mais de milho, dedica-te aos serviços e às migalhas que te vão deitando pelo chão, nacionalismos são coisa do passado, português, isso é mal visto…e que medo português, tens tu da opinião dos outros.

A Europa é superior a tudo isso, esmera-te em ser bom aluno e cumprir o que o mestre escola ordena. Não produzas, produzir é coisa do passado, 500 milhões, é um mercado dos 500 milhões, criam-se sinergias dizem-te eles. Indigente estás na última fila dos que rodeiam e se banqueteiam na mesa, saltas indigente e andrajoso, como sempre foste e fizeste, para ver um pouco do que se come, e de vez em quando é atirada para ti uma perna de frango já meio roída.

Contentas-te em anunciar ano após anos projectos de grande envergadura, Sines propriedade de Singapura apresentado como porta de entrada na Europa como se fosse imaginável a dimensão de Hamburgo, Roterdão ou Antuérpia.

É apresentada a maior albufeira da Europa como contorno de recorde do Guiness, quando a mesma é dedicada ao turismo faz de conta e aos campos de golfe que substituíram a produção agrícola, onde os estrangeiros abastados se podem dedicar ao lazer das novas monarquias.

Organizas a Expo 98, o maior exercício de especulação imobiliária até à altura, constróis o Centro ‘Cultural’ de Belém, onde de x em x tempo os papalvos acreditam que existe uma espécie de igualdade nas importâncias que cada estado tem.

Organizas um europeu de futebol a expensas públicas no decurso de encerramento de urgências hospitalares, maternidades e outros serviços públicos de importância menor em relação ao desporto rei.

Enches-te de orgulho destas grandezas. Na Europa és o eterno mordomo, canalizador, pedreiro, serviçal devoto, moço de fretes e prostituta. Tens o Durão Barroso na Comissão Europeia que tudo fez por Portugal, sem ele lá o que seria de nós, não teríamos a maior vaga emigratória da nossa História, nem 180 % do PIB de endividamento.

Ainda bem que serviu de mordomo na questão das armas de destruição maciça do assassinado Sadam, às mãos da coalição que se opunha ao eixo do mal.

5)      Bem vindo ao admirável mundo novo da economia de serviços e à emigração, português.

A Europa o exige, deslocalização da mão de obra formada barata para o centro da mesa onde todos comem, menos tu, que róis o que os outros não querem comer.

Deixa-te sentir no oásis, investe no petróleo verde, deslumbra-te com a paixão na educação, entretém-te com a mistura da política futebol e do futebol política.

Goza com os países de 3º mundo cujos líderes são caricaturas que alteram os feriados de natal, ou que matam os tios por traição, na tua aldeia o teu presidente de junta é no mínimo mais sério que essas sociedades atrasadas. Apontar o dedo aos outros, ainda que com razão, é tão fácil não é? E no fundo tu és um facilista, tudo é fácil contigo. Basta um pouco de milho.

6)      Quase 80% do corpo jurídico português é de origem europeia. É mais fácil alterar diariamente a lei para um ministro lucrar uns trocos com imobiliário, que tocar nas sacrossantas legislações de Bruxelas.

As leis fazem-se lá fora e adoram-se cá dentro como as tábuas de Moisés. O Parlamento Europeu é uma mistura palaciana de SPA e de paragem de ricos e importantes, enquanto na Quinta do Mocho ou na Serafina ainda há adolescentes a fazer abortos com pés de salsa. Enquanto pobres dormem na Estação Oriente encostados a embalagens tetrapack de vinho que faz esquecer a sorte que obtiveram na vida, sob o olhar judicativo da classe média que foi ver um cinema e deixou o monovolume no estacionamento subterrâneo.

A voz dos nossos deputados só tem existência dentro das suas cabeças, quando regressa após ressoar nas paredes ou no contexto das lutas de comadres partidárias, enquanto isso morres de fome, vergonha e desespero.

Não debates política porque cada um tem a sua ideia e ideias não se debatem, respeitam-se. E o que interessa é a integridade dos 500 milhões, desse mercado que observas sempre que olhas para o parque automóvel que representa os países onde se origina, e não há pavão português que não tenha um Mercedes ou BMW, como forma de projectar o seu prestígio para os observadores.

Serves apenas para fazer número e nada mais almejas que não isso, português.

7)Quem vai perdoar a quem nos lançou nesta situação idílica, e nos tirou a voz, que não fosse a do coma narcoléptico em que caímos?

8) Porque é que esta auto intitulada ‘Europa dos cidadãos’ não organizou um único acto democrático de sufrágio em território nacional?

Sim, gostaste da ilusão de te sentires moderno, válido, confortável, de igual para igual com os outros.

A Europa lançou dinheiro a rodos, milho, para dentro da vedação. Obras de modernização, que foram ganhas maioritariamente por empresas originárias dos países que mais contribuíam para o orçamento comunitário, financiando assim indirectamente as suas economias, um pouco como o Estado financia as empresas privadas através do IEFP, formando os trabalhadores poupando desse encargo as empresas, e ainda pagando parte dos ordenados, às empresas sempre necessitadas dos empregados subsidiados.

Calma português, não te apouquentes. Não é caso para isso.

Viste esses fundos consolidar uma classe média e alta corruptas, vivendo como sempre do expediente, das ‘políticas de transporte’ e do import-export; vise estas classes tornarem-se apátridas, e nada fizeste senão exigir o direito a futebol, novelas, deixaste desmantelar a coluna vertebral da República, a Educação, porque uma sereia te cantou que assim o ensino ficaria melhor, e seríamos mais competitivos. Acalentaste a ideia de dar vantagem ao teu filho e filha através da exclusividade, em colégios privados de lucros mas públicos no financiamento, tal como as cooperativas de ensino superior em que regra geral a qualidade é diminuta comparada com a exposição mediática, decorrente com a facilidade de concessão de gruas e passagens administrativas. E falaram-te em rigor no ensino, não para os alunos mas para os professores que em breve acumularam para ordenados diminuídos, a função de instruir, educar e aliviar a frustração dos teus filhos.

Culpas sempre as forças revolucionária desde 1976, quando votas anos após ano, há 40 anos, nas mesmas elites partidárias que te conduziram a 3 intervenções externas e à situação de divída e soberania de papel.

Como é possível legitimares através de voto eleições indirectas viciadas, para que ganhem os mesmos inaptos e despojados de coluna vertebral, os encantadores de serpentes, ilusionistas?

Como podes tu continuar após 40 anos a votar sempre em funcionários dos partidos?

Como podes tu eleger como teu representante o mais prolongado político nacional no exercício do poder, com responsabilidades directas na situação actual?

Como podes tu deixar alienar património público, nacional, sob o epíteto da divida pública quando na Europa há países mais endividados que Portugal e que não permitem que isso aconteça com eles?

Bravo português. Será que alguma vez te vais perdoar?

E o que vais fazer a todos aqueles que vivem, defendem, e contribuíram para este estado de sujeição? Vais votar neles?

Que vais fazer aos milhares que vivem de expedientes, que defendem uma sociedade impessoal e anónima, os operadores de crédito, os cobradores, os empresários de vão de escada, a legião dos serviços de subcontratação, dos coffe breaks, debrifiengs e casual Fridays, que acham finérrimo comer no Rock planet e tirar umas selfies?

Que vais fazer a toda esta filigrana social e económica que se agarrou como lapa ao casco submerso do navio, que o acompanha em direcção ao fundo a encoberto das variáveis águas em que zarpa?

Não os podes matar. Não podes deportar esta força de bloqueio. Também não os podes elucidar, ou fazer mudar de ideias, eles vão continuar a mijar no teu quintal só porque não gostam de ti ou dos teus cravos.

Tens de os tratar como doentes, como heroinómanos agarrados à droga do seu conforto e do seu umbigo.

Tens que trabalhar sim nas massas, sempre ansiosas da sua ascensão social, retira-lhes esse comportamento ovino, com a diluição das classes sociais ou de um escalonamento meritocrático. Não tenhas medo que ninguém morre ou nada pára.

Alguns dizem que só a generalização do mal estar pode criar o momentum para a revolução violenta. Mas duas perguntas se colocam, e são:

a)      Como lidar com o facto de que a mudança de postura dos conservadores, se depender do seu bem estar material, implica a morte de largas camadas da população, porque quem acumulou riqueza acha-se dela merecedor e inimigo de uma sociedade estritamente igualitária?

b)      Uma suposta mudança de posições poderá ser genuína, ou como sempre um cavalgar da onda, na qual a um processo revolucionário sempre se segue um processo contra revolucionário, em função da mesma manutenção das classes sociais privilegiadas, um pouco como é observado em toda a História de Portugal?

Imagina português que te dedicas a pensar nisto, e decides querer sair do redil onde te enfiaste.

Em meia dúzia de horas tinhas uma mão cheia de tanques vogando em linha recta de Madrid a Lisboa, para liquidar os separatistas, e implementar de novo uma democracia mais favorável.

Vais, de novo, ter de esperar que alguma grande nação te reconheça o direito à autodeterminação, pela qual terás de pagar copiosamente como sempre até que um dia seja celebrado como feriado nacional, até que algum governante se lembre de o abolir por ir contra a produtividade de uma qualquer argolada em que te tenhas enfiado de novo.

Nunca vais sair da cepa torta, português. O teu apego ao conforto é literalmente a razão da tua miséria.

E o teu fraco amor por ti mesmo leva a pensar que se calhar, és a única pátria amaldiçoada por si mesma.

...

Posição País Dívida externa dados Per capita e percentagem do PIB em US dollars
— Mundo (Total) 59,090,000,000,000 31 Dezembro 2010 est. 8 731 95%


1 Estados Unidos 14,392,451,000,000 30 Setembro 2010 46,577 97%— 14,166,135,000,000 3/4 de 2010 43,11 120%

Zona Euro
— 13,720,000,000,000 30 Junho 20108 27,382 83%

União Europeia
 
2 Reino Unido 8,981,000,000,000 30-jun-10 144,757 398%
3 Alemanha 4,713,000,000,000 30-jun-10 57,646 143%
4 França 4,698,000,000,000 30-jun-10 74,41 188%
5 Holanda 2,344,296,360,000 terceiro trimestre de 2010 226,503 344%
6 Japão 2,246,000,000,000 30-jun-10 17,546 51%
7 Noruega 2,232,000,000,000 30 Junho 2010 113,174 861%
8 Itália 2,223,000,000,000 30 Junho 2010 est. 39,234 124%
9 Espanha 2,166,000,000,000 30-jun-10 52,588 157%
10 Irlanda 2,131,000,000,000 30 Junho 2010 11 515,671 1224%
11 Luxemburgo 1,892,000,000,000 30 Junho 2010 12 4,028,283 4636%
12 Bélgica 1,275,601,020,000 3/4 de 2010 126,188 322%
13 Suíça 1,190,000,000,000 30-jun-10 182,899 364%
14 Austrália 1,169,000,000,000 31 Dezembro 2010 est. 42,057 131%
15 Canadá 1,009,000,000,000 30-jun-10 24,749 75%
16 Suécia 853,300,000,000 30-jun-10 72,594 241%
17 Áustria 755,000,000,000 30-jun-10 97,411 226%
— Hong Kong 754,631,000,000 3/4 de 2010 92,725 233%
18 Dinamarca 559,500,000,000 30-jun-10 110,216 274%
19 Grécia 532,900,000,000 30-jun-10 49,525 165%
20 Portugal 497,800,000,000 30-jun-10 47,632 201%
21 Rússia 480,200,000,000 30 Novembro 2010 est. 2,611 21%
22 República Popular da China 406,600,000,000 31 Dezembro 2010 est. 301 7%
23 Finlândia 370,800,000,000 30-jun-10 68,18 200%
24 Coreia do Sul 370,100,000,000 31 Dezembro 2010 est. 29,842 25%
25 Brasil 310,800,000,000 31 Dezembro 2010 est. 1,129 14%
26 Turquia 270,700,000,000 31 Dezembro 2010 est. 3,884 45%
27 Polónia 252,900,000,000 31 Dezembro 2010 est. 5,279 47%
28 Índia 237,100,000,000 31 Dezembro 2010 est. 187 18%
29 México 212,500,000,000 31 Dezembro 2010 est. 1,646 20%
30 Indonésia 155,900,000,000 31 Dezembro 2010 est. 651 28%
31 Hungria 134,600,000,000 31-dez-10 11,667 70%
32 Argentina 128,600,000,000 31 Dezembro 2010 est. 2,706 35%
33 Emirados Árabes Unidos 122,700,000,000 31 Dezembro 2010 est. 26,202 56%
34 Islândia 124,090,000,000 3/4 de 2010 10,67 35%
35 Roménia 108,900,000,000 31 Dezembro 2010 est. 4,459 59%
36 Ucrânia 97,500,000,000 31 Dezembro 2010 est. 2,275 90%
37 Cazaquistão 94,440,000,000 31 Dezembro 2010 est. 5,987 85%
38 República da China 91,410,000,000 31 Dezembro 2010 est. 3,452 21%
39 Israel 89,680,000,000 31 Dezembro 2010 est. 11,649 43%
40 República Checa 86,790,000,000 31 Dezembro 2010 est. 7,318 39%
42 Chile 84,510,000,000 31 Dezembro 2010 est. 3,586 43%
43 Arábia Saudita 82,920,000,000 31 Dezembro 2010 est. 2,839 20%
44 Tailândia 82,500,000,000 31 Dezembro 2010 est. 990 25%
45 África do Sul 80,520,000,000 30-jun-10 1,497 26%
46 Qatar 71,380,000,000 31 Dezembro 2010 est. 51,856 75%
47 Nova Zelândia 191,008,000,000 Dezembro 2010 16 33,418 127%
48 Malásia 62,820,000,000 31 Dezembro 2010 est. 1,738 25%
49 Filipinas 61,850,000,000 31 Dezembro 2010 est. 576 33%
49 Colômbia 61,777,400,000 3rd quarter of 201017 1,052 21%
50 Croácia 59,700,000,000 31 Dezembro 2010 est. 13,39 94%
51 Eslováquia 59,330,000,000 30-jun-10 9,706 55%
52 Paquistão 57,210,000,000 31 Dezembro 2010 est. 318 31%
53 Kuwait 56,810,000,000 31 Dezembro 2010 est. 9,191 29%
54 Venezuela 55,610,000,000 31 Dezembro 2010 est. 1,517 13%
55 Iraque 52,580,000,000 31 Dezembro 2010 est. 1,61 76%
56 Eslovénia 51,570,000,000 30-jun-10 27,282 112%
57 Malta 41,020,000,000 30-jun-10 9,08 45%
58 Sudão 37,980,000,000 31 Dezembro 2010 est. 927 66%
59 Letónia 37,280,000,000 31 Dezembro 2010 est. 16,811 145%
60 Bulgária 36,150,000,000 31 Dezembro 2010 est. 6,511 105%
61 Líbano 34,450,000,000 31 Dezembro 2010 est. 5,473 63%
62 Vietname 33,450,000,000 31 Dezembro 2010 est. 355 34%
63 Peru 33,290,000,000 31 Dezembro 2010 est. 1,032 24%
64 Chipre 32,860,000,000 31 Dezembro 2008 est. 41,648 129%
65 Sérvia 32,310,000,000 31 Dezembro 2010 est. 4,297 74%
66 Egipto 30,610,000,000 31 Dezembro 2010 est. 371 15%
67 Lituânia 27,600,000,000 31 Dezembro 2010 est. 10,924 98%
68 Bielorrússia 24,800,000,000 31 Dezembro 2010 est. 3,007 57%
69 Bangladesh 24,460,000,000 31 Dezembro 2010 est. 141 25%
70 Marrocos 22,690,000,000 31 Dezembro 2010 est. 633 22%
71 Estónia 22,125,000,000 31 Dezembro 2010 est. 16,51 114%
72 Singapura 21,660,000,000 31 Dezembro 2010 est. 4,042 11%
73 Cuba 19,750,000,000 31 Dezembro 2010 est. 1,698 34%
74 Tunísia 18,760,000,000 31 Dezembro 2010 est. 1,5 39%
75 Monaco 18,000,000,000 2000 est. 565,043
76 Angola 17,980,000,000 31 Dezembro 2010 est. 741 19%
77 Sri Lanka 17,970,000,000 31 Dezembro 2010 est. 961 47%
78 Guatemala 17,470,000,000 31 Dezembro 2010 est. 534 20%
79 Equador 14,710,000,000 31 Dezembro 2010 est. 941 23%
80 Bahrain 14,680,000,000 31 Dezembro 2010 est. 10,462 54%
81 Panamá 13,850,000,000 31 Dezembro 2010 est. 3,475 49%
82 Uruguai 13,390,000,000 31 Dezembro 2010 est. 3,77 40%
83 República Dominicana 13,090,000,000 31 Dezembro 2010 est. 1,312 25%
84 Irão 12,840,000,000 31 Dezembro 2010 est. 166 3.7%
85 Jamaica 12,660,000,000 31 Dezembro 2010 est. 4,26 97%
86 Coreia do Norte 12,500,000,000 2001 est. 582
87 Costa do Marfim 11,600,000,000 31 Dezembro 2010 est. 565 54%
88 El Salvador 11,450,000,000 31 Dezembro 2010 est. 1,976 55%
89 Nigéria 11,020,000,000 31 Dezembro 2010 est. 64 6%
90 Costa Rica 9,126,000,000 31 Dezembro 2010 est. 1,744 27%
91 Omã 8,829,000,000 31 Dezembro 2010 est. 2,522 14%
92 Bósnia e Herzegovina 7,996,000,000 31 Dezembro 2010 est. 2,102 49%
93 Quénia 7,935,000,000 31 Dezembro 2010 est. 215 24%
94 Síria 7,682,000,000 31 Dezembro 2010 est. 374 15%
95 Tanzânia 7,576,000,000 31 Dezembro 2010 est. 174 32%
96 Iémen 7,147,000,000 31 Dezembro 2010 est. 264 25%
97 Myanmar 7,145,000,000 31 Dezembro 2010 est. 123 27%
98 Gana 6,483,000,000 31 Dezembro 2010 est. 253 38%
99 Líbia 6,378,000,000 31 Dezembro 2010 est. 1,025 11%
100 Bolívia 6,130,000,000 31 Dezembro 2010 est. 523 30%
101 Zimbabwe 5,772,000,000 31 Dezembro 2010 est. 496 132%
102 Jordânia 5,522,000,000 31 Dezembro 2010 est. 1,121 29%
103 Macedónia 5,520,000,000 31 Dezembro 2010 est. 2,648 59%
104 Arménia 5,227,000,000 30-jun-10 1,368 51%
105 Maurícia 5,043,000,000 31 Dezembro 2010 est. 3,565 52%
106 República Democrática do Congo 5,000,000,000 2000 est. 1,722 155%
107 Turquemenistão 5,000,000,000 2009 est. 934 31%
108 Moçambique 4,990,000,000 31 Dezembro 2010 est. 197 42%
109 Nepal 4,500,000,000 2009 161 36%
110 Paraguai 4,346,000,000 31 Dezembro 2010 est. 513 22%
111 Camboja 4,338,000,000 31 Dezembro 2010 est. 298 38%
112 Trinidad e Tobago 4,303,000,000 31 Dezembro 2010 est. 1,589 10%
113 Congo, Democratic Republic  4,300,000,000 2009 est. 164 100%
114 Etiópia 4,289,000,000 31 Dezembro 2010 est. 51 13%
115 Uzbekistan 4,236,000,000 31 Dezembro 2010 est. 130 11%
116 Moldova 4,146,000,000 31 Dezembro 2010 est. 1,113 73%
117 Algeria 4,138,000,000 31 Dezembro 2010 est. 97 2%
118 Nicaragua 4,030,000,000 31 Dezembro 2010 est. 743 76%
119 Senegal 3,885,000,000 31 Dezembro 2010 est. 216 22%
120 Kyrgyzstan 3,738,000,000 30-jun-10 653 68%
121 Honduras 3,540,000,000 31 Dezembro 2010 est. 423 23%
122 Zambia 3,495,000,000 31 Dezembro 2010 est. 277 25%
123 Georgia 3,381,000,000 31-dez-09 771 31%
124 Cameroon 3,344,000,000 31 Dezembro 2010 est. 147 13%
125 Azerbaijan 3,221,000,000 31 Dezembro 2010 est. 269 6%
126 Libéria 3,200,000,000 2005 est. 930 606%
127 Laos 3,085,000,000 2009 est. 484 55%
128 Guinea 3,072,000,000 31 Dezembro 2009 est. 290 70%
129 Somália 3,000,000,000 2001 est. 393
130 Madagáscar 2,973,000,000 31 Dezembro 2010 est. 99 24%
131 Benin 2,894,000,000 31 Dezembro 2009 est. 135 22%
134 Uganda 2,888,000,000 31 Dezembro 2010 est. 62 13%
135 Mali 2,800,000,000 2002 240 84%
136 Afeganistão 2,700,000,000 2008 96 23%
137 Gabon 2,374,000,000 31 Dezembro 2010 est. 2,078 28%
138 Namíbia 2,373,000,000 31 Dezembro 2010 est. 569 13%
139 Botswana 2,222,000,000 31 Dezembro 2010 est. 910 14%
140 Niger 2,100,000,000 2003 est. 178 79%
141 Burkina Faso 2,002,000,000 31 Dezembro 2010 est. 128 23%
142 Tajikistan 1,997,000,000 31 Dezembro 2010 est. 260 34%
143 Mongólia 1,860,000,000 2009 690 44%
144 Chad 1,749,000,000 31 Dezembro 2008 est. 177 27%
145 Serra Leoa 1,610,000,000 2003 est. 311 163%
146 Albania 1,550,000,000 2004 497 21%
147 Papua Nova Guiné 1,548,000,000 31 Dezembro 2010 est. 366 29%
148 Seychelles 1,374,000,000 31 Dezembro 2010 est. 14,706 163%
149 Malawi 1,213,000,000 31 Dezembro 2010 est. 78 24%
150 Burundi 1,200,000,000 2003 167 202%
151 Central African Republic 1,153,000,000 2007 est. 270 68%
— Cisjordânia 1,300,000,000 2007 est. 552
152 Belize 1,010,000,000 2009 est. 2,982 70%
153 Guiné-Bissau 941,500,000 2000 est. 722 203%
154 Bhutan 836,000,000 2009 1,239 66%
155 Equatorial Guinea 832,000,000 31 Dezembro 2010 est. 136 1%
156 Guyana 804,300,000 30 September 2008 1,049 42%
157 Barbados 668,000,000 2003 2,456 25%
158 Montenegro 650,000,000 2006 939 24%
159 Lesotho 647,000,000 31 Dezembro 2010 est. 233 36%
160 Maldivas 589,000,000 2009 est. 1,707 43%
161 Gâmbia 530,000,000 31 Dezembro 2010 est. 438 170%
162 Suriname 504,300,000 2005 est. 1,011 28%
163 Suazilândia 497,000,000 31 Dezembro 2010 est. 520 18%
164 Haiti 494,000,000 31 Dezembro 2010 est. 48 7%
165 Saint Vincent and the Grenadines 479,000,000 2010 2,084 54%
— Aruba 478,600,000 2005 est. 4,935 21%
166 Djibouti 428,000,000 2006 573 56%
167 Antigua and Barbuda 359,800,000 jun-06 4,388 36%
168 Grenada 347,000,000 2004 3,402 74%
169 Bahamas 342,600,000 2004 est. 1,067 6%
170 Cabo Verde 325,000,000 2002 722 53%
171 São Tomé e Príncipe 318,000,000 2002 2,193 349%
172 Saint Kitts and Nevis 314,000,000 2004 6,408 79%
173 Eritrea 311,000,000 2000 est. 87 44%
174 Saint Lucia 257,000,000 2004 1,586 32%
176 Comoros 232,000,000 2000 est. 420 115%
177 Dominica 213,000,000 2004 3 75%
178 Samoa 177,000,000 2004 994 47%
179 Ilhas Salomão 166,000,000 2004 355 44%
— Bermudas 160,000,000 FY99/00 2,56
— Ilhas Cook 141,000,000 1996 est. 7,756
180 Fiji 127,000,000 2004 est. 150 5%
181 Marshall Islands 87,000,000 2008 est. 1,377 54%
182 Vanuatu 81,200,000 2004 383 22%
183 Tonga 80,700,000 2004 791 33%
— Nova Caledónia 79,000,000 1998 est. 404
— Ilhas Cayman 70,000,000 1996 2,078
— Ilhas Feroé 68,100,000 2006 1,409
184 Micronésia 60,800,000 FY05 est. 563
— Gronelândia 58,000,000 2009 1,007
— Ilhas Virgens Britânicas 36,100,000 1997 1,897
185 Nauru 33,300,000 2004 est. 2,599
186 Kiribati 10,000,000 1999 est. 120 14%
— Montserrat 8,900,000 1997 14,958
— Anguilla 8,800,000 1998 818
— Wallis e Futuna 3,670,000 2004 244
— Niue 418 2002 est. 196
187 Brunei 0 2005 0 0%
188 Liechtenstein 0 2001 0
— Macau 0 2009 0 0%
189 Palau 0 FY99/00 0

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Cigarras e Formigas I

10/17/2013

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I

Da muita cultura reaccionária que podemos rememorar, a mais insidiosa e perigosa, está nos contos infantis.

O mais atávico para mim é o da cigarra e da formiga.

Quando era miúdo, uma das histórias que mais me intrigava e irritava ao mesmo tempo era a da cigarra e a da formiguinha.

Nela uma cigarra cantava no Verão enquanto a formiga labutava e a tempos avisava a cigarra de que o Inverno se aproximava, e depois não teria que comer, ao que a cigarra respondia com jactância vivendo a vida com alegria e cantoria alheia ao planeamento logístico avançado da formiga. Chega a altura em que a fábula moral se conclui com a desgraçada cigarra morrendo de fome e frio e a formiga soberba a acolhe e dá de comer após a sentença moral de que como a cigarra lhe alegrara o Verão, merecia permanecer viva.

Ainda hoje não sei porque me irritava.

Munido da moralidade fundamentalista que só as crianças podem ter, julgava a cigarra como inconsciente apesar de não perceber como era tão castigada na entoação de quem me contava a história apenas por se dedicar aos vícios do canto em dias de Verão. Que devassidão nesse ser dedicado ao pecado do canto e da preguiça.

Outro dos significados implícitos, destinados a educar as crianças, era a da recompensa do trabalho árduo estival, frutificado no Inverno, com imagens de uma formiga com comidinha e no quentinho do seu lar. Os adultos pareciam dizer-nos que ‘trabalha agora para teres depois’ além de que ‘as costas ao alto depois dão sobressalto’. A fábula pretende sublinhar a previdência, o planeamento, e a visão realista sem deslumbramento da existência. Um ‘caute’ espinosiano.

II

Irritava-me talvez por causa da sujeição da cigarra à vontade da providente formiga, avisada que fora a tempo, e por não compreender que alegria intoxicante pode haver em cantar dias a fio, de molde a arriscar a vida e a dignidade ao ponto de se esquecer que no Inverno teria de comer o que produziria no Verão. Julgava assim a negligente cigarra não a compreendendo.

Estava no poder da cigarra evitar pedir e arriscar a vida. Não o fez. Era acima de tudo isso e aquilo que era a sua burrice (para mim) de não fazer o que fazem as respeitáveis formigas.

Ora há uma sabedoria mais fatal na atitude da cigarra que aparenta à  1ª vista.

A cigarra não é negligente, é reactiva. Ela sabe que se não trabucar não pode manducar, o que ela faz é negar o mundo de trabalho, o mundo de necessidade e esforço autotélico das formiguinhas. Mesmo que cantasse para atrair machos ou fêmeas, ou pelo gosto de cantar, hoje parece-me bem mais razoável que a formiga, autómata, a cigarra aproveita a vida a formiga safa-se nela. Vive no Inverno do trabalho acumulado no Verão, cumpre metodicamente o seu objectivo egoísta, a outra entrega-se a apreciar a vida. Rejeita e depois sujeita-se, e esse é o único motivo que degrada a cigarra, aceitar o que havia rejeitado.

A formiga não tem por onde se lhe pegar. Exerce a sua provisão abnegadamente, ciente de um mundo de escassez,  encerrada no seu propósito e culmina numa lição de moral de capela condoída de escrúpulos de última hora perante aquela que laborara afinal de forma diferente. Sabendo que cantar também é trabalho, porque insiste no sermão a formiga?

Para castigar outro ser que se havia dedicado a apreciar a vida em grupo e não no privado Inverno de chinelos  da formiguinha.

É a vida contemplativa que é castigada.

III

A fábula moral ensina desde cedo que a censura apenas opera num sentido.

Só a formiga, ente colectivo e despersonalizado, semelhante a milhares de tantas outras tem o poder de censurar, de deitar postas de pescada, avisos e reprovações. A formiga acima de tudo ensina-nos a segurança da igualdade. A esperteza de esperar recompensa se jogarmos pelas regras. A virtude de um autosacrificio em nome próprio, mais profundo ainda, o valor do calculismo de pendor  imediato e prático, a chico esperteza.

Esta adequação bovina às leis e esperança por recompensa está no núcleo do carácter conservador e atávico de grandes massas populacionais.

Joguemos pelo seguro. Não sejamos parvos ou levianos. Respeitemos a ordem milenar da abnegação.

Acontece que desde que se optou por um regime republicano estruturado em democracia, ou em algo parecido, que se vive num sistema cuja definição implica a força da maioria em submeter a globalidade social ao seu desígnio. Um dos grandes logros da civilização europeia está em fazer acreditar que a maioria (  a soma numérica de cabeças) pensa melhor que as minorias, e que a maioria obedece a um critério de justiça no qual o interesse do maior número reina sobre os interesses particulares. Só uma formiguinha embriagada acreditaria nisto. A cigarra consciente canta para não rever esta ingenuidade.

Quando se observa calmamente o cidadão português nosso próximo, e se esmiúça a sua forma de pensar e encarar o mundo, ficamos com a ideia que deveríamos cometer seppuku.

As pessoas que decidem por mim, não são mais esforçadas, mais esclarecidas, ou mais preocupadas com o bem estar geral, que eu. Pelo contrário. Fazem da ovinidade uma arte, esvoaçam ligeiramente pelo frívolo, e rejeitam a responsabilidade que um republicano deve abraçar. Não cometeria o pecado de me identificar com os ‘melhores’ não fosse o facto de achar que estes maioritários de que falo são mesmo do pior.

Confirmo-o em cada manobra perigosa da estrada ou falta de civismo defendida com galhardia, ou na exposição da mundividência mediante a qual a esperteza, a previdência comezinha e anafada do Inverno que se aproxima, tolhem  a visão de um futuro mais prolongado. Não sabe o vulgo viver em comunidade nem organizar o futuro, a sua organização é de vista curta e extremamente materialista.Não tem portanto, virtude.

Tenho eu de me submeter ao voto de quem exulta com ‘reality shows’ e defende o seu direito a estacionar em 2ª fila perante mim, e se desculpabiliza e corrige de imediato se por acaso é a polícia a alertar para o mesmo facto? Este último facto é importante, o que está em causa não é a natureza da ofensa mas a origem da chamada de atenção.Eu não sou ninguém, não apresento ameaça, nem tenho «autoridade» ou dever de chamar a atenção a ninguém. A populaça só acha que pode ser chamada à atenção por alguém que considere superior ou aos que podem trazer sarilhos para a sua excitante vida.

Revela-se portanto uma preocupação em levar uma vida fácil e folgada, sem chatices e torcendo as circunstâncias em benefício próprio, rejeitando a intervenção civíca do próximo.  Experimente o caro leitor solicitar a alguém para apanhar o papel que acabou de deitar para o chão ou para trocar o jogo de futebol pela assembleia de freguesia. É esta mentalidade que nos define como maioria e que nos submete à sua superior sapiência.

Agora que um curso superior já não dá emprego valorizável e certo, que devem os mais esclarecidos fazer? O que fazer com tanta bibliografia devorada, e tanto pensamento elaborado? Ceder à imediaticidade e à prática? Quem as determina? Quem são os líderes partidários senão os mais motivados nas jogadas de bastidores e ao completo arrepio de existência de coluna vertebral efectiva? Estes são os premiados pela nossa democracia, os covardes, os sabujos, os que apenas se sabem safar num meio artificial endógeno, a ‘política’.

Tenho eu de me submeter ao grunho para ser governado pelo bufo incompetente?

A própria instrução não é sinónimo de esclarecimento, pois conheço muita gente com doutoramentos e pós doutoramentos que por causa do título acham que podem falar de assuntos sobre os quais nada percebem.

Sentem-se autorizados, e aqui o termo é mesmo AUCTORITAS, pela obtenção de uma distinção artificial, cuja pompa é real. Foi este sentimento que levou a um surto demográfico de graus académicos na política sem melhorias assinaláveis na sua forma de exercício. Muito titular de graus académicos, é poeta estando calado.

IV

Desde que me lembro do Tratado de Methuen dado no preparatório e revisto no secundário que me pergunto sobre a utilidade da História na tomada de decisão do presente. Como foi possível chegarmos a colonato inglês, como foi possível passar alguns verões cantando e quase morrer de fome nos seguintes invernos. Que condições seriam essas que deixaram os ébrios de então prejudicar tanto a pátria?

Mais espanto sinto hoje em dia pelo logro pior da camisa de forças em que estamos, bem pior que o Tratado de Methuen. E sempre houve gente disso consciente, então, como agora há sempre alguém com lucidez. Eu humildemente sempre informei os meus próximos sobre a importância de estarmos atentos, da militância política sistemática, de se comprar produtos nacionais bem como da importância teimosa de autonomia a arrepio de tudo e todas as pressões.

Nos tempos em que entravam mais milhões da Europa que jactos espanhóis em espaço aéreo nacional, ninguém ou quase ninguém queria saber, era a Expo 98, o Euro, as cidades da cultura e as casa da música, era o melhor dos mundos e havia tanto plasma tft para comprar. Havia viagens para fazer, olhos da Maddie e solidariedade para com Timor para meter nas janelas junto da bandeira da selecção nacional de futebol. Eu e outros vimos isto e alertámos os semelhantes. Os que se estão a borrifar, os grunhos e os próprios jotas e sabujos partidários.

A grande ideia que se deixa é portanto a de que as minorias da população que podem ser úteis à maioria são sistemática e convenientemente alheadas de tomadas de decisão e limitadas a um espaço de manobra nulo . A mediocridade vence e uniformiza.

A servidão voluntária de La Boétie nunca foi tão actual como agora. As pessoas vivem de acordo com as regras que se lhe apresentam, tornando-se assim o instrumento da sua menoridade e de todos aqueles que podem contribuir para uma hipotética libertação.

Enquanto quisermos fazer a right thing e ser os alunos bem comportados da Europa e do mundo, os pacóvios que sempre fomos, não vale a pena sonhar com liberdade. Resta-nos assumir o papel de cigarra cantando e os males espantando agarrados a um tronco de oliveira pesarosos, pois vamos sempre estar dependentes das formigas que nos causam tanta angústia mas que no fim acabam por nos alimentar com o pão da náusea, pois só existe um sistema com as massas, e são elas que cilindram a evolução social ao sabor de cânticos acéfalos e efémeros.

Cantemos irmãos.

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